Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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19/04/2017 09h02

Os Sinos Anunciam: Dia do ?ndio ou do ind?gena?

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<p> Em 19 de abril comemora-se o Dia do &ldquo;&Iacute;ndio&rdquo;. Muitos n&atilde;o sabem, mas um erro conceitual j&aacute; pode ser visto nessa frase. Em seu blog, o escritor ind&iacute;gena Daniel Munduruku, doutor em Educa&ccedil;&atilde;o pela Universidade de S&atilde;o Paulo (USP) e diretor-presidente do Instituto UKA, afirma que, embora o senso comum tenha sempre levado a crer que as palavras &iacute;ndio e ind&iacute;gena tenham rela&ccedil;&atilde;o direta, isso n&atilde;o &eacute; uma realidade.</p> <p> &ldquo;Mesmo os dicion&aacute;rios t&ecirc;m alguma dificuldade em definir com precis&atilde;o o que seria o termo &iacute;ndio. Quando muito, dizem que &eacute; como foram chamados os primeiros habitantes do Brasil. Isso, no entanto, n&atilde;o &eacute; uma defini&ccedil;&atilde;o, &eacute; um apelido, e apelido que se d&aacute; para quem parece ser diferente de n&oacute;s [...]. Por este caminho, veremos que n&atilde;o h&aacute; conceitos relativos ao termo, apenas preconceito: selvagem, atrasado, pregui&ccedil;oso, canibal, estorvo, bugre s&atilde;o alguns deles.&rdquo;</p> <p> Por outro lado, o termo ind&iacute;gena significa &ldquo;original do lugar&rdquo;, &ldquo;nativo&rdquo;. &ldquo;Pode-se notar, assim, que &eacute; muito mais interessante reportar-se a algu&eacute;m que vem de um povo ancestral pelo termo ind&iacute;gena do que &iacute;ndio&rdquo;, conclui.</p> <p> Daniel considera &ldquo;trai&ccedil;oeira&rdquo; outra palavra corriqueiramente usada para identificar povos ind&iacute;genas: &ldquo;tribo&rdquo;. O emprego do termo &eacute; criticado por trazer conota&ccedil;&atilde;o pejorativa, associando a um suposto est&aacute;gio &ldquo;primitivo&rdquo;. &ldquo;A palavra tribo est&aacute; inserida na compreens&atilde;o de que somos pequenos grupos incapazes de viver sem a interven&ccedil;&atilde;o do estado. Ser tribo &eacute; estar sob o dom&iacute;nio de um senhor ao qual se deve reverenciar. Observem que essa &eacute; a l&oacute;gica colonial, a l&oacute;gica do poder, a l&oacute;gica da domina&ccedil;&atilde;o.&rdquo; Dessa forma, o indicado &eacute; substituir a palavra por &ldquo;povo&rdquo;.</p> <p> &ldquo;A palavra chegou at&eacute; o s&eacute;culo XXI e continua sendo um fantasma a assustar os nativos brasileiros. [...] Ao conseguir se livrar deste modo gen&eacute;rico de referir-se aos povos ind&iacute;genas, a sociedade brasileira ir&aacute; dar um passo enorme na sua capacidade de conviver com a diferen&ccedil;a. [...] Aqui n&atilde;o h&aacute; &iacute;ndios, h&aacute; ind&iacute;genas; n&atilde;o h&aacute; tribos, mas povos; n&atilde;o h&aacute; uma gente ind&iacute;gena, mas muitas gentes, muitas cores, muitos saberes e sabores.&rdquo;</p> <p> A comemora&ccedil;&atilde;o do &ldquo;Dia do &Iacute;ndio&rdquo; nas escolas</p> <p> Aquit&atilde;, o indiozinho: personagem da s&eacute;rie Que medo!, produzida pela MultiRio (Foto: Reprodu&ccedil;&atilde;o)</p> <p> A escolha do dia 19 de abril &eacute; uma refer&ecirc;ncia &agrave; data em que lideran&ccedil;as ind&iacute;genas se reuniram pela primeira vez em assembleia, no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no M&eacute;xico em 1940. Fora do continente americano, a homenagem &eacute; feita no dia 9 de agosto, por determina&ccedil;&atilde;o da Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas (ONU).</p> <p> Na vis&atilde;o de Munduruku, a comemora&ccedil;&atilde;o nas escolas &eacute;, em geral, um equ&iacute;voco, porque costuma generalizar a diversidade ind&iacute;gena, criando uma imagem equivocada e distante da realidade. &ldquo;Dessa maneira, as crian&ccedil;as acabam aprendendo a discriminar em vez de se aproximar. Isso naturalmente gera uma desinforma&ccedil;&atilde;o capaz de alimentar o preconceito contra nossos povos.&rdquo;</p> <p> A sa&iacute;da seria, ent&atilde;o, esquecer o Dia do &Iacute;ndio como data comemorativa e pensar em como aproveitar a ocasi&atilde;o para fazer uma leitura cr&iacute;tica das quest&otilde;es que afetam esses povos. &ldquo;&Eacute; importante que as escolas comecem a pensar os ind&iacute;genas como seus contempor&acirc;neos, ou seja, como grupos que est&atilde;o vivendo este mesmo tempo, com todas as suas facilidades tecnol&oacute;gicas e, mesmo assim, procurando manter vivas suas tradi&ccedil;&otilde;es. Assim, todos poder&atilde;o perceber que s&atilde;o povos que lutam por dignidade e pelo direito de manter suas formas ancestrais de vida.&rdquo;</p> <p> Segundo Munduruku, atividades como brincadeiras de roda, jogos de coopera&ccedil;&atilde;o, conta&ccedil;&atilde;o de hist&oacute;rias e confec&ccedil;&atilde;o de materiais s&atilde;o algumas possibilidades pedag&oacute;gicas para tratar do assunto, adaptadas &agrave; faixa et&aacute;ria dos alunos. &ldquo;Com isso se trabalham valores humanos, respeito &agrave;s diferen&ccedil;as, solidariedade. O importante &eacute; mostrar &agrave;s crian&ccedil;as que os ind&iacute;genas s&atilde;o pessoas normais, com problemas, dificuldades e criatividade. Mas tamb&eacute;m cheios de vida, imagina&ccedil;&atilde;o, cren&ccedil;as e respeito pelo meio ambiente.&rdquo;</p> <p> <strong>Legisla&ccedil;&atilde;o e mudan&ccedil;a de conduta</strong></p> <p> A inclus&atilde;o da hist&oacute;ria e da cultura afro-brasileira e ind&iacute;gena nos curr&iacute;culos da Educa&ccedil;&atilde;o B&aacute;sica brasileira &eacute; prevista pelas leis 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008.</p> <p> De acordo com Daniel, a legisla&ccedil;&atilde;o &eacute; fundamental porque obriga as escolas a repensarem suas a&ccedil;&otilde;es, os professores a sa&iacute;rem de seu comodismo, o Estado a propor mudan&ccedil;as e as institui&ccedil;&otilde;es a criarem novos mecanismos pedag&oacute;gicos.</p> <p> &ldquo;A lei obriga. No entanto, a lei n&atilde;o muda as pessoas. Pessoas mudam pessoas. Para isso, precisam estar dispostas a rever seus modelos, seus paradigmas, suas cren&ccedil;as. A mudan&ccedil;a passa pelas pessoas. Os educadores precisam assumir que pouco sabem sobre as culturas ind&iacute;genas e buscar constante atualiza&ccedil;&atilde;o, para sair da pris&atilde;o mental a que est&atilde;o submetidos pela educa&ccedil;&atilde;o colonizadora que ainda impera no Brasil. Apenas assim os conte&uacute;dos mudar&atilde;o e as possibilidades de transformar ser&atilde;o efetivas e verdadeiras. Esse &eacute; um movimento que n&atilde;o pode parar nunca, para o bem da educa&ccedil;&atilde;o e dos educandos.&rdquo;</p> <p style="text-align: right;"> <em>Por Fernanda Fernandes</em></p>

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