Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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19/04/2017 08h04

Dia do ?ndio: Cinco s?culos depois da chegada dos europeus ao Brasil, a luta continua

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<p> 19 de abril, Dia do &Iacute;ndio, &eacute; considerado como uma das datas principais para que as pautas dessa popula&ccedil;&atilde;o entrem no debate p&uacute;blico. Ao mesmo tempo em que lutam por reivindica&ccedil;&otilde;es hist&oacute;ricas, os povos ind&iacute;genas do Brasil pretendem atualizar o modo como a sociedade os enxerga. ZH ouviu estudiosos para entender as principais aspira&ccedil;&otilde;es dos movimentos ind&iacute;genas.</p> <p> No Brasil, segundo o &uacute;ltimo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE), a popula&ccedil;&atilde;o ind&iacute;gena &eacute; de 817.963 pessoas. Ao todo, segundo levantamento do Instituto Socioambiental, h&aacute; atualmente 252 povos, maior parte deles concentrada na regi&atilde;o Norte.</p> <p> Uma das principais bandeiras dos movimentos dessas etnias ainda &eacute; terra. Ind&iacute;genas aguardam o direito a territ&oacute;rios originalmente ind&iacute;genas e protestam contra novos projetos de lei que alteram o processo de demarca&ccedil;&otilde;es. A mais debatida &eacute; a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere o poder de demarcar terras da Uni&atilde;o para o Congresso e admite a revis&atilde;o das &aacute;reas j&aacute; delimitadas. Segundo dados dispon&iacute;veis na plataforma da Funda&ccedil;&atilde;o Nacional do &Iacute;ndio (Funai), h&aacute; 435 terras tradicionalmente ind&iacute;genas j&aacute; regularizadas, 127 ainda est&atilde;o em processo de demarca&ccedil;&atilde;o e 116 ainda passam por estudos, para fundamentar a identifica&ccedil;&atilde;o do territ&oacute;rio como ind&iacute;gena.</p> <p> De acordo com Jose Otavio Catafesto, professor e antrop&oacute;logo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Constitui&ccedil;&atilde;o de 1988 colocou como prioridade as demandas ind&iacute;genas &mdash; a mais b&aacute;sica seria a do reconhecimento dos territ&oacute;rios. Desde a d&eacute;cada de 1980, a situa&ccedil;&atilde;o dos &iacute;ndios vive o seu quadro mais dram&aacute;tico, afirma.</p> <p> &mdash; Existem dispositivos e portarias que seriam para sustentar o reconhecimento dessas terras que est&atilde;o paradas, principalmente, pela for&ccedil;a da bancada ruralista. Isso faz com que os &iacute;ndios fiquem at&eacute; hoje &agrave; m&iacute;ngua, em acampamentos nas beiras das estradas &mdash; diz Catafesto.</p> <p> <strong>Disputa de espa&ccedil;o com minera&ccedil;&atilde;o e agropecu&aacute;ria</strong></p> <p> Segundo levantamento publicado no livro Povos Ind&iacute;genas no Brasil 2011/2016, editado pelo Instituto Socioambiental, atualmente tramitam 103 propostas de lei na C&acirc;mara e 86 no Senado que s&atilde;o de interesse dessas popula&ccedil;&otilde;es. &quot;S&atilde;o propostas sobre temas variados, como altera&ccedil;&otilde;es constitucionais voltadas a paralisar a demarca&ccedil;&atilde;o das terras ind&iacute;genas ainda pendentes de reconhecimento estatal, anular terras ind&iacute;genas j&aacute; demarcadas, homologadas e implantadas, bem como permitir o desenvolvimento de atividades miner&aacute;rias, hidrel&eacute;tricas e agropecu&aacute;rias dentro de territ&oacute;rios tradicionais&quot;, afirma o documento.</p> <p> Pesquisadores envolvidos nas causas tamb&eacute;m veem como essencial para avan&ccedil;os nas causas ind&iacute;genas o reconhecimento e o respeito &agrave; diversidade dessas culturas, que s&atilde;o diferentes entre as comunidades ind&iacute;genas.</p> <p> &mdash; Entre povos, h&aacute; diversas diferen&ccedil;as. Cada comunidade tem suas especificidades em termos de comportamento e de l&iacute;nguas &mdash; explica Catafesto.</p> <p> H&aacute; ainda um distanciamento grande em rela&ccedil;&atilde;o aos &iacute;ndios, acredita a antrop&oacute;loga e produtora da s&eacute;rie &Iacute;ndio Presente, Juliana Almeida. Ao produzir o document&aacute;rio &mdash; dividido em epis&oacute;dios &mdash;, ela pretende desmistificar conceitos formados sobre essa popula&ccedil;&atilde;o que s&atilde;o aparentes.</p> <p> &mdash; As pessoas ainda veem os &iacute;ndios no passado, como se eles fossem os mesmos de 500 anos atr&aacute;s. Elas t&ecirc;m uma dificuldade de ver os povos ind&iacute;genas na perspectiva contempor&acirc;nea &mdash; comenta Juliana. &mdash; Todos os grupos humanos sofrem altera&ccedil;&otilde;es culturais e transforma&ccedil;&otilde;es, mas isso &eacute; muito controlado no povo ind&iacute;gena. &Eacute; uma forma de questionar a identidade deles e de questionar seus direitos.</p> <p> <strong>Governo tem dificuldade de entender demandas ind&iacute;genas</strong></p> <p> Para Renata Machado, 27 anos, de etnia Tupinamb&aacute;, a quest&atilde;o territorial &eacute; garantia da sobreviv&ecirc;ncia dos povos ind&iacute;genas e das suas culturas. Jornalista e coordenadora de uma webr&aacute;dio ind&iacute;gena, ela se divide entre o Rio de Janeiro e a aldeia onde mora o marido.</p> <p> Apesar de grande parte da popula&ccedil;&atilde;o de &iacute;ndios estarem nos centros urbanos (cerca de 38%), as comunidades ainda s&atilde;o a base das tradi&ccedil;&otilde;es e de conviv&ecirc;ncia, conta Renata. Esse tr&acirc;nsito de pessoas ind&iacute;genas entre as cidades e as tribos, para estudar ou em busca de renda, tamb&eacute;m traz &agrave; tona as diferentes necessidades dessa popula&ccedil;&atilde;o que, segundo ela, devem ser consideradas pelas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas.</p> <p> &mdash; Existe essa percep&ccedil;&atilde;o de que s&oacute; quem &eacute; aldeado &eacute; ind&iacute;gena. O governo brasileiro tem muita dificuldade de implementar pol&iacute;ticas p&uacute;blicas porque n&atilde;o entende as demandas, ou n&atilde;o faz quest&atilde;o &mdash; reclama.</p> <p> Ao percorrer 11 Estados para fazer a s&eacute;rie documental, a antrop&oacute;loga e produtora Juliana Almeida percebeu uma s&eacute;rie de mitos acerca dos &iacute;ndios e uma vis&atilde;o romantizada e marginalizada dessa popula&ccedil;&atilde;o.</p> <p> &mdash; Muitos achavam que nem existiam &iacute;ndios no Brasil, ou que &iacute;ndios n&atilde;o poderiam ser presos, por exemplo &mdash; revela.</p> <p> A produtora tamb&eacute;m enxerga a necessidade de mostrar &agrave; sociedade a vers&atilde;o dos &iacute;ndios sobre a hist&oacute;ria. A identidade dos povos ind&iacute;genas &eacute; um aspecto importante. Ela identificou que os grupos que migram para as cidades sempre ficam conectados com outras pessoas da aldeia. Quem cursa faculdade, por exemplo, volta para exercer a profiss&atilde;o dentro da comunidade. Ela cita uma frase usada por ind&iacute;gena para descrever a complexidade entre a demanda por terra e a viv&ecirc;ncia nos espa&ccedil;os urbanos.</p> <p> &mdash; &quot;Se eu sou pelado, eu sou selvagem. Se eu ando de roupa, n&atilde;o sou mais &iacute;ndio&quot;.</p> <p> <strong>Nas aldeias, faltam direitos essenciais</strong></p> <p> Al&eacute;m das terras que significam para os &iacute;ndios o direito &agrave; vida e a preserva&ccedil;&atilde;o da cultura, os servi&ccedil;os b&aacute;sicos dentro dessas comunidades s&atilde;o reivindicados. De acordo com dados levantados a partir do Censo Escolar de 2015, o Instituto Socioambiental afirma que, das 3.085 escolas ind&iacute;genas, cerca de 30% n&atilde;o tem pr&eacute;dio pr&oacute;prio, apenas 10% contam com biblioteca e metade n&atilde;o t&ecirc;m esgoto sanit&aacute;rio, o que tamb&eacute;m &eacute; um risco para a sa&uacute;de dessas comunidades.</p> <p> &mdash; Na aldeia onde meu marido vive, chegou-se a um ponto que eles t&ecirc;m de pagar para servi&ccedil;os de sa&uacute;de dentro da aldeia. A situa&ccedil;&atilde;o &eacute; dif&iacute;cil &mdash; diz Renata.</p> <p style="text-align: right;"> <em>Fonte: Zero Hora</em></p>

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