17/03/2017 11h28
Primeira edi??o feminina da revista A Estrela ? lan?ada
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O completo desrespeito à dignidade humana ganhou as manchetes da imprensa no início de 2017. Rebeliões, chacinas e fugas de presídios superlotados denunciaram a calamidade do sistema prisional brasileiro. Foi nesse contexto que a revista <em>A Estrela</em> – periódico realizado por pessoas privadas de liberdade – chegou, pela primeira vez, a uma unidade prisional feminina, a Apac de Rio Piracicaba, em Minas Gerais.</p>
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Em sua terceira edição, a revista, agora realizada por 20 mulheres que cumprem pena, foi lançada no dia 10 de março. Histórias de abandono, agressões, torturas, coragem e resignação deram forma a 32 páginas de textos e fotos com a perspectiva única de quem vive a realidade de uma unidade prisional. O evento de lançamento ocorreu às 18 horas, na sede da Apac de Rio Piracicaba.</p>
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“Pela primeira vez contamos com uma turma de mulheres. Elas que acabam abandonadas pelos companheiros que antes já visitaram sob chuva ou sob sol em outros presídios. Elas que se preocupam com os filhos do lado de fora e sabem que são negligenciados por toda a sociedade como elas foram e ainda são. Elas que um dia foram violentadas, agredidas, negadas. E ainda são. Elas que (dizem) são o sexo frágil se mostram fortes. Enfrentam temas que nenhum participante deste trabalho já tinha encarado. Buscaram em suas memórias as mais profundas dores. Questionaram o que tantos querem tornar natural. Elas, de quem pouco se esperava, fizeram mais do que qualquer um já fez antes nesta revista”, destacam a jornalista Natália Martino e o fotógrafo Leo Drumond, idealizadores do projeto, no editorial que abre a terceira edição da <em>Estrela</em>.</p>
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Durante o curso, as participantes da Apac Feminina de Rio Piracicaba participaram de aulas teóricas, práticas monitoradas, discussão de pautas e tempo para produção de conteúdo dentro da unidade prisional. A revista será um canal de expressão das detentas, com funções informativas e artísticas. “Em outros trabalhos do Projeto Voz, tivemos a oportunidade de ir a unidades carcerárias femininas e ficou evidente para nós que a prisão tem impactos diferentes em suas vidas e nas vidas de suas famílias”, destaca Martino. Segundo ela, em um sistema carcerário feito por homens e para homens, as mulheres costumam passar por privações maiores dentro das unidades e, ainda, sofrem mais com o abandono dos familiares. “Até os crimes pelos quais são condenadas têm características muito diferentes. Por isso é importante termos essa edição da revista <em>A Estrela</em> com as mulheres, para que elas falem das suas realidades e nos ajudem, assim, a ter mais um pedaço desse quebra-cabeça enorme que é o sistema carcerário”.</p>
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<strong>Apac Feminina de Rio Piracicaba</strong></p>
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A Apac Feminina foi fundada em 19 de fevereiro de 2008 e recebe condenadas da Região do Médio Piracicaba e outras cidades e disponibiliza 46 vagas divididas em regimes semiaberto e fechado. O método Apac baseia-se na valorização humana oferecendo aos condenados condições de recuperação, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena. Busca também, em uma perspectiva mais ampla, a proteção da sociedade, a promoção da justiça e o socorro das vítimas.</p>
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<strong>A revista</strong></p>
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Homenagem ao periódico homônimo que circulou na década de 1940. <em>A Estrela</em> era produzido na Penitenciária Central do Distrito Federal e publicava artigos feitos por detentos ao lado de textos escritos por grandes expoentes do direito penal no período. Um editorial de 1944 resume bem o perfil da publicação: "Quem melhor do que o próprio encarcerado poderá indicar aquilo de que mais carece? Para que legislar, decretar; para que conferências penitenciárias se àquele mais fundamentalmente visado por essas medidas é recusado o direito de falar, e quando os seus mais justos anseios devem ser recalcados?".</p>
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<strong>As publicações</strong></p>
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A revista e a publicação digital <em>A Estrela </em>contam com conteúdo exclusivamente produzido pelos detentos. São ensaios fotográficos, textos em diversos formatos e vídeos. Nas duas primeiras edições, produzidas na Associação de Proteção ao Condenado (Apac) de Itaúna e de São João del Rei (MG), os participantes desenharam a logomarca da revista, que será revista em cada um dos números seguintes, de acordo com os talentos de desenho dos recuperandos. Todos são incentivados a se expressar com qualquer recurso artístico que desejarem, como ilustrações e composições musicais. Para conferir o que foi feito nos números já produzidos, basta acessar o material no site <a href="http://www.projetovoz.com.br/">www.projetovoz.com.br</a></p>
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<strong>Realização</strong></p>
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O trabalho é realizado pela Nitro Editorial e comandado pela jornalista Natália Martino e o fotógrafo Leo Drumond.</p>