15/03/2016 17h55
Lusco Fusco - Em busca de um porto seguro
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Eu declaro o impeachment das ideias curtas. Eu berro a queda dos cérebros binários. Eu exijo a morte dos sentimentos mesquinhos. Eu rogo pela extinção das más intenções. Eu faço votos pela volta do pensamento construtivo. Eu requisito a interrupção imediata deste comportamento infantil que coloca de joelhos um país de 200 milhões de pessoas.</p>
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Não é mais possível. Não é mais viável. Não é mais saudável. Basta, apenas basta. Chega de radicalismos que dispersam os esforços para a construção de uma sociedade decente. Não quero culpados, não quero salvadores, não quero justiceiros. Basta-me a consciência mansa e justa. Satisfaz-me a energia em prol daquilo que frutifica.</p>
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Empacamos. Estamos atolados em um poço de hipocrisia. As certezas de araque nos oferecem um frouxo empuxo de salvação. Reconheçamos que falhamos todos. Nosso motor engasga há muito. Não é coisa só de príncipe ou só de metalúrgico. É coisa de príncipe e de metalúrgico. Estamos cercados por lobos e hienas. Nós, Povo, somos um pedaço de carne magra disputado pelos predadores.</p>
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Mas, diria o leitor, o que o prepotente escriba de plantão propõe? Eu proponho a reflexão. Eu sugiro que nos alimentemos de inteligência. A corrente do dia a dia não pode ser movida somente pelo confronto. A pessoa ao lado, que votou no partido que você odeia, respira o mesmo ar. Somos todos Povo, precisamos acordar e trabalhar e sobreviver.</p>
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O meu inimigo não é o vizinho petista, o meu inimigo não é o cara de direita que gosta de roupa de marca e de um carro bacana. Na verdade, sequer sei quem é meu inimigo. Ele é invisível, ardiloso e manipulador. Ele oferece beijos venenosos sem nunca mostrar a cara.</p>
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Sabotemos a lavagem cerebral que nos joga uns contra os outros. Isso nos enfraquece e abre brechas ocupadas pelo oportunismo. Os ratos que brigam entre si não afugentam o gato. Apenas se dispersam, tornam-se presas fáceis. Quem merece nossa confiança? Quem nesse país é digno de desencadear uma mísera discussão que seja entre nós, Povo? Quem está acima do bem e do mal?</p>
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Você tem convicções, eu tenho convicções. Porém, eu nunca desejaria o seu fim pelo simples fato da discordância. Não há motivo para tanta raiva. Essa é uma atitude que não se sustenta em um mundo de avanços tão luminosos e de desafios tão urgentes.</p>
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Não meu amigo, eu não anseio o Brasil como um lugar perfumado, de sonhos perfeitos se realizando a cada esquina, decorado pela harmonia plena. A vida, em qualquer quadrante da Terra, não é assim. No entanto, tenho a forte percepção de que estamos lutando a batalha errada, no campo errado, contra o inimigo errado.</p>
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Eu me alinho à brigada de cidadãos que tentam, no dia a dia, nas pequenas atitudes, melhorar o significado daquilo que se chama viver. Sem neuras paralisantes, sem julgamentos afoitos, sem necessidades desnecessárias, sem afobamento, sem medos infundados e livre dos arroubos de valentia estúpida. Calma, reflexão e autocrítica são como canja de galinha.</p>
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Você é muito pequeno para salvar o Brasil. E também é muito pequeno para afundá-lo. Mas você é muito importante para quem está por perto. Uma frase deveras piegas, condição que não lhe rouba a veracidade.</p>
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Não troque a oportunidade de ser alguém coerente, agradável e civilizado pela defesa alienada e brusca de objetivos que não lhe pertencem genuinamente e que mais se assemelham a aspirações parasitárias. É um tipo de verme ideológico que invade a mente para se alimentar do seu vigor. Esse verme não tem uma só cor, é camaleônico.</p>
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Da forma como as coisas se desenrolam, afirmo categoricamente que você não está fazendo política, pois o seu objetivo não é encontrar o consenso. Encontrar o consenso não significar exigir que o outro se dobre perante suas ideias. Significa sim ceder e conquistar, convencer e ser convencido, mas sempre com argumentos e diálogo, se possível acompanhado de uma boa cerveja gelada e de altas doses de civilidade.</p>
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<strong>Por Thobias Almeida</strong></p>