Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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24/02/2015 07h17

Os Sinos - Viol?ncia e insensatez

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<p> At&eacute; o mundo mineral est&aacute; informado: dentro em breve, 1% da popula&ccedil;&atilde;o mundial ser&aacute; dona de 99% da riqueza global. O fato n&atilde;o causa o pasmo da pr&oacute;pria turma dos privilegiados, tampouco de uma congrega&ccedil;&atilde;o de ilustres economistas. O argumento que estes brandem soletra a inevitabilidade do processo, determinado, digamos assim, pelo estilo (modo, regra) de vida do planeta. E qual seria? Porventura a lei da selva?</p> <p> Tempos atr&aacute;s, dizem os tais economistas, a exist&ecirc;ncia seguia um curso linear. Pagava-se por tarefa, por obra feita, por lance executado, de maneira constante e uniforme, de sorte que o tempo determinava o resultado do esfor&ccedil;o despendido. Nos dias de hoje, um &uacute;nico gesto, uma solit&aacute;ria a&ccedil;&atilde;o, a decis&atilde;o isolada de um ser afortunado, podem torn&aacute;-lo bilion&aacute;rio da noite para o dia.</p> <p> E vamos de valsa, a sustentar a teoria. A fortuna, a bem da verdade factual, sempre influiu para enriquecer este ou aquele, sem contar a trapa&ccedil;a, o assalto, o roubo, a explora&ccedil;&atilde;o do homem pelo homem. Como aconteceu, por exemplo, com os antol&oacute;gicos robber barons dos EUA no final do s&eacute;culo XIX. No entanto, quem justifica atualmente a caminhada no rumo da desigualdade absoluta n&atilde;o passa de sabujo a servi&ccedil;o do neoliberalismo. Tornado estilo, modo, regra de vida. Sob medida para garantir a felicidade de uma centena de empresas multinacionais, a mandarem mais que os governos nacionais, bem como dos banqueiros e dos especuladores.</p> <p> Antes ainda que pol&iacute;ticas, econ&ocirc;micas e sociais, est&atilde;o em jogo quest&otilde;es morais. E intelectuais, relacionadas com a raz&atilde;o. Por que o mundo haveria de se conformar com uma situa&ccedil;&atilde;o que favorece pouqu&iacute;ssimos em detrimento da avassaladora maioria? Alguns t&iacute;midos sinais de resist&ecirc;ncia afloram aqui e acol&aacute;. H&aacute; de tirar o sono, contudo, de quantos ainda se norteiam tanto por valores e princ&iacute;pios quanto pela l&oacute;gica velha de guerra, toda uma avan&ccedil;ada sintomatologia do emburrecimento global.</p> <p> Vamos ent&atilde;o a Copenhague, g&eacute;lida embora apraz&iacute;vel capital do Norte, na rota do polo. Pois at&eacute; ali um mu&ccedil;ulmano enraivecido atenta contra aqueles que enxerga como inimigos. E l&aacute; vem a m&iacute;dia a denunciar mais um atentado &agrave; liberdade de express&atilde;o. E n&atilde;o seria inclusive de culto, a se considerar que o atentador tamb&eacute;m agiu contra uma sinagoga?</p> <p> Ningu&eacute;m se pergunta por que um par de franceses de sangue &aacute;rabe invade a reda&ccedil;&atilde;o do Charlie Hebdo, ou um apenas ataca em Copenhague. Ningu&eacute;m convoca seus bot&otilde;es para tentar compreender as raz&otilde;es deste ins&oacute;lito e feroc&iacute;ssimo conflito, a come&ccedil;ar pela fragilidade da Europa, j&aacute; assoberbada por imponentes problemas, e pelo desespero das periferias. E no caldeir&atilde;o monstruoso, ferve, tamb&eacute;m e obviamente, a desigualdade cada vez mais desenfreada.</p> <p> Neste momento da esperteza de um punhado de indiv&iacute;duos e da cretiniza&ccedil;&atilde;o coletiva, excelente met&aacute;fora da situa&ccedil;&atilde;o &eacute; a chamada arte contempor&acirc;nea. Na aus&ecirc;ncia de poetas e com o enterro da pintura. A quem aproveita se n&atilde;o aos vil&otilde;es da especula&ccedil;&atilde;o? Se ditos artistas como os Hirst e os Koons valem milh&otilde;es de d&oacute;lares, o enredo farsesco favorece quem os negocia, e a quem transforma sua produ&ccedil;&atilde;o rid&iacute;cula, em um tempo incapaz de expressar a extraordin&aacute;ria ironia de Marcel Duchamp, em moeda alternativa da especula&ccedil;&atilde;o.</p> <p> O mundo digere a empulha&ccedil;&atilde;o, sem discernir realidade da fantasia imposta pela forma dos mais apurados e capilares instrumentos tecnol&oacute;gicos. Se os empulhadores acima citados valem milh&otilde;es, quanto vale a Capela Sistina? Quem se habilita a estabelecer par&acirc;metros? E por falar em Michelangelo, que se daria se algum cartunista, ao majestoso rosto barbudo do Deus crist&atilde;o, a pairar soberano na ab&oacute;bada da capela, substitu&iacute;sse as n&eacute;scias fei&ccedil;&otilde;es de Bush j&uacute;nior, ou de outro Bush, o futuro e en&eacute;simo? A liberdade de express&atilde;o &eacute; invocada, sem perceber que ela tem seus limites.</p> <p> Quanto a esse conflito sem fronteiras que abala o planeta, de inaudita viol&ecirc;ncia e insensatez abissal, denuncia uma l&oacute;gica na falta de l&oacute;gica: &eacute; a manifesta&ccedil;&atilde;o inexor&aacute;vel de um mundo violento e insensato, a favorecer os ricos e a espezinhar os demais.</p> <p align="right"> <em>por Mino Carta&nbsp;</em></p>

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