Compartilhe

<p> <strong>ENQUANTO ISSO NAQUELA ACADEMIA</strong></p> <p> - O que voc&ecirc; est&aacute; ouvindo?</p> <p> - Ahn? Ah... estou ouvindo funk.</p> <p> - Nossa. Eu deteeesto funk.</p> <p> - &Eacute; mesmo? Eu n&atilde;o tenho nada contra!</p> <p> - Ih... ningu&eacute;m merece.&nbsp; Isso pra mim n&atilde;o &eacute; musica</p> <p> - Uai... tem compasso, tem melodia, harmonia. E &eacute; bom de dan&ccedil;ar.</p> <p> - Ah...pelo amor de Deus. Vai me desculpar, mas funk n&atilde;o &eacute; m&uacute;sica.</p> <p> - Baita preconceito seu.</p> <p> - O que &eacute; isso. Funk n&atilde;o tem ra&iacute;z... n&atilde;o tem hist&oacute;ria.</p> <p> - A&iacute; &eacute; que vc se engana. Tem hist&oacute;ria, tem vida, tem arte ali.</p> <p> - Arte? Com essas letras indecentes, cheias de erros de portugu&ecirc;s?</p> <p> - Besteira. Os Manonas tamb&eacute;m eram indecentes. Falavam de suruba e cabelo do saco e todo mundo achava engra&ccedil;ado.</p> <p> - Ah... mas n&atilde;o d&aacute; pra comparar. Os Mamonas eram...</p> <p> - Eram brancos n&eacute;? Eram de classe m&eacute;dia. Preconceito puro!</p> <p> - Espere a&iacute;. N&atilde;o &eacute; nada disso. N&atilde;o tenho nada contra os negros. N&atilde;o tenho preconceito de cor.</p> <p> - Olha s&oacute;. Quando apareceu o samba, a elite da &eacute;poca queria proibir.</p> <p> Com o Rock aconteceu a mesma coisa. Fizeram passeata contra a guitarra el&eacute;trica. Agora &eacute; a vez do funk.</p> <p> - Ah...mas o funk eu sou a favor de proibir...n&atilde;o aguento esse pessoal que passa com som alto de madrugada tocando funk.</p> <p> - E sertanejo pode? Por que eu vi uma turma passando tocando Eduardo</p> <p> Costa e eu odeio Eduardo Costa. Vamos proibir o sertanejo tamb&eacute;m por causa disso?</p> <p> - Mas o funk &eacute; m&uacute;sica do capeta. O Pastor falou l&aacute; na igreja. N&atilde;o &eacute; coisa de Deus.</p> <p> - Que bobagem.&nbsp; O Funk &eacute; apenas um ritmo. E &eacute; meio de vida pra muita gente mesmo. Abriu oportunidade pra turma da periferia se expressar, juntamente com o Rap e o Hip hop.&nbsp; Custo a acreditar que algu&eacute;m pode querer proibir uma cultura.</p> <p> - Mas funk n&atilde;o &eacute; m&uacute;sica de gente normal. &Eacute; s&oacute; de traficante e de favelado.</p> <p> - Mais um engano seu. N&atilde;o tem uma festa hoje em que a galera n&atilde;o pe&ccedil;a funks no repert&oacute;rio. E a turma solta as frangas pra valer. As morenas, as loirinhas, todo mundo descendo at&eacute; o ch&atilde;o.</p> <p> - T&aacute; vendo? S&oacute; sexo, sensualidade, banaliza&ccedil;&atilde;o do corpo feminino.</p> <p> - E era diferente com o Ax&eacute;? As meninas e at&eacute; os homens desciam na boquinha da garrafa sem medo de qualquer ju&iacute;zo de valor.</p> <p> - Engra&ccedil;ado. Achei que voc&ecirc; fosse rockeiro.</p> <p> - Continuo&nbsp; gostando de rock. Mas quer saber? Acho que o funk ocupou a cabe&ccedil;a do jovem e o rock virou m&uacute;sica de velho.&nbsp; O funk tem apresentado mais ousadia e inova&ccedil;&otilde;es do que o rock, que continua vivendo dos &iacute;dolos do passado. O funk oferece a promessa do sexo livre, da dan&ccedil;a, da liberdade que os jovens buscam. O rock ficou gag&aacute;.</p> <p> - Por essa eu n&atilde;o esperava.</p> <p> - O que?</p> <p> - Eu gosto de rock. Voc&ecirc; me chamou de velha.</p> <p> - De jeito nenhum. Voc&ecirc; &eacute; novinha. S&oacute; precisa relaxar um pouco...</p> <p> -E o que eu tenho de fazer?</p> <p> - &Eacute; simples... s&oacute; aprender a quicar, a sentar e descer at&eacute; o ch&atilde;o.</p> <p> - Que indec&ecirc;ncia, meu Deus...</p> <p> - E vai dizer que n&atilde;o gosta?</p> <p> - Gostar eu gosto... quer dizer...eu gosto mas tenho de resistir n&eacute;?</p> <p> Sen&atilde;o o pastor me xinga.</p> <p> - Ah... ent&atilde;o mande esse pastor pro inferno.</p> <p> - Eu n&atilde;o. Deus castiga!</p> <p> - O que castiga &eacute; o tempo. Se n&atilde;o aproveitar enquanto t&aacute; tudo em cima, quando cair fica mais dif&iacute;cil.</p> <p> - T&aacute; bom. Voc&ecirc; me convenceu. Preconceito deletado...</p> <p> - Nossa, novinha! Voc&ecirc; me serve...</p>