17/04/2025 07h27
Esquecimento, apagamento, amnésia estruturada...
Temos um exemplo doloroso desse Alzheimer cultural em João Monlevade:
O prédio da Escola Santana, majestoso, único, histórico, foi projetado por Lúcio Costa, o mesmo que idealizou Brasília. Hoje, jaz esquecido. Um elefante branco à mercê do tempo. As autoridades empurram a responsabilidade, adiam soluções, como quem espera que o abandono resolva por si só. Até que reste só poeira ou um novo empreendimento que apague de vez qualquer vestígio do que ali foi.
Em Belo Horizonte, o Alzheimer cultural também é forte.
Estátuas, praças, edifícios inteiros agonizam. Na Avenida Catalão, há uma estátua do educador Newton Paiva, fundador do Colégio Anchieta e inspiração da faculdade que leva seu nome. Está lá, maltratada, coberta de pichações, rodeada de mato. Em frente ao Shopping Del Rey, a estátua do comerciante SENDIS — criador das Casas Sendas — está largada, sem placa, sem nome. As pessoas passam e não sabem, não olham, não se importam.
Em Alvinópolis, certa administração teve o desplante de queimar fotos de antigos prefeitos, documentos históricos, numa “limpeza” de biblioteca. Um Alzheimer por ignorância. O prédio da Câmara, um dos mais belos da região, espera por uma reforma que nunca chega. E o puxadinho, hrroroso, continua lá — afrontando a estética, a memória e o bom senso.
Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas, Itabira... Imagino que ali também resida o mesmo esquecimento. Nossa região foi palco de tanta história — da febre do ouro ao fluxo de escravizados, da ocupação beira-rio à formação de um povo com saberes, sabores e resistências únicas. Mas o que sobrou? O que foi apagado ou ignorado?
Se continuarmos a cultivar esse Alzheimer cultural, não perderemos apenas prédios, documentos, estátuas. Perderemos a nós mesmos.
Uma cidade sem memória é como um corpo sem alma: anda, respira, mas não vive.
Lembrar é resistir. Cuidar da memória é cuidar do futuro.
E talvez seja o que nos falta: coragem para lembrar e responsabilidade para não esquecer.