18/01/2024 22h10
Num mundo bruto, fragilidade é crime.
Num mundo que exige da gente força, firmeza, certezas, razão, não fraquejar, jamais retroceder, sou um revolucionário, um distópico, rebelde com causa.
Sou frágil, sou falível, erro muito e não tenho vergonha de dizer não sei.
Só sei que nada sei, como dizia Sócrates e procuro aprender ao máximo.
Mas tem coisas que a gente não aprende nunca.
Por exemplo, não compreendo por que tanta arrogância, tanta autoconfiança exacerbada.
Porque o nariz em pé, essa empáfia, essa superioridade baseada na condição financeira, na posição social, na procedência familiar?
Supremacia da raça? Supremacia religiosa? Como assim?
Os regimes de força almejam um mundo perfeito ao seu feitio. Já houve um tempo em que os ingênuos, os frágeis, os velhos, mulheres, inocentes eram levados para porões, fechados e eliminados por gás. Depois eram amontoados em valas comuns, seres humanos imperfeitos, imprestáveis que não tem lugar num mundo de fortes.
A sacralidade do corpo, da vida humana, a irmandade proposta por Cristo, ´é constantemente desrespeitada por líderes doentios, que usam a imagem do salvador e refazem seu avatar, de um homem simples que falava de amor e tolerância, para um Jesus moralista e punitivo.
Pois somos nada nesse mundo que nem nos pertence. Vamos passar aqui um tempo, de favor.
Meu Deus, quando prepotência por poderes tão passageiros.
Homem chorar? Se o time perdeu, tudo bem(rs). Mas chorar por causa de amor, por que se sensibilizou por saudade ou porque viu o carinho de uma pessoa que acolheu um cãozinho abandonado é imperdoável. Ah esses novos tempos em que demonstrar fragilidade é coisa de maricas.
Nem as mulheres podem mais.
Tem um tal de empoderamento feminino. Nada de mulheres sensíveis, femininas.
A onda agora é mulher muay thai, que sabe atirar e dar porrada.
Mulheres cujos cérebros glúteos mandam no mundo.
E nada do amor romântico, nada de mimos, de flores.
O negócio é tchaca na butchaca, soca soca e taca taca.
Fico aqui pensando no grande Saramago, que propunha que integrássemos a tribo da sensibilidade, pra tentar fazer frente a invasão bárbara.
A tribo foi dizimada. Morreu a sensibilidade, a poesia.
Sobrevivem as tribos dos broncos, dos ignorantes voluntários, dos machos e das machas.
Até temos de concordar que em tempos de guerra, os fortes são mais necessários.
Mesmo assim são comandados por quem tem intelecto.
Mas o comandante tem de ser mais antifrágil ainda, pra dar exemplo.
E a fragilidade de que falo, a todos acomete. Só que as pessoas fingem uma segurança que não tem.
Por que estamos todos por um fio. Nossa pele não cerca balas, flechas ou porradas.
Nossa fragilidade é mais grave do que possamos imaginar.
Não temos quase poder nenhum diante de forças da natureza que nem conhecemos.
Um meteorozinho mequetrefe pode aniquilar a humanidade e a vida no planeta e apagar todas a história.
Mesmo assim nos arrogamos e sonhamos em conquistar o universo( antes estamos ocupados em destruir o planeta).
Somos formigas que rugem, amebas grandiloquentes.
Nossa imbecilidade a ambição são quase psicóticas, estratagemas pra tentar escapar da mão pesada da morte, que a todos nivela...