Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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04/02/2014 06h36

O Veneno est? na mesa: o perigo dos agrot?xicos

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<p> O agroneg&oacute;cio brasileiro vem pressionando a Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica e o Congresso para diminuir o papel do setor de sa&uacute;de na libera&ccedil;&atilde;o dos agrot&oacute;xicos.</p> <p> O Brasil &eacute; o maior consumidor desses venenos no planeta e a cada dia se torna mais dependente deles. Qual o impacto que essas medidas ter&atilde;o na sa&uacute;de da popula&ccedil;&atilde;o brasileira?</p> <p> No Brasil, a cada ano, cerca de 500 mil pessoas s&atilde;o contaminadas, segundo o Sistema &Uacute;nico de Sa&uacute;de (SUS) e estimativas da Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de (OMS).</p> <p> Os brasileiros est&atilde;o consumindo alimentos com res&iacute;duos de agrot&oacute;xicos acima do limite permitido e ingerindo subst&acirc;ncias t&oacute;xicas n&atilde;o autorizadas.</p> <p> Em outubro, a Ag&ecirc;ncia de Vigil&acirc;ncia Sanit&aacute;ria (Anvisa) revelou que 36% das amostras analisadas de frutas, verduras, legumes e cereais estavam impr&oacute;prias para o consumo humano ou traziam subst&acirc;ncias proibidas no Brasil, tend&ecirc;ncia crescente nos &uacute;ltimos anos.</p> <p> Os agrot&oacute;xicos afetam a sa&uacute;de dos consumidores, moradores do entorno de &aacute;reas de produ&ccedil;&atilde;o agr&iacute;cola ou de agrot&oacute;xicos, comunidades atingidas por res&iacute;duos de pulveriza&ccedil;&atilde;o a&eacute;rea e trabalhadores expostos.</p> <p> Mesmo frente a esse quadro, mais dram&aacute;tica &eacute; a ofensiva do agroneg&oacute;cio e sua bancada ruralista para aprofundar a desregulamenta&ccedil;&atilde;o do processo de registro no pa&iacute;s.</p> <p> Qualquer agrot&oacute;xico, para ser registrado, precisa ser analisado por equipes t&eacute;cnicas dos minist&eacute;rios da Agricultura, Sa&uacute;de e Meio Ambiente. Inspirados na CTNBIO, inst&acirc;ncia criada para avaliar os transg&ecirc;nicos, que at&eacute; hoje autorizou 100% dos pedidos de libera&ccedil;&atilde;o a ela submetidos, os ruralistas querem a cria&ccedil;&atilde;o da CTNAGRO, na qual o olhar da sa&uacute;de e meio ambiente deixaria de ser determinantes para a decis&atilde;o.</p> <p> Quem ganha e quem perde com essa medida? N&atilde;o h&aacute; d&uacute;vida que entre os benefici&aacute;rios diretos est&aacute; o grande agroneg&oacute;cio, que tem na sua ess&ecirc;ncia a monocultura para exporta&ccedil;&atilde;o. Esse tipo de produ&ccedil;&atilde;o n&atilde;o pode viver sem o veneno porque se baseia no dom&iacute;nio de uma s&oacute; esp&eacute;cie vegetal, como a soja. Por isso, a cada dia, surgem novas superpragas, que, associadas aos transg&ecirc;nicos, t&ecirc;m exigido a libera&ccedil;&atilde;o de agrot&oacute;xicos at&eacute; ent&atilde;o n&atilde;o autorizados para o Brasil. O mais recente caso foi a autoriza&ccedil;&atilde;o emergencial do benzoato de amamectina usado para combater a lagarta Helicoverpa, que est&aacute; dizimando as lavouras de soja de norte a sul do pa&iacute;s. A lei que garantiu a libera&ccedil;&atilde;o desse veneno tramitou e foi aprovada em um m&ecirc;s pelo Congresso e pela Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica.</p> <p> A pergunta que n&atilde;o quer calar &eacute;: no momento em que a popula&ccedil;&atilde;o brasileira espera um Estado que garanta o direito constitucional &agrave; sa&uacute;de e ao ambiente, por que estamos vendo o contr&aacute;rio?</p> <p> Na maioria dos estados brasileiros os agrot&oacute;xicos n&atilde;o pagam impostos. O Estado brasileiro tem sido forte para liberalizar o uso de agrot&oacute;xicos, mas fraco para monitorar e controlar seus danos &agrave; sa&uacute;de e ao ambiente. Enquanto isso, todos n&oacute;s estamos pagando para ser contaminados.</p> <p style="text-align: right;"> <em>Fernando Carneiro &eacute; professor da UNB e coordenador de sa&uacute;de e meio ambiente da Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Sa&uacute;de Coletiva</em></p>

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