27/11/2017 20h19
Cen?rios - Escravos do Facebook
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Enquanto isso, aluno e professor de história conversavam num bar do abismo.</p>
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- Aluno: Minha nossa senhora... minha muié não me deixa em paz. Esse zap zap é uma merda.</p>
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- Professor: Estou muito preocupado. Não somos mais donos do nosso tempo.</p>
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- Mas não somos mesmo. Não se pode nem beber em paz.</p>
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- Mas não falo disso... veja só. Ninguém pode viver fragmentando-se pela perda natural de tudo quanto possui. A personalidade a deterioração do próprio pensamento, tudo vai deixando de ser continuamente. Significa que o homem vai perdendo sua própria conduta, a forma como assimila as coisas e a própria compreensão delas e de si mesmo. Começa a faltar-lhe a compreensão de sua integridade, porque está partiu-se como a própria informação.</p>
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- Papo cabeça hein? Mas francamente...acho que isso é conversa de geração que não compreende a outra. As pessoas vão adaptar-se ao ritmo alucinante da vida moderna e pá...</p>
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- Não sou tão otimista. Passamos a viver uma cobrança constante de produção, um excesso de estímulo. O tempo converteu-se em moeda de grande valia. Eu posso trocá-la, mas não a tenho para emprestar. Meu tempo é um depósito em conta corrente onde estou sempre em vermelho e, quanto mais o tempo passa, mais cresce o meu débito. Transformei-me em um devedor crônico e eterno.</p>
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- Isso é verdade. Estamos sempre ansiosos, achando que estamos ocupando nosso tempo com bobagens...e ao mesmo tempo temos a sensação de que não existimos quando estamos offline. E essa cerveja tá quente...garçon...traz uma gelada por favor...</p>
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- Pois é. Resta-nos a impressão desse tempo livre, porque a vida que levamos nas redes sociais tem uma imensa intensidade temporal. Quanto mais tempo você dedica de sua atenção às redes sociais, mais tempo sente perder porque seu trabalho é considerado, por você, como produtivo. O tempo é por princípio capitalista.</p>
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- Tá vendo? Até o tempo é capitalista.</p>
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- É normal que você pense e sinta que seu tempo deve ser usado para trabalhar e produzir. Sentir que seu tempo foi entregue gratuitamente a uma empresa capitalista, que se apoderaram do seu tempo para ganhar dinheiro e não lhe pagaram nada por isso, é usurpação. Mas é o que acontece e você está sabendo disso. Seu tempo não é remunerado é tomado gratuitamente para ganhar dinheiro.</p>
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- Filha da puta esse Mark Zuckemberger hein? A gente trabalha de graça pra esse cara. É uma espécie de escravidão. Somos escravos do cara. Esse cara é um ladrão.Vamos pegar esse capitão de engenho.</p>
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- Que nada. Rs. Você está submisso e esta sujeição que está fazendo você trabalhar de graça. O conteúdo que você produz é vendido em um pacote de uso por muito bom dinheiro e você o produziu prazerosamente de forma gratuita gerando para os donos dessas marcas que infestam o nosso cotidiano, somas astronômicas. É a mais sofisticada forma de capitalismo. Na verdade eles lucram com o seu conteúdo.</p>
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- Que ódio. Preciso me livrar dessas tralhas eletrônicas. Precisamos nos desintoxicar...</p>
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- Calma. É certo que não podemos negar o valor dessas redes sociais, não resta a menor dúvida sua utilidade. Mas a minha camisa, meus sapatos, minha bicicleta também são úteis e as pessoas que produziram ganharam ao fazê-las porque eu paguei. Mas na Internet é exatamente isso que fazemos: trabalhamos de graça e achando muito bom fazê-lo.</p>
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- Eu amanhã vou eliminar minhas contas no facebook, whatsapp, instagram, só no redtube é que não.</p>
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- Para com isso. Você está é bêbado!</p>
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- Bêbado? Não tomamos nem 15 cervejas... </p>
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- Ninguém mandou beber com professor de história. Voltando ao tema anterior, no século XII e XIII surgiu nas cidades italianas e do norte da Europa o capitalismo chegando quase que imediatamente às cidades hanseáticas. A isso se chamou capitalismo mercantil. Nesse tipo de capitalismo a troca enriquece. Em outras palavras lhe fornece o que você precisa em troca daquilo que você tem. Eu vendo um pouco mais caro o que comprei mais barato e ganho algum dinheiro com isso.</p>
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- Parece justo</p>
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- Mas esse capitalismo que praticamos na Internet não oferece margem de lucro. A relação com o tempo é nenhuma. É com a usura e o crédito que se enriquece. A época de São Tomás de Aquino, século XIII, um período marcado socialmente por muitas transformações, como a crise do sistema feudal, se discutiu bastante se buscando saber o preço do tempo. Mas este pertence a Deus. A conclusão a que se chegou, no século XIII foi de que o tempo não se podia comprar. Isso eliminava de vez a usura e os juros que judeus agiotas costumavam cobrar dos seus devedores. Não era um bom tempo para bancos e os consignados ainda não existiam. O que se pedia emprestado se pagava com a mesma soma e tudo bem. Que bom tempo... Sem banqueiros!</p>
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- E hoje em dia?</p>
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- Hoje em dia temos mais essa vertente do capitalismo, que vampiriza os nossos textos, nossas vidas, banquetes, viagens, romances e tretas. Tudo compartilhado pra alimentar o grande irmão...que resolveu morar nas nuvens.</p>
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(DIÁLOGO INSPIRADO E ASSUMIDAMENTE COPIADO E COLADO COM CONSENTIMENTO DO AUTOR, o FILÓSOFO, PUBLICITÁRIO E POETA MANOEL PEREIRA) </p>