24/06/2022 08h01
E vc? Prefere cover ou autoral?
Eu sou desses que adora uma dialética de internet. Eu sei, tem gente que odeia, que não tem paciência e vai saindo dos grupos por que não suporta tanta poluição, mas alguns diálogos interessantes nos ajudam a avançar no entendimento das coisas. Eu sempre tive muita curiosidade intelectual. Gosto do novo, procuro o novo, prefiro ir a shows de autorais. Mas provavelmente se deve ao fato de ser compositor, gostar de criar, de expressar algo. Sou "fiote" dos festivais, onde era necessário ser autoral...e se quisesse ganhar algum prêmio, tinha de escrever direito.Tinha de ter originalidade, português correto, afinação e uma boa presença de palco. E os artistas tinham de depurar sua música, concorrer com feras, pessoas de alto nível. Bom, mas se nos festivais tinha lugar pros autorais, hoje em dia, nos espaços, nas casas de show já é bem mais complicado. Quem é dono de casa noturna vai ter de se preocupar em primeiro lugar em garantir qualidade sonora, bebidas e tira-gostos e shows que agradem ao público. Senão a caixa registradora não toca seu sininho. Por isso é tão difícil pros autorais. O público de hoje gosta de interagir, de cantar junto, de curtir músicas conhecidas. Aí é que os autorais se estrepam. A não ser que tenham organização para convencer o dono da casa que vai dar certo, que consigam divulgar e popularizar seus singles nas rádios, envolver as pessoas e realmente levar público,. Esses dias tava num debate no grupo do Shine Crazy. Falávamos do assunto cover/autoral quando um frequentador assíduo vaticinou: a vibe da casa é Covernation. E é mesmo. Quando uma banda toca no Shine e faz cover do Engenheiros do Hawaii, leva o público do Engenheiros do Hawaii...com o Legião, a mesma coisa. Cabe a banda cover reproduzir pelo menos um pouco do astral, tocar igual e o vocalista ter uma voz parecida. E o público não vai ter a banda original, mas terá as músicas e o clima. Eu provoquei a conversa também no grupo VÉI TAMBÉM É GENTE. Como tem muitos artistas no grupo, o negócio ficou interessante. Comentários muito legais pintaram. Um deles, do músico Domingos Kamonga: toda música de partitura é cover. E não é que ele tem razão? As orquestras tocam covers de Chopin e Tchaicovsky. E executados igualzinhos os originais. Mais cover impossível. Talvez uma correlação interessante seja da arte e o artesanato. As estátuas de aleijadinho tem imenso valor artístico, histórico e cultural. Mas o artesanato, as réplicas em madeira e pedra sabão geraram e continuam gerando muito mais dinheiro.E tem outra coisa interessante: muitos artistas gravaram covers de músicas de outros autores, até mais antigas e fizeram sucesso. Os Beatles gravaram covers, Frank Sinatra, Nat King Cole, Van Hallen gravou Pretty Woman. E pra encerrar essa COVERSA...rs...tava trocando umas ideias com o Brunão e lembramos de vários covers que superaram os originais e não são poucos. Um dos casos mais clássicos foi da cantora Sinead O’Connor em 1990. Ela gravou Nothing Compares 2 U’, composição de Prince. O genial cantor americano, tinha composto a música para a banda "The Family, mas ela só foi estourar na voz de O’Connor, o que deixou o compositor bem contrariado.Então meus amigos, cove(r)nhamos...os autorais pra ter seus espaços de fruição vão ter de rebolar...quer dizer, rebolar é muito né? Vão ter de encontrar um jeito de aguçar a curiosidade da galera e de fazer valer à pena. Mas que podia rolar uns festivais, podia né?