Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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22/04/2017 18h23

Dia da Terra: fil?sofo holand?s escreve Carta ? Humanidade

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<p> Koert van Mensvoort, fil&oacute;sofo holand&ecirc;s &ndash; fundador da Next Nature Network e membro da &lsquo;Next Nature&rsquo; na Universidade de Tecnologia em Eindhoven &ndash; escreveu uma &lsquo;Carta para a Humanidade&rsquo; em apoio ao Dia Internacional da Terra, comemorado no dia 22 de abril. Em sua carta, ele convoca a humanidade a evitar se tornar escrava e v&iacute;tima de sua pr&oacute;pria tecnologia, mas empregar a tecnologia para aprimorar a ra&ccedil;a humana.</p> <p> Sua carta est&aacute; endere&ccedil;ada a todas as 7 bilh&otilde;es de pessoas na Terra. Ela foi traduzida em 25 idiomas de todo o mundo e est&aacute; endossada por embaixadores internacionais como o astronauta Andr&eacute; Kuipers, o fil&oacute;sofo Bas Haring, o designer Daan Roosegaarde, o apresentador da National Geographic Jason Silva e a professora de arquitetura experimental Rachel Armstrong.</p> <p> &nbsp;</p> <p> Na carta, Van Mensvoort descreve como o homem entrou em uma nova fase evolucion&aacute;ria e que, al&eacute;m de criar a biosfera, atualmente tamb&eacute;m criou a suposta tecnosfera. De acordo com ele, seu impacto &eacute; semelhante &agrave; evolu&ccedil;&atilde;o dos animais h&aacute; 500 milh&otilde;es de anos. &ldquo;Sua presen&ccedil;a est&aacute; transformando a face da Terra de maneira t&atilde;o profunda que ainda ser&aacute; evidente daqui a milh&otilde;es de anos&rdquo;, escreve ele.</p> <p> De acordo com ele, o Homem est&aacute; numa encruzilhada e pode fazer com que sua rela&ccedil;&atilde;o com a tecnologia se transforme num sonho ou num pesadelo. No cen&aacute;rio do pesadelo, a tecnologia possui um efeito parasita nos seres humanos e nos tornamos a primeira esp&eacute;cie a causar seu pr&oacute;prio fim. No do sonho, a tecnologia humana est&aacute; baseada nas necessidades humanas como ponto de partida e, na verdade, &eacute; usada para criar um mundo mais natural. O &uacute;ltimo caminho &eacute; recompensador para a humanidade bem como para todo o planeta.</p> <p> Koert van Mensvoort &eacute; fil&oacute;sofo, artista e membro da &lsquo;Next Nature&rsquo; na Universidade de Tecnologia em Eindhoven. Ele &eacute; o fundador da Next Nature Network, uma funda&ccedil;&atilde;o que explora e visualiza at&eacute; que ponto estamos rodeados por uma tecnologia que est&aacute; se tornando nossa &lsquo;next nature&rsquo;. Essa rede internacional agora possui membros em vinte pa&iacute;ses.</p> <p> A carta em portugu&ecirc;s pode ser lida em http://lettertohumanity.org/portugues/ ou abaixo.</p> <p> <strong>Carta &agrave; Humanidade</strong></p> <p> Querida Humanidade,</p> <p> Parece estranho escrever-te uma carta, admito. As cartas s&atilde;o geralmente dirigidas a um indiv&iacute;duo ou a um grupo limitado de pessoas. N&atilde;o &eacute; habitual escrever para a humanidade como um todo. Tu nem tens um endere&ccedil;o postal, e eu duvido que recebas muita correspond&ecirc;ncia. Ainda assim, pensei que estava na hora de te escrever.</p> <p> Obviamente, eu compreendo que n&atilde;o posso chegar completamente a todos &ndash; porque a humanidade n&atilde;o s&oacute; consiste em cada pessoa que est&aacute; viva agora, mas tamb&eacute;m em todos os que j&aacute; viveram. S&atilde;o 107 mil milh&otilde;es de pessoas. E depois h&aacute; todos os outros que ainda n&atilde;o nasceram &ndash; espero que haja muitos deles. Voltarei a isso mais tarde, mas antes de falar sobre o futuro, gostaria de olhar para tr&aacute;s.</p> <p> Fizemos um longo caminho, querida humanidade.</p> <p> Nenhum outro animal moldou os seus arredores t&atilde;o completamente como tu. Come&ccedil;ou h&aacute; algum tempo, h&aacute; cerca de 200.000 anos atr&aacute;s. Naquela &eacute;poca, n&atilde;o existia nenhum pr&eacute;mio Nobel por ter a brilhante ideia de usar peles de animais para manter o calor, ou controlar o fogo, ou inventar a lan&ccedil;a ou o sapato. Todas estas foram inven&ccedil;&otilde;es excecionalmente inteligentes que n&atilde;o apenas te permitiram sobreviver no teu indisciplinado habitat natural original, como tamb&eacute;m te permitiu mold&aacute;-lo &agrave; tua vontade e domin&aacute;-lo.</p> <p> Os seres humanos nem sempre foram t&atilde;o poderosos. Durante muito tempo, foste uma esp&eacute;cie marginal, sem import&acirc;ncia, localizada nalgum lugar no meio da cadeia alimentar, sem mais controlo sobre o teu ambiente do que os gorilas, borboletas ou alforrecas. Mantiveste-te vivo principalmente colhendo plantas, apanhando insetos, perseguindo pequenos animais e comendo carca&ccedil;as deixadas por predadores muito mais fortes, com os quais viveste em constante medo.</p> <p> Sabias que h&aacute; mais varia&ccedil;&atilde;o gen&eacute;tica no grupo de chimpanz&eacute;s normal do que h&aacute; entre os 7 mil milh&otilde;es de pessoas que vivem na Terra hoje? Os pesquisadores acreditam que isso ocorre porque os seres humanos quase se extinguiram uma vez e a popula&ccedil;&atilde;o global de hoje descende de alguns sobreviventes. Esse facto obriga-nos a sermos modestos. Na realidade, &eacute; um milagre estarmos aqui.</p> <p> Fisicamente, em compara&ccedil;&atilde;o com muitos animais, os seres humanos s&atilde;o criaturas surpreendentemente fr&aacute;geis. Que outro animal entra no mundo nu, gritando e relativamente desamparado, presa f&aacute;cil para qualquer predador que apare&ccedil;a? Um cordeiro rec&eacute;m-nascido pode andar dentro de algumas horas; uma crian&ccedil;a humana leva cerca de um ano para ficar sobre os seus pr&oacute;prios dois p&eacute;s. Outros animais t&ecirc;m sentidos espec&iacute;ficos, &oacute;rg&atilde;os e reflexos que lhes permitem sobreviver em ambientes espec&iacute;ficos, mas tu n&atilde;o est&aacute;s naturalmente equipado para qualquer habitat em particular. No entanto, esta fraqueza aparente tamb&eacute;m provou ser uma for&ccedil;a, permitindo-te a propaga&ccedil;&atilde;o da savana at&eacute; ao Polo Norte, ao fundo do oceano e &agrave; Lua! Essa &eacute; uma conquista &uacute;nica.</p> <p> Algumas pessoas at&eacute; pensam que devias ir al&eacute;m da terra e povoar o universo. Por si mesmo, essa &eacute; uma &oacute;tima ideia, mesmo que seja para evitar que sejas destru&iacute;do algum dia quando um meteorito maci&ccedil;o atingir o planeta. Isso seria uma vergonha. Para ser honesto, por&eacute;m, penso que &eacute; um pouco cedo para procurares ref&uacute;gio noutros mundos. Primeiro, vamos tentar resolver alguns problemas no nosso planeta natal. Porque tem que ser dito que a tua presen&ccedil;a na terra causou problemas: aquecimento global, desfloresta&ccedil;&atilde;o, pl&aacute;stico nos oceanos, radia&ccedil;&atilde;o ionizante, biodiversidade em decl&iacute;nio. &Eacute; o suficiente para fazer uma pessoa deprimida. &Agrave;s vezes parece que fazes mais mal do que bem!</p> <p> Muitas vezes encontro pessoas que acreditam que o planeta seria melhor se n&atilde;o estivesses aqui. Espero n&atilde;o te ofender dizendo isso, querida humanidade, mas sinto-me obrigado a dizer-te que h&aacute; aqueles entre n&oacute;s que desconfiam de ti, olham para ti com desprezo ou simplesmente n&atilde;o gostam de ti porque pensam que est&aacute;s a arruinar o planeta. Eu apresso-me a acrescentar que eu n&atilde;o sou um deles. Eu sempre tive dificuldade em entender tal misantropia, porque, em &uacute;ltima an&aacute;lise, &eacute; uma forma de &oacute;dio pr&oacute;prio.</p> <p> De onde vem essa desconfian&ccedil;a da humanidade? Numa investiga&ccedil;&atilde;o mais aprofundada, descobri que os infetados com ela t&ecirc;m uma imagem particular da humanidade que, na minha opini&atilde;o, &eacute; completamente incorreta: eles v&ecirc;em-na como uma esp&eacute;cie antinatural, que n&atilde;o pertence verdadeiramente &agrave; natureza rom&acirc;ntica, bela e harmoniosa. Creio que este &eacute; um preconceito ing&eacute;nuo que n&atilde;o nos ajudar&aacute; a avan&ccedil;ar, e devemos livrar-nos dele o mais r&aacute;pido poss&iacute;vel. Para entender essa ideia, precisamos de come&ccedil;ar no in&iacute;cio.</p> <p> A Terra surgiu h&aacute; mais de 4,5 mil milh&otilde;es de anos. No in&iacute;cio, n&atilde;o passava de uma pedra solit&aacute;ria no espa&ccedil;o, e levou mais de mil milh&otilde;es de anos at&eacute; que a biosfera do planeta se come&ccedil;asse a formar. Depois disso, levou cerca de 2 mil milh&otilde;es de anos mais para as primeiras plantas multicelulares evolu&iacute;rem. Outros mil milh&otilde;es de anos depois, durante a explos&atilde;o Cambriana, surgiu no planeta um tipo de vida completamente novo: os animais.</p> <p> Os primeiros animais surgiram em cena h&aacute; 500 milh&otilde;es de anos. N&atilde;o sabemos como as plantas, que j&aacute; existiam h&aacute; cerca de mil milh&otilde;es de anos, sentiram o surgimento dos animais. Como sabes, as plantas gostam de ser deixadas em paz; Elas n&atilde;o se movem muito e retiram sustento do sol e do solo. Agora, eu n&atilde;o sei o que as plantas pensam, uma vez que eu n&atilde;o posso falar com elas, mas n&atilde;o me parece imposs&iacute;vel que elas tenham achado agitado e desconfort&aacute;vel ter que aturar os animais ao seu redor. Talvez at&eacute; tenham visto os animais como anti&eacute;ticos, n&atilde;o apenas porque fundamentalmente n&atilde;o tinham ra&iacute;zes e viviam num ritmo inimagin&aacute;vel, mas mais porque faziam algo que naquela &eacute;poca era completamente novo, nunca visto e abomin&aacute;vel: os animais comiam plantas.</p> <p> Tudo considerado, a chegada dos animais pode n&atilde;o ter sido muito divertida para as plantas. A evolu&ccedil;&atilde;o &eacute; incessante, por&eacute;m, e embora uma terra povoada apenas por plantas estava bem como estava, tamb&eacute;m era um pouco ma&ccedil;ador, ou no m&iacute;nimo, menos emocionante do que uma que continha animais tamb&eacute;m (eu vou poupar-te a uma descri&ccedil;&atilde;o de como era no tempo em que a terra n&atilde;o tinha plantas, apenas pedras, o que era ainda mais ma&ccedil;ador).</p> <p> Ent&atilde;o, de volta para o papel da humanidade. Assim como o surgimento dos animais abalou o mundo vegetal, a tua chegada tamb&eacute;m causou problemas. Lembra-te, acabaste de chegar aqui. Os animais existem h&aacute; cerca de 2.000 vezes mais tempo que os humanos, e a vida vegetal simples h&aacute; mais de 7.000 vezes mais tempo. Mas eu n&atilde;o estou a dizer isso para te obrigar &agrave; mod&eacute;stia, porque eu penso que &eacute;s incr&iacute;vel.</p> <p> Embora sejas fundamentalmente uma esp&eacute;cie animal, h&aacute; algo inteiramente &uacute;nico sobre ti, que tem menos a ver com a constru&ccedil;&atilde;o f&iacute;sica humana &ndash; que, como eu disse, &eacute; menos do que impressionante &ndash; e mais com a tua tend&ecirc;ncia inerente para usar a tecnologia. Enquanto outras esp&eacute;cies de animais industriosos transformam os seus arredores &ndash; pensa em tocas de castor e montes de t&eacute;rmitas &ndash; nenhum deles o faz t&atilde;o radicalmente como tu. Estou a usar a palavra &ldquo;tecnologia&rdquo; no sentido mais amplo: por &ldquo;tecnologia&rdquo;, quero dizer todas as formas como o pensamento humano tem um impacto no mundo que nos rodeia &ndash; roupas, ferramentas e carros, mas tamb&eacute;m estradas, cidades, alfabeto, redes digitais, e at&eacute; mesmo empresas multinacionais e o sistema financeiro.</p> <p> Desde que nasceste, est&aacute;s a construir sistemas tecnol&oacute;gicos para te libertares das for&ccedil;as volunt&aacute;rias da natureza. Come&ccedil;ou com um teto sobre a tua cabe&ccedil;a que te protegeu de uma tempestade e tem prosseguido todo o caminho at&eacute; &agrave;s drogas modernas para o tratamento de doen&ccedil;as mortais. Tu &eacute;s tecnol&oacute;gica por natureza. Mas como um peixe que n&atilde;o sabe que est&aacute; a nadar na &aacute;gua, tendes a subestimar o qu&atilde;o intimamente a tua vida est&aacute; entrela&ccedil;ada com a tecnologia e quanto &eacute; feito para ti. Olha para a esperan&ccedil;a de vida, por exemplo. No in&iacute;cio da tua exist&ecirc;ncia, o ser humano m&eacute;dio n&atilde;o poderia esperar viver muito al&eacute;m da idade de 30 anos. Em parte por causa das elevadas taxas de mortalidade infantil, podias contar com a tua pr&oacute;pria sorte se ficasses por a&iacute; o tempo suficiente para te reproduzires. Da perspetiva da M&atilde;e Natureza, isso &eacute; inteiramente normal. Se vires um casal de patos com uma d&uacute;zia de patinhos a nadar atr&aacute;s deles na primavera, n&atilde;o deves surpreender-te se existirem apenas dois, ou com sorte talvez tr&ecirc;s, restantes at&eacute; ao fim do ver&atilde;o.</p> <p> A tecnologia faz parte de n&oacute;s, da mesma forma que as abelhas e as flores evolu&iacute;ram para serem interdependentes. &Agrave; medida que as abelhas apanham o n&eacute;ctar, elas ajudam as flores a reproduzirem-se, espalhando o seu p&oacute;len. Os seres humanos s&atilde;o dependentes da tecnologia, e vice-versa. A tecnologia precisa de n&oacute;s para se espalhar e reproduzir. E a humanidade, que ajuda enorme tem sido nesse ponto! A tecnologia tornou-se t&atilde;o omnipresente no nosso planeta que abriu um novo ambiente, um novo cen&aacute;rio, que est&aacute; a transformar toda a vida na Terra. Uma tecnosfera &ndash; uma ecologia de tecnologias interativas que evoluiu ap&oacute;s a tua chegada &ndash; desenvolveu-se em cima da biosfera existente. O seu impacto sobre a vida na Terra dificilmente pode ser subestimado e &eacute; compar&aacute;vel, e talvez ainda maior, ao do aparecimento dos animais h&aacute; 500 milh&otilde;es de anos.</p> <p> De uma perspetiva evolucion&aacute;ria, tudo isso &eacute; o habitual. A natureza baseia-se sempre nos n&iacute;veis de complexidade existentes: a biologia baseia-se na qu&iacute;mica, a cogni&ccedil;&atilde;o baseia-se na biologia, o c&aacute;lculo baseia-se na cogni&ccedil;&atilde;o. Mas do seu ponto de vista, &eacute; excecional. N&atilde;o consigo pensar noutra esp&eacute;cie cuja presen&ccedil;a tenha desencadeado uma nova fase evolucion&aacute;ria, libertando-se de uma evolu&ccedil;&atilde;o baseada em compostos de ADN, gene e carbono, com milh&otilde;es de anos. Assim como o ADN evoluiu a partir do ARN, as tuas a&ccedil;&otilde;es tornaram poss&iacute;vel um salto para a evolu&ccedil;&atilde;o n&atilde;o gen&eacute;tica em novos materiais, como chips de sil&iacute;cio. Embora n&atilde;o tenha sido um ato consciente, as consequ&ecirc;ncias n&atilde;o s&atilde;o menores. A tua presen&ccedil;a transformou a face da Terra t&atilde;o fundamentalmente que o impacto ainda ser&aacute; vis&iacute;vel daqui a milh&otilde;es de anos. Esta &eacute; a tua obra, mas, at&eacute; agora, tu mal pareces t&ecirc;-lo percebido, e muito menos foste capaz de tomar uma posi&ccedil;&atilde;o clara em rela&ccedil;&atilde;o a isso.</p> <p> Agora, eu compreendo que isso est&aacute; longe de ser uma tarefa simples, s&oacute; porque tu, a humanidade, n&atilde;o &eacute;s um &uacute;nico ser pensante, mas uma confus&atilde;o de milh&otilde;es de indiv&iacute;duos, todos com os seus pr&oacute;prios pensamentos, necessidades e desejos, que n&atilde;o est&atilde;o realmente equipados biologicamente para pensar a um n&iacute;vel planet&aacute;rio em larga escala. No entanto, parece-me ser a quest&atilde;o mais premente do momento. Tu est&aacute;s numa encruzilhada. E &eacute; por isso que te estou a escrever.</p> <p> No que diz respeito ao futuro, vejo dois caminhos poss&iacute;veis ao longo dos quais podes desenvolver uma rela&ccedil;&atilde;o coevolucion&aacute;ria com a tecnologia: o caminho dos sonhos e o dos pesadelos. Vamos come&ccedil;ar com os pesadelos. Toda a rela&ccedil;&atilde;o coevolucion&aacute;ria &ndash; seja entre abelhas e flores ou entre humanos e tecnologia &ndash; corre o risco de se tornar parasita. As rela&ccedil;&otilde;es parasitas, em contraste com as simbi&oacute;ticas, carecem de reciprocidade. Uma sanguessuga, uma t&eacute;nia ou um cuco n&atilde;o devolvem nada ao seu hospedeiro; apenas tiram. Poderia a tens&atilde;o que sentimos em torno da tecnologia ter algo a ver com isso? Apesar de usarmos a tecnologia desde tempos imemoriais, porque nos serve e estende as nossas capacidades, os seres humanos correm o risco de ser os que servem a tecnologia, de se tornarem um meio em vez de um fim, tornando-se h&oacute;spedes da tecnologia. Um exemplo pode ser visto na esfera farmac&ecirc;utica. A medica&ccedil;&atilde;o &eacute;, sem d&uacute;vida, uma tecnologia que salva vidas, mas quando as empresas farmac&ecirc;uticas tentam maximizar os seus pr&oacute;prios n&uacute;meros de crescimento, convencendo todos os que se desviam da m&eacute;dia estat&iacute;stica de qualquer forma que ele ou ela tem uma doen&ccedil;a e precisa do medicamento apropriado, temos que perguntar se eles est&atilde;o realmente a servir a humanidade ou apenas a satisfazer as necessidades da ind&uacute;stria e dos seus acionistas.</p> <p> Onde fica exatamente a fronteira entre as tecnologias que facilitam a nossa humanidade e aquelas que nos encaixotam e roubam o nosso potencial inato? O espectro final &eacute; que tu, a humanidade, acabas por te tornar nada mais do que o &oacute;rg&atilde;o sexual que um organismo tecnol&oacute;gico maior requer para se reproduzir e se espalhar. Formas de vida encapsuladas dentro de outras maiores podem ser encontradas noutras partes da natureza: por exemplo, pensa na flora intestinal que executa v&aacute;rias tarefas &uacute;teis dentro dos nossos corpos. Ser&aacute; que em breve n&atilde;o seremos mais do que os micr&oacute;bios na barriga da besta tecnol&oacute;gica? Nesse ponto, a humanidade n&atilde;o ser&aacute; mais um fim, mas um meio. E eu n&atilde;o vejo isso como desej&aacute;vel, porque eu sou uma pessoa, e eu estou a jogar pela equipa da humanidade.</p> <p> Agora para o sonho.</p> <p> O sonho &eacute; que tu acordas e percebes que ser um humano n&atilde;o &eacute; um ponto final, mas um processo. A tecnologia n&atilde;o altera s&oacute; o nosso ambiente, em &uacute;ltima an&aacute;lise, altera-nos. As mudan&ccedil;as vindouras permitir&atilde;o que tu sejas mais humano do que nunca. E se usarmos a tecnologia para ampliar as nossas melhores qualidades humanas e para nos apoiar nas nossas fraquezas?</p> <p> Poder&iacute;amos chamar a essa tecnologia de humana, &agrave; falta de uma palavra melhor. A tecnologia humana tomaria as necessidades humanas como ponto de partida. Isso serviria os nossos pontos fortes, em vez de nos tornar sup&eacute;rfluos. Ela expandiria os nossos sentidos ao inv&eacute;s de os embotar. Seria sintonizada com os nossos instintos; pareceria natural. A tecnologia humana n&atilde;o s&oacute; serviria os indiv&iacute;duos, mas, em primeiro lugar, a humanidade como um todo. E por &uacute;ltimo mas n&atilde;o menos importante, iria perceber os sonhos que n&oacute;s os seres humanos temos sobre n&oacute;s pr&oacute;prios.</p> <p> Ent&atilde;o, com o que sonhas? Voar como um p&aacute;ssaro? Viver na Lua? Nadar como um golfinho? Comunicar pelo sonar? Telepatia com os teus entes queridos? Igualdade entre os sexos e as ra&ccedil;as? A empatia como um sexto sentido? Uma casa que crescesse com a tua fam&iacute;lia? Queres viver mais? Talvez pudesses viver para sempre.</p> <p> Ouve, humanidade: tu j&aacute; foste uma esp&eacute;cie relativamente insignificante, mas os teus dias de inf&acirc;ncia acabaram. Gra&ccedil;as &agrave; tua inventividade e criatividade, levantaste-te da lama da savana. Tornaste-te num catalisador evolucion&aacute;rio que est&aacute; a transformar a face da Terra. Esse processo n&atilde;o est&aacute; completo. Tu &eacute;s uma dobradi&ccedil;a entre a biosfera de onde surgiste e a tecnosfera que surgiu ap&oacute;s a tua chegada. O teu comportamento afeta n&atilde;o apenas o teu pr&oacute;prio futuro, mas o planeta como um todo e todas as outras esp&eacute;cies que vivem nele. Essa n&atilde;o &eacute; uma responsabilidade pequena.</p> <p> Se n&atilde;o pensas que est&aacute;s equipado para isso, devias ter ficado na tua caverna. Mas esse n&atilde;o &eacute; o teu estilo. Tens sido tecnol&oacute;gica desde o dia em que nasceste. O desejo de voltar &agrave; natureza &eacute; t&atilde;o compreens&iacute;vel quanto imposs&iacute;vel. N&atilde;o s&oacute; seria covarde diante do desconhecido, mas negaria a tua humanidade. N&atilde;o podemos imaginar o futuro da humanidade sem pensar no futuro da tecnologia. Deves seguir em frente &ndash; mesmo que s&oacute; agora tenhas chegado aqui. Tu &eacute;s uma adolescente, mas est&aacute; na hora de crescer. A tecnologia &eacute; o autorretrato da humanidade. &Eacute; a materializa&ccedil;&atilde;o do engenho humano no mundo f&iacute;sico. Vamos fazer uma obra de arte de que nos possamos orgulhar. Vamos usar a tecnologia para construir um mundo mais natural e tra&ccedil;ar um caminho para o futuro, que funcione n&atilde;o s&oacute; para a humanidade, mas para todas as outras esp&eacute;cies, o planeta e, finalmente, o universo como um todo.</p> <p> Para encerrar, eu gostaria de te pedir que fa&ccedil;as algo. Gostaria de convidar cada um de voc&ecirc;s &ndash; vivendo e ainda n&atilde;o nascido, na Terra e noutros lugares &ndash; a fazer uma simples pergunta sobre cada mudan&ccedil;a tecnol&oacute;gica que aparece na tua vida: isto aumenta a minha humanidade?</p> <p> A resposta geralmente n&atilde;o ser&aacute; preto ou branco, sim ou n&atilde;o. Mais frequentemente, ser&aacute; algo como 60 por cento sim, 40 por cento n&atilde;o. E &agrave;s vezes discordar&aacute;s com outras pessoas e ter&aacute;s de debater o assunto antes de chegar a um acordo. Mas isso &eacute; bom. Se todos n&oacute;s consistentemente optarmos por tecnologia que aumenta a nossa humanidade, eu sei que vais ficar bem. Como? Isso continua por ser visto. Ningu&eacute;m sabe como ser&atilde;o os seres humanos daqui a um milh&atilde;o de anos, ou se haver&aacute; at&eacute; mesmo seres humanos, e se assim for, se eu os reconheceria como humanos. Vamos aceitar implantes? Reprograma&ccedil;&atilde;o do nosso ADN? O dobro do tamanho do nosso c&eacute;rebro? Comunicar telepaticamente? Brotaram asas? Eu n&atilde;o sei e n&atilde;o posso saber. Mas a minha esperan&ccedil;a &eacute; que daqui a um milh&atilde;o de anos ainda haver&aacute; uma coisa como a humanidade. Porque enquanto houver humanidade, haver&aacute; seres humanos.</p> <p> Do n&uacute;cleo da minha humanidade humilde e imperfeita, desejo-vos felicidade, amor e uma viagem longa e empolgante.</p> <p> Na expectativa de que trar&aacute;s trili&otilde;es de pessoas mais, tudo de melhor,</p> <p style="text-align: right;"> <em><strong>Koert van Mensvoort</strong></em></p> <p> <em><strong>PS:</strong> Nota para o leitor individual: Depois de leres esta carta, por favor passa-a a um dos teus companheiros humanos. Se quiseres fazer mais, tamb&eacute;m podes copiar, traduzir, reimprimir e distribu&iacute;-la. A humanidade somos todos n&oacute;s.</em></p>

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