Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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22/11/2016 08h55

Arte e cultura na era digital

Arte e cultura na era digital

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<p style="text-align: justify;"> A arte e a cultura, assim como tudo no mundo contempor&acirc;neo encontram-se diante de m&uacute;ltiplos desafios. Como se fazer notar num mundo cada vez menos palp&aacute;vel? Como criar valor num mundo cada vez mais pirata? Como inovar artisticamente, num mundo cada vez mais utilit&aacute;rio?</p> <p style="text-align: justify;"> Se Van Gogh nascesse em tempos digitais provavelmente seria um designer. A publicidade poderia aproveitar muito bem as ambi&ecirc;ncias, as cores saturadas e celestiais do mestre holand&ecirc;s. Imaginem os cen&aacute;rios que montaria para os vts comerciais, para Hollywood, para os clips? Provavelmente n&atilde;o pintaria seus quadros, mas quem se importaria? Talvez fosse mais feliz e menos genial. &Eacute; claro que existem os rom&acirc;nticos que n&atilde;o abrem m&atilde;o das velhas tintas, pinceis e telas. Mas a cada dia o Digital invade o palp&aacute;vel e o simulacro substitui a realidade, com a vantagem de ser antiss&eacute;ptico, n&atilde;o poluente e com baix&iacute;ssimo custo.</p> <p style="text-align: justify;"> A arte utilit&aacute;ria pra combinar com o sof&aacute; da sala impera sobre a arte vivenciada, espont&acirc;nea e visceral, o artesanato sobre a arte original e o cover sobre os autorais.</p> <p style="text-align: justify;"> A mesma met&aacute;fora pode ser replicada em quase todas as artes, quase todas em colapso. O mundo humano vai se reconfigurando sob os nossos p&eacute;s e sobre as nossas cabe&ccedil;as. As nuvens metaf&oacute;ricas est&atilde;o l&aacute;, pairando sobre n&oacute;s. Na m&uacute;sica, tudo revirado pelo avesso. H&aacute; anos n&atilde;o vemos uma m&uacute;sica brasileira digna de nota, uma can&ccedil;&atilde;o daquelas cl&aacute;ssicas de Chico e Caetano, Milton e Djavan. Talvez por que a l&oacute;gica da produ&ccedil;&atilde;o art&iacute;stica foi invertida. Na &eacute;poca dessa turma da MPB as pessoas sentiam seu tempo com suas poderosas antenas po&eacute;ticas e transformavam esse sentimento em arte. &Eacute; verdade tamb&eacute;m que os tempos digitais trouxeram coisas interessantes. Toda a hist&oacute;ria das m&uacute;sica est&aacute; na tal nuvem descomunal.</p> <p style="text-align: justify;"> Voc&ecirc; acessa de Ernesto Nazar&eacute; a Thiago Iorc. Da m&uacute;sica cl&aacute;ssica renascentista aos eletr&ocirc;nicos siderados. Mas parece haver um esvaziamento de conte&uacute;dos e de densidade. O som &eacute; comprimido em 1/12 quando transformado de wave para mp3. A internet ao mesmo tempo que potencializa, esconde os talentos num ponto an&ocirc;nimo da longu&iacute;ssima calda. Prevalece a m&uacute;sica utilit&aacute;ria, o entretenimento puro e simples, cujos imperativos s&atilde;o beber, beber, beber, transar, trair, pegar( n&atilde;o me surpreender&aacute; se dentro de pouco tempo tenhamos m&uacute;sicas pra defecar, pra urinar, pra tirar bicho de p&eacute;).&nbsp; A gera&ccedil;&atilde;o parece n&atilde;o ter pot&ecirc;ncia para erigir novos cl&aacute;ssicos. Enquanto isso os hits de outras &eacute;pocas ganham sobrevida pois tudo cabe na infinita nuvem. Her&oacute;is dos Stones, ACDC, do Pink Floyd, continuam vivos na internet. Os clips continuam tocando como se o tempo n&atilde;o tivesse passado. Os &iacute;dolos embalsamados vivos, as bandas museus continuam lotando est&aacute;dios enquanto cheiram as cinzas dos antepassados.</p> <p style="text-align: justify;"> &Eacute; o futuro do pret&eacute;rito (literal). J&aacute; os festivais e eventos musicais vem sendo sistematicamente cancelados. &Eacute; o virtual se sobrepondo ao presencial. A crise chegando ao universo cultural por vias econ&ocirc;micas e preferenciais. O poder p&uacute;blico exclui a cultura de seus planos de governo e ningu&eacute;m se importa. A m&iacute;dia tamb&eacute;m vai gradativamente diminuindo seus cadernos de cultura e espa&ccedil;os para a produ&ccedil;&atilde;o art&iacute;stica. Para o entretenimento popularesco sempre tem espa&ccedil;o. Mas s&oacute;. O p&uacute;blico parece ter invertido a l&oacute;gica do protagonismo. Com as m&iacute;dias sociais todos se transformaram em astros. O artista tem de ser muito bom pra se destacar...ou muito ruim... e a fama pode durar minutos. A imperman&ecirc;ncia virou regra.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"> E a literatura? Como vai se virar fora do papel? Como o romance vai sobreviver num mundo de 140 caracteres? As pessoas continuam lendo, mas textos curtos, descontinuados em seus notes, tablets e smartphones.</p> <p style="text-align: justify;"> O mundo ficou n&atilde;o linear. Pela nova l&oacute;gica o ep&iacute;logo pode vir antes da introdu&ccedil;&atilde;o e a escrita pode ser colaborativa, vitaminada(?), frankst&ecirc;nica.</p> <p style="text-align: justify;"> No processo o direito autoral perde o sentido. Nada &eacute; de ningu&eacute;m e todo mundo acha bacana. Nada mais democr&aacute;tico que compartilhar as obras alheias sem pagar nada por isso. Todos baixam m&uacute;sicas, fotos, filmes, livros, tudo na internet como se fosse a coisa mais normal do mundo.</p> <p style="text-align: justify;"> O mundo do compartilhamento gratuito &eacute; lindo e conveniente. Fodam-se os compositores e outros criativos.</p> <p style="text-align: justify;"> E o teatro? J&aacute; havia aquela m&aacute;xima idiota do Casseta e Planeta &ldquo;v&aacute; ao teatro, mas n&atilde;o me chame&rdquo;. Confesso ignorar os n&uacute;meros da ocupa&ccedil;&atilde;o de salas e da produ&ccedil;&atilde;o teatral. Mas se a televis&atilde;o j&aacute; fez estrago, imagino que as m&iacute;dias digitais devem ajudar a aprofundar o fosso.</p> <p style="text-align: justify;"> De qualquer maneira, como disse Wir Caetano na &uacute;ltima entrevista no MEDIOPIRA, &quot; a arte j&aacute; respondeu com vigor &agrave; muitos tempos duros e acho que continuar&aacute; a responder como se deve. Sempre &eacute; poss&iacute;vel surgirem entraves &agrave; livre express&atilde;o, mas resist&ecirc;ncia tamb&eacute;m sempre acontece, com maior ou menor intensidade&ldquo;. A frase do Wir &eacute; um sopro de esperan&ccedil;a. Ele t&aacute; certo. A arte encontrar&aacute; um jeito. Mas como em todas as revolu&ccedil;&otilde;es, cabe&ccedil;as rolar&atilde;o e comunidades inteiras ser&atilde;o dizimadas. Tratemos de sobreviver e de preparar o terreno qu&acirc;ntico para os que est&atilde;o chegando...</p>

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