Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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13/03/2014 09h39

Um ano de papa Francisco desafia par?quias a adotar sua proposta de simplicidade

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<p> &ldquo;Uma igreja pobre para os pobres.&rdquo;</p> <p> Se o pontificado de Francisco &ndash; que completa um ano nesta quinta &ndash; tivesse um slogan, seria este. A frase, dita pela primeira vez em uma audi&ecirc;ncia tr&ecirc;s dias ap&oacute;s o conclave que o fez papa, tem sido repetida por ele em homilias, serm&otilde;es aos cardeais e entrevistas. E, se algu&eacute;m ainda n&atilde;o escutou, o comportamento do pont&iacute;fice exemplifica o enunciado: preferiu o crucifixo de lat&atilde;o ao de ouro, recusou o pal&aacute;cio papal e se instalou em um aposento mais simples e, num aperitivo de sua vis&atilde;o de cristianismo, apresentou-se &agrave; Igreja como bispo de Roma - n&atilde;o como papa - e curvou-se para que a multid&atilde;o o aben&ccedil;oasse. Al&eacute;m disso, tem dito coisas que n&atilde;o coincidem com o que se imagina do Vig&aacute;rio de Cristo, como a afirma&ccedil;&atilde;o de que n&atilde;o cabe a ele julgar os homossexuais.</p> <p> Atitudes que o popularizaram e fizeram com que o mundo olhasse com mais simpatia para a Igreja Cat&oacute;lica, essa institui&ccedil;&atilde;o bimilenar tida por muitos como retr&oacute;grada nos costumes, condescendente com religiosos ped&oacute;filos, apegada &agrave; ostenta&ccedil;&atilde;o e permissiva com a corrup&ccedil;&atilde;o. O desafio agora, dizem os te&oacute;logos, &eacute; ver as a&ccedil;&otilde;es de Francisco reproduzidas nas igrejas locais.</p> <p> &ldquo;Francisco est&aacute; mais conhecido do que o padre da par&oacute;quia. Isso cria uma capacidade de an&uacute;ncio que o papado n&atilde;o tinha antes. Resta saber se isso vai criar uma mudan&ccedil;a na igreja&rdquo;, afirma o diretor do N&uacute;cleo F&eacute; e Cultura da PUC-SP, Francisco Borba. &ldquo;Porque se, a partir da fala e das atitudes do papa, as pessoas se sentirem motivadas a frequentar uma igreja e l&aacute; encontrarem o mesmo modelo de sempre, elas n&atilde;o v&atilde;o deixar de gostar de Francisco, mas n&atilde;o se engajar&atilde;o na f&eacute;.&rdquo;</p> <p> Ao dizer &quot;mesmo modelo de sempre&quot;, Borba refere-se, por exemplo, &agrave; postura de intoler&acirc;ncia com aqueles que contrariam a doutrina da Igreja, como os homossexuais. O que n&atilde;o significa que Francisco seja um progressista no tema. &ldquo;Ele segue os princ&iacute;pios tradicionais em rela&ccedil;&atilde;o a essa quest&atilde;o, mas demonstra um verdadeiro horror pelo desamor com o qual os homossexuais s&atilde;o tratados. Por isso, essas declara&ccedil;&otilde;es progressistas s&atilde;o parte de seu esfor&ccedil;o para que essa comunidade se sinta acolhida e recebida dentro da Igreja. E isso &eacute; um problema, porque n&atilde;o conseguimos pensar em acolher algu&eacute;m que n&atilde;o toleramos&rdquo;, diz Borba.</p> <p> Por isso, reitera o te&oacute;logo, o futuro da Igreja est&aacute; em sua de assimilar a novidade que Francisco representa. E o pont&iacute;fice tem sido muito claro ao apresent&aacute;-la, tanto para o p&uacute;blico interno como para o externo.</p> <p> <strong>O que seus gestos dizem</strong></p> <p> Francisco &eacute; afeito a quebrar as tradi&ccedil;&otilde;es da Santa S&eacute;. Na escolha dos novos cardeais, por exemplo, ordenou um bispo de uma diocese da periferia do Haiti, o pa&iacute;s mais pobre do continente americano. Assim que foi eleito, cortou o b&ocirc;nus dos funcion&aacute;rios do Vaticano. Recentemente, em um v&iacute;deo feito de improviso, fez o principal discurso ecum&ecirc;nico de seu pontificado, assumindo que cat&oacute;licos e protestantes erraram e convidando ambos para uma aproxima&ccedil;&atilde;o mais efetiva.</p> <p> &ldquo;Francisco &eacute; um homem de grande p&uacute;blico. Quanto ao ecumenismo, por exemplo, Bento 16 e Jo&atilde;o Paulo 2&ordm; viam mais como um processo intereclesial. Eles queriam capacitar a igreja internamente e n&atilde;o pensavam em gestos p&uacute;blicos que demonstrassem esse compromisso. Com Francisco, o grande p&uacute;blico &eacute; o primeiro a saber o que acontece&rdquo;, conclui Borba.</p> <p> &Eacute; essa fala simples e direta que o diferencia de seus antecessores, compara o frei e professor Clodovis Boff. &ldquo;Ele acabou com o contexto ritualizado, cerimonioso. Antes havia um estresse institucional. Agora isso mudou. H&aacute; um relaxamento, uma soltura, a criatividade, o esp&iacute;rito da liberdade. No encontro que teve com embaixadores, por exemplo, ele disse que quer a alegria dos povos. Um mundo complexo como o nosso quer coisas simples. Ele &eacute; assim.&rdquo;</p> <p> <strong>Igreja n&atilde;o &eacute; multinacional</strong></p> <p> O discurso claro do papa, no entanto, n&atilde;o &eacute; suficiente para fazer com que as mudan&ccedil;as sejam r&aacute;pidas - e Francisco sabe disso. &ldquo;A Igreja n&atilde;o &eacute; uma multinacional. Ela tem de mudar o sentido, a simbologia, &eacute; uma mudan&ccedil;a espiritual que n&atilde;o &eacute; mensur&aacute;vel&rdquo;, afirma Fernando Altemeyer, te&oacute;logo da PUC-SP. Um pequeno passo para essa transforma&ccedil;&atilde;o seria o retiro que papa faz com os cardeais desde o in&iacute;cio da Quaresma, na semana passada. &ldquo;Ele tirou os religiosos do Vaticano e os levou para rezar o dia todo. &Eacute; como se dissesse: &lsquo;Voc&ecirc;s precisam de um novo cora&ccedil;&atilde;o, estamos muito burocr&aacute;ticos.&rdquo;</p> <p> Al&eacute;m disso, a reforma da Igreja passa por sua mudan&ccedil;a administrativa, acrescenta o te&oacute;logo. &ldquo;O dif&iacute;cil &eacute; a quest&atilde;o da descentraliza&ccedil;&atilde;o, que envolve a valoriza&ccedil;&atilde;o das dioceses, a colegialidade episcopal, o foco na pastoral e n&atilde;o no dogma e, no caso brasileiro, a quest&atilde;o do di&aacute;logo. Acabou aquele &lsquo;modelito&rsquo; da igreja hegem&ocirc;nica, agora ela &eacute; mais uma op&ccedil;&atilde;o. Isso exige uma postura mais modesta de ouvir o que o comunista, o ateu e o agn&oacute;stico est&atilde;o falando. O papa tem demonstrado essa disposi&ccedil;&atilde;o, mas vamos precisar de uns quatro Franciscos para que isso d&ecirc; certo. N&atilde;o se muda nada em poucos anos.&rdquo;</p> <p> Mas por que poucos anos? O papa parece bem saud&aacute;vel. &ldquo;Ah, acho que quando ele se cansar, ele aposenta. Ele adorou a ideia de Bento. Depois de dez anos, quando tiver um limite, ele vai para casa do Ratzinger certo de ter dado um tranco naquele modelo antigo que estava exaurido&rdquo;, opina Altemeyer</p> <p> E quem vir&aacute; depois? Vai ser dif&iacute;cil substituir aquele que foi eleito personalidade do ano pela revista Time, pintado como super-her&oacute;i nos muros de Roma e que recebe 6 mil cartas semanais de fi&eacute;is de todo o mundo. Nem d&aacute; para acreditar que, h&aacute; exatamente um ano, quando seu nome foi anunciado na sacada do Vaticano, ele era um desconhecido do p&uacute;blico. Fora da lista dos pap&aacute;veis, at&eacute; a imprensa que fazia a cobertura do an&uacute;ncio demorou um tempo a entender que o homem que se fez Francisco era Jorge Mario Bergoglio. Na Pra&ccedil;a de S&atilde;o Pedro, ante a multid&atilde;o que se esfor&ccedil;ava para descobrir quem era o novo papa, foi o tremular da bandeira argentina que traduziu a not&iacute;cia. Hoje, quem n&atilde;o conhece Francisco?</p> <p style="text-align: right;"> <em>Fonte: Ocimara Balmant - iG&nbsp;</em></p>

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