Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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11/11/2014 08h56

Os Sinos - Gosto ruim

Por Luciano Pires

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<p> Bum! Minha esposa bate o carro na traseira de um t&aacute;xi. Nada muito importante, mas suficiente para impedir que seu porta-malas abra. Na confus&atilde;o do tr&acirc;nsito ela troca informa&ccedil;&otilde;es com o motorista e pede que ele me ligue. Uma hora depois recebo a liga&ccedil;&atilde;o do Luiz, identificando-se como o “taxista que levou uma batida da sua esposa”. Come&ccedil;ou pedindo desculpas pela “incomoda&ccedil;&atilde;o”. Pedi que or&ccedil;asse o estrago para ver se valia a pena usar o seguro e ele quase implorou para que eu n&atilde;o acionasse a seguradora. Se ela entrasse no jogo ele estaria frito, pois demoraria para pagar, pagaria quase nada por seus dias parados, etc. Ele fora muito educado com minha esposa no momento do acidente e estava sendo delicado comigo ao telefone, parecia ser boa pessoa. E tomou a iniciativa: “olha j&aacute; orcei por aqui, vai ficar em x o conserto. Mas tenho certeza que se levar na oficina perto de minha casa consigo pela metade do pre&ccedil;o.”Entendi o drama dele e pensei em depositar o dinheiro na sua conta, como fiz tempos atr&aacute;s numa situa&ccedil;&atilde;o semelhante. Mas hoje em dia n&atilde;o d&aacute; para confiar em mais ningu&eacute;m, n&atilde;o &eacute;? E se fosse uma arma&ccedil;&atilde;o? E se ele depois viesse querendo mais, indeniza&ccedil;&otilde;es, isso e aquilo?</p> <p> Falei com minha advogada, que mandou um modelo de recibo que teoricamente me isentaria de problemas futuros. Imprimi e combinei de me encontrar com o taxista num local p&uacute;blico. Afinal, hoje em dia n&atilde;o d&aacute; para confiar em mais ningu&eacute;m&hellip;</p> <p> Pronto. Chego l&aacute; e conhe&ccedil;o o Luiz. Muito educado, se desculpando pela dor de cabe&ccedil;a, pela “incomoda&ccedil;&atilde;o”. Paguei o valor combinado, ele assinou o recibo e nos despedimos. E eu sa&iacute; com um gosto ruim na boca. O gosto da desconfian&ccedil;a.</p> <p> Eu podia ter resolvido o problema na primeira conversa, bastaria ter transferido o dinheiro para sua conta e pronto! Mas hoje em dia n&atilde;o d&aacute; para confiar em mais ningu&eacute;m, n&atilde;o &eacute; mesmo?</p> <p> Pois &eacute;. No mesmo dia em que tudo aconteceu, recebi um email de uma ouvinte de meus podcasts, a Luciane: “Sinto falta da cordialidade e respeito dos dias da minha inf&acirc;ncia. N&atilde;o sei, n&atilde;o fui criada assim! O bem era algo quase palp&aacute;vel, se esperava que todos fossem bons. L&oacute;gico que o ser humano n&atilde;o &eacute; de todo bom, mas era o que se cobrava de cada um para viver em comunidade. Meu pai passeava comigo pelas ruas de m&atilde;os dadas a apontar: ‘t&aacute; vendo aquele senhor? &Eacute; meu amigo, gente boa!’‘t&aacute; vendo aquela senhora? &Eacute; fulana, foi muito amiga da sua v&oacute;’. E era um desenrolar de hist&oacute;rias de amizade e ajuda. Cresci e me deparo com um mundo que eu n&atilde;o quero compartilhar com minha filha. J&aacute; n&atilde;o posso apontar e dizer que as pessoas ‘s&atilde;o boas’.”</p> <p> Lembrei do Luis indo embora, comprar a pe&ccedil;a para consertar seu t&aacute;xi. E me senti culpado por desconfiar dele. Mas sabe como &eacute;&hellip; Hoje em dia n&atilde;o d&aacute; pra confiar em mais ningu&eacute;m.</p> <p> Putz. Que gosto ruim na boca.</p> <p style="text-align: right;"> <em>Luciano Pires</em></p>

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