Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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16/02/2016 19h27

Os sinos: Tempestade perfeita

Podemos estar caminhando para uma nova crise global?

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<p> N&atilde;o faz nem uma d&eacute;cada que as bolsas em todo o mundo desabaram com o an&uacute;ncio da quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos, e j&aacute; h&aacute; quem sinta as vibra&ccedil;&otilde;es de um novo terremoto financeiro de propor&ccedil;&otilde;es globais.</p> <p> Diante da freada da economia chinesa, da brusca queda do pre&ccedil;o do petr&oacute;leo e da expans&atilde;o do fen&ocirc;meno dos juros negativos em pa&iacute;ses ricos, alguns economistas t&ecirc;m defendido que uma nova crise como a de 2008 estaria se avizinhando.</p> <p> O megainvestidor George Soros, por exemplo, levantou essa possibilidade durante um evento no Sri Lanka, no m&ecirc;s passado. &quot;Quando olho para os mercados financeiros h&aacute; um s&eacute;rio desafio que me faz lembrar da crise de 2008&quot;, disse.</p> <p> H&aacute;, certamente, quem considere as compara&ccedil;&otilde;es exageradas &ndash; ou mesmo perigosas, como afirmou o Secret&aacute;rio do Tesouro americano, Jacob Lew.</p> <p> No entanto, mesmo autoridades e economistas mais c&eacute;ticos sobre um novo crash global admitem que 2016 come&ccedil;ou com um perigoso &quot;coquetel&quot; de amea&ccedil;as econ&ocirc;micas &ndash; como definiu recentemente o ministro das Finan&ccedil;as brit&acirc;nico, George Osborne.</p> <p> Mas, afinal, quais s&atilde;o os sinais que est&atilde;o gerando tanta incerteza no que diz respeito &agrave; economia internacional? E como essas turbul&ecirc;ncias poderiam afetar o Brasil em um momento em que o pa&iacute;s tenta superar dificuldades internas?</p> <p> Para o professor de economia da PUC Ant&ocirc;nio Carlos Alves dos Santos, a economia internacional enfrenta uma esp&eacute;cie de &quot;tempestade perfeita&quot;.</p> <p> As dificuldades come&ccedil;aram com o desaquecimento da China e seu impacto sobre os pre&ccedil;os das commodities.</p> <p> No in&iacute;cio do ano, uma grande instabilidade da bolsa de Xangai refor&ccedil;ou as suspeitas de que a economia chinesa poderia ter uma desacelera&ccedil;&atilde;o dr&aacute;stica &ndash; o que no jarg&atilde;o econ&ocirc;mico &eacute; conhecido como &quot;hard landing&quot;.</p> <p> Soros, ao fazer o paralelo com 2008, mencionou justamente as incertezas sobre o gigante asi&aacute;tico.</p> <p> &quot;A China tem um grande problema de adapta&ccedil;&atilde;o&quot;, disse, explicando que o pa&iacute;s est&aacute; com dificuldades para encontrar um novo modelo de crescimento.</p> <p> <strong>Petr&oacute;leo e juros</strong></p> <p> A queda do pre&ccedil;o do barril de petr&oacute;leo para abaixo dos US$ 30 tamb&eacute;m foi um fator que ampliou o clima de incertezas em 2016.</p> <p> O produto j&aacute; acumula uma desvaloriza&ccedil;&atilde;o de 70% desde 2014. Primeiro, em fun&ccedil;&atilde;o de uma demanda fraca &ndash; para a qual tamb&eacute;m contribuiu o desaquecimento chin&ecirc;s. Segundo, porque o per&iacute;odo de bonan&ccedil;a do setor impulsionou uma s&eacute;rie de investimentos em novas &aacute;reas de explora&ccedil;&atilde;o e fontes alternativas de combust&iacute;vel f&oacute;ssil - o que acabou levando a uma superprodu&ccedil;&atilde;o.</p> <p> &quot;Agora, a inc&oacute;gnita &eacute; como as empresas do setor e seus credores ser&atilde;o afetados por esse novo patamar de pre&ccedil;os&quot;, diz Santos.</p> <p> &quot;Temos rumores, por exemplo, de que produtoras de g&aacute;s de xisto nos EUA est&atilde;o passando por s&eacute;rias dificuldades financeiras&quot;, completa Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, em Londres.</p> <p> &quot;E tamb&eacute;m h&aacute; d&uacute;vidas sobre o impacto desse novo cen&aacute;rio nos bancos que emprestam para empresas e pa&iacute;ses produtores.&quot;</p> <p> A terceira fonte de incertezas no cen&aacute;rio global s&atilde;o as taxas de juros negativas adotadas por alguns pa&iacute;ses para seus t&iacute;tulos e dep&oacute;sitos das institui&ccedil;&otilde;es financeiras nos Bancos Centrais.</p> <p> Colmerauer explica que essas taxas negativas comprimem as margens de lucro dos bancos - ent&atilde;o h&aacute; quem acredite que alguns deles podem ter problemas.</p> <p> &quot;A verdade &eacute; que nunca vimos tantos pa&iacute;ses adotarem essa pol&iacute;tica de juros negativos, trata-se de um fen&ocirc;meno novo. Ent&atilde;o h&aacute; muita incerteza sobre quais podem ser suas consequ&ecirc;ncias&quot;, diz.</p> <p> Segundo o banco J.P. Morgan, h&aacute; hoje cerca de US$ 6 trilh&otilde;es em t&iacute;tulos p&uacute;blicos com juros negativos, o dobro do que h&aacute; dois meses.</p> <p> Leia tamb&eacute;m: Teste de universidade indica se voc&ecirc; tem poder de concentra&ccedil;&atilde;o</p> <p> Na semana passada, at&eacute; o FED, o Banco Central americano, anunciou que deixaria em aberto a possibilidade de adotar os juros negativos em fun&ccedil;&atilde;o das adversidades da economia global, gerando grande alvoro&ccedil;o nos mercados que esperam um aumento da taxa este ano.</p> <p> J&aacute; praticam juros negativos em seus t&iacute;tulos ou como taxa de refer&ecirc;ncia o Banco Central Europeu, a Su&eacute;cia, a Dinamarca e a Su&iacute;&ccedil;a, al&eacute;m do Jap&atilde;o, que recentemente emitiu pela primeira vez um t&iacute;tulo de longo prazo com rentabilidade negativa.</p> <p> Se um pa&iacute;s adota os juros negativos, na pr&aacute;tica os investidores t&ecirc;m de pagar para emprestar seu dinheiro &ndash; em vez de receber uma remunera&ccedil;&atilde;o. Os b&ocirc;nus de dez anos do governo do Jap&atilde;o, por exemplo, foram negociados por -0,035%, o que significa que quem emprestar para o pa&iacute;s hoje, daqui a uma d&eacute;cada poder&aacute; reaver um pouco menos do valor investido.</p> <p> O fen&ocirc;meno &eacute; impulsionado por uma corrida por economias de baixo risco. A l&oacute;gica &eacute; que h&aacute; tanta instabilidade no mercado que os investidores n&atilde;o se importam em perder um pouco de dinheiro pela certeza de que seus ativos estar&atilde;o seguros.</p> <p> Do lado das autoridades financeiras, o objetivo &eacute; estimular investimentos na economia real e, em alguns casos, combater a defla&ccedil;&atilde;o &ndash; ou seja, a queda sistem&aacute;tica dos pre&ccedil;os.</p> <p> O fato de o FED ter mencionado taxa de juros negativa como op&ccedil;&atilde;o &eacute; sinal de que banco n&atilde;o considera retomada da economia dos EUA segura</p> <p> O problema &eacute; que muitos interpretam essa pol&iacute;tica como um sinal de que as autoridades financeiras do pa&iacute;s em quest&atilde;o n&atilde;o acreditam que sua economia v&aacute; melhorar t&atilde;o cedo &ndash; e continuam preferindo perder pouco sem risco a arriscar perder muito investindo em uma economia pouco din&acirc;mica.</p> <p> O fato do FED ter mencionado a taxa de juros negativa como uma op&ccedil;&atilde;o, por exemplo, acabou sendo interpretado pelos mercados como um sinal de que o banco ainda n&atilde;o considera que a retomada da economia americana &eacute; segura.</p> <p> <strong>Queda no crescimento</strong></p> <p> Recentemente, o Banco Mundial contribuiu para essas vis&otilde;es mais pessimistas ao revisar sua previs&atilde;o de crescimento para a economia global este ano de 3,2% para 2,9%.</p> <p> Para Santos, por&eacute;m, o cen&aacute;rio complicado n&atilde;o quer dizer que haver&aacute; um crash. &quot;H&aacute; uma compreens&atilde;o dos l&iacute;deres globais de que isso deve ser evitado e v&aacute;rias medidas podem ser tomadas nessa dire&ccedil;&atilde;o&quot;, diz ele.</p> <p> &quot;S&oacute; para mencionar um exemplo: a Ar&aacute;bia Saudita pode ser convencida a cortar sua produ&ccedil;&atilde;o de petr&oacute;leo e voltar a atuar com uma estabilizadora desse mercado.&quot;</p> <p> No que diz respeito ao impacto de um eventual aumento das turbul&ecirc;ncias externas no Brasil, parece haver certo consenso de que se j&aacute; n&atilde;o estava f&aacute;cil para o pa&iacute;s voltar a crescer em fun&ccedil;&atilde;o de fatores internos - como a crise pol&iacute;tica -, a tarefa ficaria ainda mais dif&iacute;cil com um vendaval l&aacute; fora.</p> <p> Leia tamb&eacute;m: Ativista que luta por brinquedos &#39;com defici&ecirc;ncia&#39; celebra lan&ccedil;amento de Lego cadeirante</p> <p> O atual cen&aacute;rio, de desacelera&ccedil;&atilde;o das economias do sul do globo, &eacute; bem diferente do da crise de 2008, quando pa&iacute;ses emergentes atra&iacute;ram a aten&ccedil;&atilde;o de investidores que n&atilde;o conseguiam mais ganhar dinheiro em pa&iacute;ses desenvolvidos.</p> <p> Segundo Colmerauer, hoje uma nova crise global poderia gerar uma fuga de capitais do Brasil (embora, para ele, tamb&eacute;m n&atilde;o haja sinais claros de que caminhamos para um colapso).</p> <p> O resultado seria uma desvaloriza&ccedil;&atilde;o ainda maior do real que, ao afetar o pre&ccedil;o de produtos importados ou export&aacute;veis (que no geral seguem os pre&ccedil;os do mercado externo), pressionariam a infla&ccedil;&atilde;o.</p> <p> As exporta&ccedil;&otilde;es poderiam ganhar competitividade com um real mais fraco. Por outro lado, com uma economia global menos aquecida, a demanda por produtos exportados tamb&eacute;m seria menor.</p> <p> &quot;Com essa onda de juros negativos, podemos dizer hoje que o cr&eacute;dito est&aacute; barato para quem tem um bom nome na pra&ccedil;a&quot;, diz Colmerauer. &quot;Fossem outros tempos o Brasil poderia se aproveitar disso e tomar recursos emprestados para investir em infraestrutura, por exemplo. Mas com as nossas dificuldades internas, problemas econ&ocirc;micos e a perda de grau de investimento estamos em um outro grupo de pa&iacute;ses: o dos que tem cada vez mais dificuldade para atrair recursos mesmo aumentando muito suas taxas de juros.&quot;</p> <p> Para Santos, um dos grandes problemas para o Brasil &eacute; que a falta de acordo entre os grupos pol&iacute;ticos pode dificultar uma rea&ccedil;&atilde;o a qualquer situa&ccedil;&atilde;o mais complicada que possa surgir no cen&aacute;rio internacional.</p> <p> &quot;Em situa&ccedil;&otilde;es de crise global, muitas vezes &eacute; preciso dar respostas r&aacute;pidas&quot;, diz ele. &quot;Mas o governo e a oposi&ccedil;&atilde;o est&atilde;o demonstrando ter uma imensa dificuldade de chegar a consensos, em construir uma pauta m&iacute;nima em nome de um bem comum&quot;, opina.</p> <p align="right"> <em>Ruth Costas / Da BBC Brasil</em></p>

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