Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

notícias

21/04/2018 16h11

Inconfid?ncia Mineira e o que resta do per?odo no Brasil

Compartilhe
<p> Conspira&ccedil;&atilde;o, reuni&otilde;es na calada da noite e encontros secretos em fazendas e casar&otilde;es das vilas coloniais. H&aacute; 230 anos, na Capitania de Minas &ndash; a mais rica entre todas as possess&otilde;es portuguesas na &Aacute;sia, Am&eacute;rica e &Aacute;frica &ndash;, atingia o auge o movimento que entrou para a hist&oacute;ria como Inconfid&ecirc;ncia Mineira e teve ramifica&ccedil;&otilde;es em S&atilde;o Paulo e Rio de Janeiro.</p> <p> Certo de que h&aacute; muito para ser estudado, e comparado com o Brasil atual, o professor de hist&oacute;ria Luiz Carlos Villalta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),&nbsp; desfaz alguns equ&iacute;vocos sobre o levante, que teve como figura mais representativa o alferes Joaquim Jos&eacute; da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792).</p> <p> No dia em que ocorre, em Ouro Preto, a tradicional cerim&ocirc;nia c&iacute;vica para reverenciar a mem&oacute;ria dos inconfidentes, o especialista fala das li&ccedil;&otilde;es que nos chegam daquela &eacute;poca.</p> <p> &nbsp;&ldquo;Se 1789 ficou como marco, &eacute; bom saber que a grande agita&ccedil;&atilde;o ocorreu no ano anterior. Em abril de 1789, o movimento j&aacute; estava morto&rdquo;, conta o autor dos livros Hist&oacute;ria de Minas Gerais &ndash; A Prov&iacute;ncia de Minas e Minas Setecentista, em parceria com a professora Maria Efig&ecirc;nia Lage de Resende.</p> <p> Diante do monumento a Tiradentes, na esquina das avenidas Afonso Pena e Brasil, em Belo Horizonte, Villalta diz que o &ldquo;21 de abril&rdquo; &eacute; outro ponto fundamental na hist&oacute;ria, pois confunde a cabe&ccedil;a de muita gente. A data se refere &agrave; morte por enforcamento de Tiradentes, em 1792, no Rio.</p> <p> Portanto, nada a ver com fim do levante ou a decreta&ccedil;&atilde;o da derrama, uma das palavras-chave no epis&oacute;dio.</p> <p> &ldquo;Na &eacute;poca, Portugal tinha o direito de cobrar o &lsquo;quinto do ouro&rsquo;, taxa de at&eacute; 20% sobre a produ&ccedil;&atilde;o do metal. Mas, se os mineradores n&atilde;o pagassem ao governo 100 arrobas de ouro anuais, a Coroa portuguesa poderia decretar a derrama, obrigando as c&acirc;maras municipais a fazer o povo pagar o valor necess&aacute;rio para chegar &agrave;quele total&rdquo;, explica Villalta.</p> <p> Passados dois s&eacute;culos e tr&ecirc;s d&eacute;cadas do ponto alto do movimento, a li&ccedil;&atilde;o est&aacute; bem atual, &ldquo;pois ficaram de heran&ccedil;a a corrup&ccedil;&atilde;o desenfreada e o funcionamento da Justi&ccedil;a&rdquo;. Na avalia&ccedil;&atilde;o de Villalta, paulista de Taubat&eacute; e estudioso da Inconfid&ecirc;ncia Mineira, &ldquo;a Justi&ccedil;a no Brasil n&atilde;o &eacute;, nem nunca foi para todos&rdquo;.</p> <p> &ldquo;Um exemplo foi Tiradentes, o &uacute;nico dos inconfidentes punido com mais severidade pela Coroa. O funcionamento da Justi&ccedil;a era tratar desigualmente os desiguais, n&atilde;o havendo igualdade jur&iacute;dica. Hoje a lei &eacute; igual, mas a Justi&ccedil;a praticamente n&atilde;o &eacute; igual para todos.&rdquo;</p> <p> <strong>Lideran&ccedil;a</strong></p> <p> Outro erro que se comete, alerta o professor, &eacute; nomear Tiradentes como l&iacute;der do movimento. &ldquo;Na verdade, ele foi o homem a levar as ideias para o espa&ccedil;o p&uacute;blico&rdquo;, esclarece. E, destaca, quem se horroriza com a corrup&ccedil;&atilde;o nos dias de hoje &eacute; porque desconhece as falcatruas do per&iacute;odo colonial, em todas as esferas.</p> <p> &ldquo;A corrup&ccedil;&atilde;o sempre existiu naqueles tempos e os inconfidentes nunca foram santos. Muitos eram ricos, recebiam vantagens da Coroa, tinham poder e estavam envolvidos em neg&oacute;cios il&iacute;citos, entre eles o contrabando de ouro. Para resumir, eram pessoas de carne e osso.&rdquo;</p> <p> Mas Villalta faz quest&atilde;o de enaltecer a imagem de Tiradentes.</p> <p> &ldquo;Um grande her&oacute;i nacional, personagem consagrado na mem&oacute;ria popular como m&aacute;rtir e defensor da p&aacute;tria. Um homem que tinha no&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica do momento pelo qual a col&ocirc;nia passava e queria que a riqueza de sua &lsquo;p&aacute;tria&rsquo; (seu lugar de nascimento, Minas) n&atilde;o fosse drenada para fora por meio de impostos excessivos e do monop&oacute;lio comercial. Falava em liberdade e denunciava que altos tributos e monop&oacute;lio comercial transformaram Minas, uma capitania rica, em lugar de pobreza&rdquo;, afirma o professor.</p> <p> Fazendo jus &agrave; trajet&oacute;ria, os restos mortais dos inconfidentes repousam no Pante&atilde;o dos Inconfidentes, no Museu da Inconfid&ecirc;ncia, na Pra&ccedil;a Tiradentes, no Centro de Ouro Preto.</p> <p> A exce&ccedil;&atilde;o &eacute; exatamente Tiradentes, que foi esquartejado, teve partes do corpo espalhadas pela Estrada Real e a cabe&ccedil;a pendurada em pra&ccedil;a p&uacute;blica em Vila Rica. O cr&acirc;nio depois desapareceu do lugar de &ldquo;exibi&ccedil;&atilde;o&rdquo; e nunca mais foi encontrado.</p> <p> <strong>Cartas Chilenas</strong></p> <p> A mobiliza&ccedil;&atilde;o que resultaria na chamada Inconfid&ecirc;ncia come&ccedil;ou em 1785, com a circula&ccedil;&atilde;o, em Vila Rica, atual Ouro Preto, das Cartas Chilenas, poemas sat&iacute;ricos criticando Lu&iacute;s da Cunha Menezes, governador da Capitania de Minas de 1783 a 1788.</p> <p> Nesse &uacute;ltimo ano, assinala Villalta, chegava ao Rio, vindo da Europa, o mineiro Jos&eacute; &Aacute;lvares Maciel (filho), cunhado do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, segunda autoridade militar da Capitania de Minas e um dos inconfidentes.</p> <p> &ldquo;Sabe quem o esperava no porto, no Rio? Tiradentes, que logo prop&ocirc;s a rebeli&atilde;o contra Portugal, embora o rec&eacute;m-chegado n&atilde;o tenha dado muito cr&eacute;dito&rdquo;, narra Villalta. Mesmo assim, o movimento vai crescendo e se espalha pela regi&atilde;o de S&atilde;o Jo&atilde;o del-Rei e outras localidades do Campo das Vertentes.</p> <p> Em 8 de outubro de 1788, j&aacute; n&atilde;o havia mais como parar. E pairava sobre as Gerais o fantasma da derrama, pois, naquele ano, Lu&iacute;s Ant&ocirc;nio Furtado de Castro do Rio Mendon&ccedil;a, visconde de Barbacena, chegara a Minas com ordem de decret&aacute;-la. A situa&ccedil;&atilde;o gerou descontentamento, em especial nas pessoas ligadas a grupos privilegiados &ndash; contratadores, cl&eacute;rigos, militares, contrabandistas etc..</p> <p> Na casa do p&aacute;roco Carlos Correia de Toledo, em S&atilde;o Jos&eacute; del-Rei (atual Tiradentes), alguns dos futuros inconfidentes come&ccedil;am a arquitetar a conspira&ccedil;&atilde;o. H&aacute; sucessivos encontros em Vila Rica: no fim de dezembro, na casa do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrada, com a presen&ccedil;a de Alvarenga Peixoto, &Aacute;lvares Maciel e os padres Toledo e Rolim; e na casa do contratador de impostos Jo&atilde;o Rodrigues de Macedo, propriet&aacute;rio da Casa dos Contos.</p> <p> <strong>Dela&ccedil;&atilde;o premiada</strong></p> <p> Para ajudar a entender o que estava ocorrendo &eacute; imprescind&iacute;vel conhecer o cen&aacute;rio no s&eacute;culo 18: novos ventos sopravam sobre o Ocidente, trazendo a filosofia de pensadores franceses que criticavam o poder absoluto dos reis, a administra&ccedil;&atilde;o colonial, o monop&oacute;lio comercial, a intoler&acirc;ncia religiosa e o sistema de trabalho.</p> <p> &ldquo;A Inconfid&ecirc;ncia floresceu no ambiente de efervesc&ecirc;ncia intelectual e pol&iacute;tica, como ocorria na Europa e Am&eacute;ricas, nesse caso em especial com a independ&ecirc;ncia das 13 col&ocirc;nias que deram origem aos Estados Unidos (1776)&rdquo;, observa o professor.</p> <p> No fim de 1789, a derrama foi suspensa e comunicada em 14 de mar&ccedil;o do ano seguinte. Com a dela&ccedil;&atilde;o &ldquo;premiada&rdquo; feita por Joaquim Silv&eacute;rio dos Reis, o movimento dos inconfidentes &eacute; abortado e as pris&otilde;es ocorrem a partir de 2 de maio.</p> <p> Ao entregar os inconfidentes &agrave; Coroa portuguesa, com a qual estava em d&eacute;bito, Silv&eacute;rio dos Reis teve sua d&iacute;vida perdoada.</p> <p> &ldquo;Fez uma den&uacute;ncia por escrito e uma dela&ccedil;&atilde;o premiada, porque teve benef&iacute;cios e n&atilde;o pagou suas d&iacute;vidas &agrave; Fazenda Real&rdquo;, observa o professor. Preso durante tr&ecirc;s anos, no Rio, Tiradentes foi enforcado em 21 de abril de 1792.</p> <p> Assim, o levante ganhava finalmente um rosto &ndash; na verdade, o &uacute;nico conhecido, at&eacute; hoje, de um integrante do movimento pela liberdade, reprimido em 1789 por ordem da rainha de Portugal, dona Maria I, a Louca.</p> <p> Em Minas, a primeira a&ccedil;&atilde;o pedindo a transfer&ecirc;ncia das ossadas dos conjurados mineiros partiu do poeta e autor da obra Hist&oacute;ria da Inconfid&ecirc;ncia de Minas Gerais, Augusto de Lima J&uacute;nior (1889-1970).</p> <p> <strong>REFRESCO PARA A MEM&Oacute;RIA</strong></p> <p> &raquo; O dia 21 de abril &eacute; marco que se refere &agrave; morte de Tiradentes, enforcado no Rio de Janeiro nessa data, em 1792. A Inconfid&ecirc;ncia ou Conjura&ccedil;&atilde;o Mineira se deu entre aproximadamente 1788 e 1789</p> <p> &raquo; A palavra inconfidente tinha um sentido pejorativo e, aos olhos e ouvidos da Coroa portuguesa, significava traidor. Conjura&ccedil;&atilde;o quer dizer conspira&ccedil;&atilde;o e &eacute; mais apropriada aos ideais dos mineiros do s&eacute;culo 18</p> <p> &raquo; A bandeira da rep&uacute;blica dos inconfidentes tinha no centro do pano branco um tri&acirc;ngulo vermelho simbolizando a Sant&iacute;ssima Trindade e a inscri&ccedil;&atilde;o retirada do poeta Virg&iacute;lio: Libertas quae sera tamem &ndash; Liberdade ainda que tardia. O formato foi adotado como bandeira de Minas Gerais</p> <p> &raquo; A senha dos conspiradores era: &ldquo;hoje &eacute; o dia do batizado&rdquo;, uma refer&ecirc;ncia &agrave; data da derrama. Isso foi combinado durante o batizado da filha de Alvarenga Peixoto</p> <p> &raquo; Em Minas, na segunda metade do s&eacute;culo 18, houve outros movimentos que receberam o nome de inconfid&ecirc;ncia: em Curvelo, Sabar&aacute; e Mariana. Mas nesses casos n&atilde;o houve a mesma repercuss&atilde;o da de 1789</p> <p> &raquo; Em Minas, outra revolta memor&aacute;vel contra a cobran&ccedil;a exorbitante de impostos foi a Sedi&ccedil;&atilde;o de Vila Rica, em 1720, que teve &agrave; frente Felipe dos Santos</p> <p align="right"> <em>Fonte: EM</em></p>

Bom Dia Online- Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.

by Mediaplus