22/06/2024 08h40
Arte e inclusão.
Para além das grades
A Lei Paulo Gustavo tem viabilizado projetos muito interessantes, de perspectivas não apenas culturais, mas sociais também.
Exemplo disso é o PARA ALÉM DAS GRADES, um projeto que foi uma construção coletiva do Leonardo Taveira e da Daniele Ribeiro, que foi enviado como um grupo, o “Primordial”, porém o Leonardo foi o proponente.
A proposta foi realizar dois grafittis na APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) de Rio Piracicaba - MG, um dentro do regime fechado e outro no regime semiaberto, tendo em vista que são locais separados e no regime fechado as mulheres em condição de privação de liberdade não podem transitar para fora do ambiente.
Como contrapartida, foram realizadas duas oficinas de formação para as mulheres da APAC, ensinando-as a como realizar um grafitti, desde o esboço do desenho até o processo final na parede.
Por se tratar de um ambiente prisional, as APACS no Brasil contam com grades dentro do local, celas sem muita ventilação e no caso particular da APAC de Rio Piracicaba, o regime fechado não conta com um pátio a céu aberto para as pessoas que estão em cumprimento de pena, ou seja, trata-se de um ambiente monótono, onde não há manifestação de cores através de artes plásticas, totalmente fechado, com grades e muitos portões de aço em todos os locais.
Levar o grafitti para esse ambiente, foi uma oportunidade de transformação desse lugar, que apesar de ser um local de privação de liberdade, é onde muitas que ali estão, ficarão cumprindo pena por anos. Transformar esse ambiente, significou torná-lo mais humano para quem ali vive, que também é provido de direitos e deve ter acesso à cultura e a arte.
Através da oficina de formação, foi possível fazer com que as pessoas que ali vivem pudessem aprender a teoria/história do movimento, conjuntamente com a prática, que dará a possibilidade que façam seus trabalhos posteriormente.
O movimento hip-hop tem o caráter transformador, revolucionário e libertário, aguçando o senso crítico. Os internos tiveram a oportunidade de compreender a perspectiva transformadora do movimento Hip-Hop, sua origem e sua importância, bem como a democracia e o acesso à cultura.
As participantes da oficina tiveram a oportunidade de realizar suas próprias artes, tendo como possibilidade uma futura geração de renda para as mesmas.
Conversamos com Danielle Oliveira, uma das idealizadoras do projeto. Ela nos explicou que tudo começou com a dupla Danielle e Leonardo, que depois eles contrataram Leticia Barbosa para fazer as fotografias e assim foi formada a equipe. Segundo Danielle, a receptividade na APAC foi acolhedora, num ambiente de muita cortesia e entusiasmo. Foi gratificante levar arte e um pouco de alegria para pessoas que não tem acesso a nada. “ Eu sou mãe assim como a maioria que está lá e uma das coisas que mais me tocava era essa distância que as mães relatavam né dos filhos, a saudade. A gente se toca da importância de pensar nessa questão de direito, do acesso à cultura. Lá carece muito disso, de outras atividades culturais e artísticas. Quem está preso não é desprovido de direitos né? Tá na constituição; Então nada mais justo do que executar um trabalho dessa lei nesse local para fortalecer a democratização do acesso à cultura. As que participaram amaram, todo mundo ficou muito feliz com o resultado. Querem que eu vá lá pintar mais duas paredes e a APAC masculina de Itabira também me convidou. Estou somente aguardando algum recurso ou apoio pra conseguir estar indo comprar os materiais e etc”, disse Danielle.
O projeto ficou em 1º lugar na categoria “Apoio às Culturas Populares e Urbanas” (Edital 08/2023); Projeto contemplado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022 (Lei Paulo Gustavo) pelo Estado de Minas Gerais.
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