03/12/2018 15h22
Desaparecimento das abelhas pode ser catastr?fico
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O que há em comum entre um pepino, uma abobrinha e uma manga?</p>
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Não muito, aparentemente. No entanto, essas três coisas devem sua existência a um inseto: a abelha, cujos serviços também proporcionam vida a muitos alimentos que conhecemos.</p>
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Sem as abelhas, você poderia ter que abrir mão da geleia de morango no café da manhã, das amêndoas, maçãs, mangas, tomates, kiwis, melancias - e de inúmeros outros alimentos.</p>
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Esses insetos de pouco mais de um centímetro de comprimento têm frequentado o noticiário nos últimos anos.</p>
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Em primeiro lugar, pelo declínio alarmante de suas populações, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.</p>
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Mas também por uma série de estudos que detalham os serviços que prestam ao ecossistema, incluindo sua capacidade de aumentar em cerca de 25% o rendimento das colheitas - e, consequentemente, dos alimentos que comemos.</p>
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Embora as abelhas não sejam as únicas polinizadoras, representam 90% desse serviço por um vetor animal</p>
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Mas qual é a função das abelhas na natureza, além de produzir mel? Por que sua extinção hipotética seria uma catástrofe planetária?</p>
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<strong>Polinização</strong></p>
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"As abelhas polinizam a maior parte das plantas que existem", explica Carlos Vergara, professor da Universidade de las Américas em Puebla, no México.</p>
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"Todas as plantas que têm flor precisam ser polinizadas para produzir sementes e sobreviver. E cerca de dois terços da dieta dos seres humanos vêm de plantas polinizadas."</p>
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É por meio da polinização que os grãos de pólen são transferidos da parte masculina para a feminina da planta, ou de uma planta para outra da mesma espécie, resultando nas sementes que dão origem às frutas e legumes que comemos.</p>
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Ou seja, com exceção de alimentos básicos como trigo, arroz ou milho, que são polinizados pelo vento, todos os outros alimentos ricos em micronutrientes dependem das abelhas.</p>
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"Nossa dieta não só seria muito chata (sem as abelhas), mas também incompleta", enfatiza Vergara.</p>
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Em resumo, sem polinização não é a segurança alimentar que corre risco, mas a própria garantia de ingestão de nutrientes.</p>
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<strong>Efeito cascata</strong></p>
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A polinização é crucial não só para os alimentos que comemos diretamente. É também vital para a reprodução de plantas usadas para alimentar o gado e outros animais, e para manter a diversidade genética das plantas com flores.</p>
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Das cerca de 20 mil espécies de abelhas que existem, cerca de 20 são usadas para polinização</p>
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É fundamental ainda para plantas utilizadas na produção de biocombustíveis (como canola e azeite de dendê) e de fibras (como algodão), e para plantas medicinais e ecossistemas como bosques, essenciais à preservação dos recursos hídricos.</p>
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"A falta de abelhas provocaria um efeito em cascata: se não temos sementes, não temos pasto, flores, frutas, nem animais que se alimentam de frutas. As abelhas e os demais polinizadores desempenham um papel fundamental na regulação dos ecossistemas", explica Carolina Starr, consultora de biodiversidade e serviços aos ecossistemas da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura).</p>
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<strong>Qualidade das frutas</strong></p>
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As consequências são nítidas quando uma planta não é visitada por muitos polinizadores.</p>
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Polinização pode ser controlada por um apicultor ou abelhas silvestres</p>
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"Se você vê uma fruta deformada, é geralmente porque as abelhas visitaram apenas um lado da flor", diz Barbara Gemmill-Herren, especialista em serviços de ecossistemas e ex-assessora da FAO.</p>
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Embora essas frutas possam ser consumidas, os produtores não conseguem vendê-las, e esses alimentos acabam indo parar no lixo.</p>
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"A planta investe mais recursos na flor que foi polinizada, e isso significa que a fruta que nasce desta flor terá maior valor nutricional e um sabor melhor", acrescenta a especialista.</p>
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O problema é mais grave em plantas que dependem exclusivamente de abelhas ou de outros polinizadores, como amendoeiras ou pés de maracujá.</p>
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Para o café, por exemplo, que se cultiva acima de 900 metros e pode se autofecundar, a falta de abelhas reduz a quantidade e a qualidade dos grãos.</p>
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"Quando há insetos, a quantidade de grãos produzida por uma planta aumenta em 20%. E a qualidade do grão que foi polinizado com pólen de outra planta e não da mesma é muito melhor", diz o entomologista Vergara.</p>
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<strong>Colapso de causa desconhecida</strong></p>
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As populações de abelhas têm sofrido particularmente na Europa e América do Norte, por um fenômeno conhecido como "desordem de colapso das colônias", em que abelhas operárias desaparecem abruptamente das colmeias.</p>
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A causa exata desse fenômeno é desconhecida, mas acredita-se que ocorra por uma combinação de fatores, que incluem uso inadequado de pesticidas.</p>
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<strong>Uma dieta sem frutas é pobre em nutrientes</strong></p>
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Além disso, há outras razões que explicam a redução da diversidade de abelhas, como perda de habitat natural, mudanças climáticas e más práticas agrícolas.</p>
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O progresso das cidades e a redução de áreas florestais resultam em menos flores. E, sem flores, as abelhas ficam sem nada para comer.</p>
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"Aqui (na Colômbia) usamos muito pesticida por receio de perder a colheita. Mas os agrotóxicos não distinguem se os insetos são nocivos ou não", explica Rodulfo Ospina-Torres, pesquisador do laboratório de abelhas silvestres da Universidade Nacional de Bogotá.</p>
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<strong>A apicultura urbana pode se tornar um hobby fascinante</strong></p>
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Especialmente na América Latina, onde o setor de apicultura é menos desenvolvido do que nos Estados Unidos ou na Europa, as abelhas selvagens desempenham um papel crucial para assegurar boas colheitas.</p>
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<strong>O que pode ser feito?</strong></p>
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Políticas públicas que incentivem a redução do uso de agrotóxicos e promovam a variedade de culturas (em detrimento de monoculturas que limitam a diversidade da alimentação das abelhas) têm potencial de criar um ambiente natural para atrair abelhas.</p>
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<strong>Mas há outras formas de colaborar, mesmo para quem vive em zonas urbanas:</strong></p>
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- Plante flores diferentes em vasos ou no jardim para oferecer uma dieta rica e variada às abelhas. Caso floresçam em diferentes épocas do ano, melhor ainda. "Se a diversidade de abelhas em áreas urbanas aumentar, elas podem migrar para áreas agrícolas", diz Vergara. "Em 30 ou 50 anos, teríamos um aumento na diversidade e abundância de abelhas no campo", completa.</p>
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- Não use produtos químicos ou inseticidas, pois podem ser novicos para as abelhas. Isso é particularmente prejudicial quando as plantas estão floridas, uma vez que os químicos entram em contato com o néctar e o pólen, e as abelhas podem levá-los para as colmeias.</p>
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- Deixe flores silvestres e ervas daninhas no jardim: são bons alimentos para as abelhas.</p>
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- Construa um "hotel para abelhas": você pode comprar ou criar uma estrutura de madeira com furos, que servirá como ninho para abelhas solitárias - que são a grande maioria.</p>
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- Torne-se um apicultor: não há necessidade de morar no campo para criar abelhas. A apicultura urbana é praticada em muitas cidades. Busque uma associação local, aprenda o necessário e transforme a apicultura em um hobby.</p>
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- Perca o medo: as abelhas não visam atacar você, porque se ela provavelmente morrerá ao te picar. Elas só fazem isso quando se sentem ameaçadas. Se uma abelha pousar em você, mantenha a calma e espere ela sair. Não fique perto da entrada de uma colmeia ou no caminho entre as flores e a colmeia. E aprenda a diferenciá-las das vespas, que podem, sim, picar sem motivo aparente.</p>
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- Deixe um prato de água no jardim ou no quintal: você pode não saber, mas as abelhas também sentem sede.</p>
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<em>Fonte: BBC</em></p>