11/11/2016 09h31
Estudantes ocupam campus da UFOP
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Ulisses Nascimento</p>
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<strong>João Monlevade -</strong>Desde segunda-feira (7) o Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas (ICEA), extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em João Monlevade, está ocupado pelos estudantes. A decisão foi tomada em assembleia que teve a participação de 452 alunos, que também resolveram iniciar greve estudantil. O ICEA foi a última das onze unidades da UFOP a ser ocupada. A ocupação e a greve são formas de protestos contra Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos federais por 20 anos. A matéria, de número 241 na Câmara Federal, foi aprovada pelos deputados e agora é avaliada no Senado, onde recebeu o número 55.</p>
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A reportagem do Bom Dia esteve no campus na tarde quarta (9). Ao contrário do que ocorre em várias instituições de ensino por todo o Brasil, onde há tensão permanente entre estudantes e autoridades, na UFOP em João Monlevade o clima é tranquilo.</p>
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A não ser por barracas armadas em pontos específicos e cartazes colados em áreas de circulação, não há "cara" de ocupação. Se visualmente o movimento não é percebido logo de cara, o engajamento dos participantes não deixa dúvidas sobre a manifestação. Estudante do curso de Engenharia da Computação, Jonathan Guimarães, 23, reforçou as bases do movimento. "O objetivo inicial é reivindicar direitos pela Educação, e o que estamos fazendo aqui é debater os impactos que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) terá sobre isso", explicou.</p>
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Natural de São João Del Rey, Guimarães disse que o acesso à educação pública de qualidade está em risco com a provável aprovação da PEC.</p>
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O estudante relatou que o movimento é horizontal, sem uma liderança destacada. Os alunos estão organizados em comissões. Os grupos são de Logística, Segurança, Mobilização, Atividades, Comunicação, Negociação e Manifesto / Estatuto.</p>
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Membro da comissão de segurança, Felipe Teodoro, 23, falou sobre o caráter coletivo da manifestação. "A situação do país levou a esse despertar, muitas pessoas perceberam que os estudantes estão buscando seus direitos e o de outras classes", comentou, destacando que a ocupação aumentou a integração entre os alunos do campus. Matriculado no curso de Engenharia da Computação, ele explicou que a comissão de segurança tem auxiliado os guardas oficiais nas rondas e no cuidado com o patrimônio da instituição.</p>
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<strong>Momento histórico</strong></p>
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A diretora do ICEA, Anliy Natsuyo Nashimoto Sargeant, 41, foi entrevistada pela reportagem. No cargo desde agosto de 2015, ela contou que o apoio à ocupação e à greve estudantil foram manifestados assim que a diretoria foi comunicada de maneira oficial sobre o resultado da assembleia. "É um momento de abertura ao diálogo, há um respeito muito grande pelo movimento", destacou. De acordo com a diretora, o ICEA tem 82 professores. Ela não soube precisar o número exato de docentes que apoiam a manifestação, mas, destacou o respeito dos profissionais pelo protesto.</p>
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Segundo Anliy Natsuyo, o objetivo não é simplesmente promover atividades e debates sobre a PEC e outros assuntos importantes durante a ocupação. Na noite de terça-feira (8), 284 pessoas estavam no auditório do ICEA para acompanhar a discussão sobre a PEC que limita os gastos públicos. Economistas do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas (ICSA), Heder Carlos de Oliveira e Victor Maia Senna Delgado apresentaram argumentos contrários e favoráveis à PEC. Além dos debates, são realizadas palestras, aulas, assembleias, recreações, entre outras atividades estabelecidas em um cronograma diário.</p>
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Professora de Matemática, Anliy Natsuyo considera que a PEC afeta toda a sociedade e define as ocupações. "É um momento histórico". </p>
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Técnico em Assuntos Estudantis da UFOP e formado em Psicologia, Elizeu Assis, 50, considera que apesar do momento difícil do ponto de vista político, essa é a hora para grandes mudanças no país. Conhecedor da história de João Monlevade, ele fez um paralelo da ocupação com a greve dos operários da Belgo Mineira (hoje ArcelorMittal) em 1986: liderados por Leonardo Diniz, que viria a ser prefeito e vereador no município, os operários pararam durante 23 dias. "Há algumas semelhanças, aquele era um momento de ameaça aos direitos trabalhistas e outras conquistas. Hoje acontece algo parecido com a PEC, há um paralelo. Na época, os revolucionários eram os operários, hoje, são os estudantes", comparou. Estão marcadas para hoje as assembleias dos técnicos e professores para decidir se esses profissionais vão deflagrar greve. As reuniões serão em Ouro Preto.</p>
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<strong>UFOP fala em negociação </strong></p>
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A reportagem do Bom Dia procurou a Assessoria de Comunicação Institucional (ACI) da UFOP para registrar o posicionamento oficial da instituição de ensino sobre a ocupação do ICEA. A assessoria informou que a reitoria constituiu comissão de negociação com o objetivo de centralizar as negociações e buscar soluções para as demandas, além de agilizar o contato com a administração central.</p>
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Em nota oficial sobre as ocupações publicada no dia 1º e assinada pelo reitor Marcone Jamilson Freitas Souza, a instituição informa que "a preocupação dos discentes está alinhada com a insegurança expressa pela nota do Conselho Universitário da UFOP, divulgada no dia 20 de outubro de 2016". O documento citado é a moção contra a PEC 241 e em defesa da Educação Pública, Inclusiva, Gratuita e de Qualidade. Confira parte da nota oficial.</p>
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"Consideramos as manifestações estudantis legítimas e entendemos que a formação cidadã é parte crucial do aprendizado dos jovens que ingressam em uma instituição pública de ensino superior. Primar por uma sociedade mais justa e que busque minorar as desigualdades de nossa sociedade são valores que construímos permanentemente em toda a nossa comunidade acadêmica. Diante disso, iremos acompanhar as ocupações na promoção de um diálogo que possa proteger a integridade física e mental de nossos estudantes, que resguarde a nossa Instituição e que, sobretudo, contribua para a permanente melhoria nas condições de ensino, pesquisa e extensão na UFOP e em todo o Brasil."</p>