Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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22/09/2017 07h41

No Dia Mundial Sem Carro, o desafio ? da bicicleta

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<p> &quot;A decis&atilde;o de estacion&aacute;-lo para sempre n&atilde;o foi de repente. Eu estava ensaiando h&aacute; algum tempo. Fui algumas vezes para o trabalho de bicicleta, mas acabava usando o carro para todo o resto. Ele precisou dar os &uacute;ltimos suspiros para me alertar que n&atilde;o aguentava mais e que uma nova vida nos esperava. Fiquei por alguns segundos segurando o volante, olhos umedecidos tentando organizar os sentimentos. No in&iacute;cio, senti raiva, logo depois tristeza, gratid&atilde;o e por fim a aceita&ccedil;&atilde;o. Fiz um carinho nele, uma l&aacute;grima caiu, sa&iacute; de dentro, tranquei a porta e parti&rdquo;.</p> <p> Foi assim que a artista Carol Oliveira, 31 anos, decidiu mudar sua forma de deslocamento na cidade. O depoimento, postado em rede social, ganhou visibilidade, apoio e uma rede de adeptos.</p> <p> Atualmente, tr&ecirc;s meses depois, a moradora de Bras&iacute;lia diz n&atilde;o se arrepender.</p> <p> &ldquo;N&atilde;o tenho mais gastos com gasolina, nem aborrecimentos com manuten&ccedil;&atilde;o. Eu n&atilde;o pego tr&acirc;nsito e ainda me exercito com a bike. Estou com as pernas bem mais firmes. Quando vou para mais longe pego &ocirc;nibus ou carona&rdquo;. O h&aacute;bito, segundo ela, tamb&eacute;m tem ajudado a conquistar amigos. &ldquo;Consigo arrastar v&aacute;rios deles para andar comigo pela cidade&rdquo;, comemora.</p> <p> <strong>Tr&acirc;nsito</strong></p> <p> Apesar de pr&aacute;tico, eficiente e c&ocirc;modo, o autom&oacute;vel particular &eacute; um meio de transporte de custo elevado: na conta entram impostos, combust&iacute;vel, estacionamento, seguro e custos de manuten&ccedil;&atilde;o.</p> <p> O carro tamb&eacute;m prejudica a sa&uacute;de (por colaborar para o sedentarismo), o estresse e a intoxica&ccedil;&atilde;o, segundo a Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de. Cerca de 3 milh&otilde;es de mortes por ano podem ter como causa a exposi&ccedil;&atilde;o &agrave; polui&ccedil;&atilde;o.</p> <p> O uso demasiado dos carros particulares provoca ainda congestionamentos, o que prejudica a produtividade e promove desgaste: 48% dos paulistanos gastaram, em 2015, pelo menos 2 horas por dia em seus deslocamentos, segundo pesquisa da Rede Nossa S&atilde;o Paulo.</p> <p> Ao contr&aacute;rio do carro, a bicicleta &eacute; um meio econ&ocirc;mico, limpo, saud&aacute;vel, pr&aacute;tico, integrativo, silencioso e r&aacute;pido para pequenos deslocamentos. No entanto, ainda enfrenta desafios para se consolidar como alternativa vi&aacute;vel de transporte nos centros urbanos do Brasil. Essas s&atilde;o as raz&otilde;es levantadas pelo movimento que prop&otilde;e o Dia Mundial Sem Carro, celebrado no dia 22 de setembro h&aacute; pelo menos 20 anos, em crescente n&uacute;mero de cidades do mundo. A data, criada na Fran&ccedil;a em 1997, incentiva o uso de meios alternativos de transporte e medidas de apoio para seus usu&aacute;rios, transporte p&uacute;blico de qualidade, carona solid&aacute;ria e ciclovias.</p> <p> Segundo levantamento produzido pelo portal Mobilize, o pa&iacute;s conta com pouco mais de 2,5 mil quil&ocirc;metros de vias ciclovi&aacute;rias, entre ciclovias e ciclofaixas. &Eacute; uma parcela &iacute;nfima, diante da malha rodovi&aacute;ria do pa&iacute;s, de cerca de 1,7 milh&atilde;o de quil&ocirc;metros.</p> <p> Mesmo pequena, as ciclovias t&ecirc;m conquistado novos adeptos. Desde 2015, o publicit&aacute;rio Allan Alves, de 30 anos, trocou as estradas pelas ciclovias. A mudan&ccedil;a come&ccedil;ou por uma quest&atilde;o financeira. &ldquo;Fiz os c&aacute;lculos e vi que era muito mais econ&ocirc;mico n&atilde;o ter carro do que ter. E quando percebi que em dias que n&atilde;o usasse a bicicleta tinha estrutura na cidade como a bike compartilhada, &ocirc;nibus e aplicativo de transporte, resolvi de vez abolir o tr&acirc;nsito&rdquo;, afirma o publicit&aacute;rio.</p> <p> Agora, n&atilde;o v&ecirc; outra alternativa para se locomover em Bras&iacute;lia: &ldquo;Hoje em dia, tenho dificuldade em dirigir, &eacute; estressante. Fora todos os benef&iacute;cios de sa&uacute;de e bem-estar da bicicleta, de explorar a cidade com mais calma&rdquo;, disse Allan.</p> <p> Na opini&atilde;o do professor Pastor Willy Gonzales Taco, especialista em mobilidade urbana da Universidade de Bras&iacute;lia, apesar da vantagem financeira e do bem-estar, &eacute; preciso ter muita for&ccedil;a de vontade para abandonar de vez o ve&iacute;culo no Brasil.</p> <p> &ldquo;&Eacute; uma quest&atilde;o cultural, conceitual e econ&ocirc;mica. O Brasil tem apostado muito nas rodovias e na ind&uacute;stria automobil&iacute;stica como condutores da economia. Por outro lado, a promo&ccedil;&atilde;o do uso de modos alternativos, como a bicicleta, o pr&oacute;prio andar a p&eacute;, as tecnologias est&atilde;o s&oacute; aos poucos sendo vistas. Leis, como as que protegem os pedestres, ainda est&atilde;o surgindo de forma t&iacute;mida. Falta vontade pol&iacute;tica&rdquo;, critica.</p> <p> Segundo Pastor, n&atilde;o h&aacute; medidas de incentivo aos usu&aacute;rios dos meios alternativos de locomo&ccedil;&atilde;o como em outros pa&iacute;ses: &ldquo;N&atilde;o h&aacute; gest&atilde;o e investimento em infraestrutura. N&atilde;o h&aacute; nenhum tipo de incentivo como redu&ccedil;&atilde;o de impostos para quem compartilha seu carro ou premia&ccedil;&atilde;o para os usu&aacute;rios mais ass&iacute;duos de aplicativos de caminhadas, viagens de bicicleta ou transportes p&uacute;blicos. N&atilde;o h&aacute; promo&ccedil;&atilde;o de novas tecnologias para complementar o uso dos mesmos, como informa&ccedil;&atilde;o ao usu&aacute;rio, hor&aacute;rios, atendimento, qualidade do servi&ccedil;o. N&atilde;o h&aacute; sistemas integrados para unir as v&aacute;rias possibilidades de mobilidade urbana&rdquo;.</p> <p> <strong>Aplicativo</strong></p> <p> O Instituto Akatu fez um levantamento de aplicativos que podem ajudar, em caso de locomo&ccedil;&atilde;o:</p> <p> <strong>Parpe:</strong>servi&ccedil;o que conecta pessoas que querem alugar carros ou oferecer carros para loca&ccedil;&atilde;o.</p> <p> <strong>Pegcar:</strong>servi&ccedil;o que conecta pessoas que querem alugar carros ou oferecer carros para loca&ccedil;&atilde;o.</p> <p> <strong>Vamo Fortaleza:</strong>sistemas de compartilhamento de carros el&eacute;tricos.</p> <p> <strong>Zazcar:</strong>aluguel de carros por hora.</p> <p> <strong>E-moving:</strong>aluguel de bicicletas el&eacute;tricas para pessoas f&iacute;sicas ou jur&iacute;dicas.</p> <p> <strong>Bike na porta:</strong>o cliente solicita a bicicleta para aluguel por dia, que &eacute; entregue e retirada no local definido.</p> <p> <strong>Mobilicidade:</strong>sistema de aluguel de bicicletas presentes em 21 cidades em todas as regi&otilde;es brasileiras. A libera&ccedil;&atilde;o de bicicletas e o pagamento s&atilde;o feitos pelo celular. Esta&ccedil;&otilde;es de retirada est&atilde;o espalhadas pelas cidades participantes.</p> <p> O professor Pastor cita exemplos de solu&ccedil;&otilde;es simples e de baixo custo, como est&iacute;mulos de empresas com benef&iacute;cios para funcion&aacute;rios que decidam ir de bicicleta, a p&eacute;, de &ocirc;nibus ou metr&ocirc;, de esquemas de caronas. H&aacute; aplicativos que promovem o aluguel de carros por tempo; de corridas compartilhadas.</p> <p> O Instituto Akatu elogia movimentos como o do Dia Mundial Sem Carro, mas diz que &ldquo;a&ccedil;&otilde;es pontuais como essa s&atilde;o importantes para celebrar e dar visibilidade &agrave; causa, mas deveria ser uma atitude cont&iacute;nua. &Eacute; muito t&iacute;mido um dia, quando se tem 365 para promover a mobilidade ativa&rdquo;.&ldquo;Solu&ccedil;&otilde;es existem em todo lugar. O mundo est&aacute; cheio delas. Muitas s&atilde;o criadas aqui mesmo, como o BRT de Curitiba (PR): uma inven&ccedil;&atilde;o brasileira, da d&eacute;cada de 70, mas que s&oacute; est&aacute; sendo implementada agora, 40 anos depois. Depois que outras cidades do mundo j&aacute; fizeram&rdquo;, ressaltou.</p> <p> Exemplos de a&ccedil;&otilde;es continuadas s&atilde;o os grupos de ciclistas que se re&uacute;nem diariamente ou semanalmente para promover passeios urbanos. Al&eacute;m de ser um incentivo para quem ainda est&aacute; se adaptando, a parceria de outros praticantes traz seguran&ccedil;a e colabora para a manuten&ccedil;&atilde;o do h&aacute;bito saud&aacute;vel.</p>

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