Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

notícias

07/01/2016 11h41

Minerodutos: um cheque em branco para o desenvolvimento do pa?s

Compartilhe
<p> A trag&eacute;dia com a barragem de rejeito da Samarco, em Mariana, traz &agrave; tona a discuss&atilde;o sobre os impactos ambientais do uso de minerodutos para o transporte de min&eacute;rios no pa&iacute;s. Atualmente, dois complexos miner&aacute;rios com uso de minerodutos est&atilde;o em funcionamento no Brasil: um &eacute; o &ldquo;projeto consorciado das multinacionais Vale e BHP Billiton, por meio da Samarco, que explora as jazidas deGermano e Alegria nas cidades de Ouro Preto eMariana&rdquo;, e o segundo &eacute; &ldquo;o projeto Minas-Rio &ndash; da corpora&ccedil;&atilde;o Anglo American &ndash;, propagandeado como respons&aacute;vel pela cria&ccedil;&atilde;o do &lsquo;maior mineroduto do mundo&rsquo;, que pretende explorar 12 km a c&eacute;u aberto ao longo da Serra da Ferrugem &ndash; nos munic&iacute;pios de Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro e Alvorada de Minas, no M&eacute;dio-Espinha&ccedil;o mineiro e no trecho alto da bacia do rio Santo Ant&ocirc;nio (a sub-bacia de n&uacute;mero 3 do rio Doce em Minas Gerais)&rdquo;, diz Gabriel Ribeiro na entrevista a seguir.</p> <p> Para analisar os impactos ambientais e sociais dos minerodutos, a IHU On-Line entrevistou, por e-mail, Gustavo Gazzinelli, representante do F&oacute;rum Nacional da Sociedade Civil nos Comit&ecirc;s de Bacias Hidrogr&aacute;ficas &ndash; Fonasc-CBH de Minas Gerais, Gabriel Ribeiro, membro do Grupo de Estudos em Tem&aacute;ticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, e Patr&iacute;cia Generoso, da Rede de Articula&ccedil;&atilde;o e Justi&ccedil;a dos Atingidos do Projeto Minas-Rio &ndash; REAJA.</p> <p> Cr&iacute;tico aos minerodutos como alternativa para o transporte de min&eacute;rios no pa&iacute;s, Gazzinelli frisa que eles &ldquo;retiram um grande volume de &aacute;gua das regi&otilde;es e cabeceiras de rios que precisam dessa &aacute;gua&rdquo; e informa que a concess&atilde;o de lavra do projeto Minas-Rio, &ldquo;de acordo com o Termo de Compromisso/Anexo da Portaria 499/2014, publicada no Di&aacute;rio Oficial da Uni&atilde;o, estabeleceu uma produ&ccedil;&atilde;o anual de 54,4 milh&otilde;es de toneladas entre o 15&ordm; e o 20&ordm; ano de opera&ccedil;&atilde;o da mina&rdquo;. Contudo, &ldquo;o mineroduto licenciado pelo Ibama tem capacidade para transportar cerca de 27 milh&otilde;es de toneladas/ano, metade dessa produ&ccedil;&atilde;o prevista na concess&atilde;o. Como a outra metade ser&aacute; transportada?&rdquo;, questiona.</p> <p> Gabriel Ribeiro pontua ainda que &ldquo;as capta&ccedil;&otilde;es necess&aacute;rias &agrave;s diferentes estruturas de um mesmo projeto minerador, mesmo incidindo sobre afloramentos de &aacute;gua ou aqu&iacute;feros adjacentes, s&atilde;o tratadas como interven&ccedil;&otilde;es isoladas e distintas, prejudicando o exame dos impactos derivados da totalidade das capta&ccedil;&otilde;es e usos&rdquo;. Como consequ&ecirc;ncia direta, explica, &ldquo;as outorgas expedidas pelo Estado t&ecirc;m funcionado como um &lsquo;cheque em branco&rsquo;, um seguro, uma garantia para as mineradoras, que usufruem desse privil&eacute;gio em regi&otilde;es com forte car&ecirc;ncia de &aacute;gua, tanto pela escassez natural dela como pela proximidade de regi&otilde;es densamente povoadas&rdquo;.</p> <p> Segundo Patr&iacute;cia Generoso, que acompanha a situa&ccedil;&atilde;o dos moradores de Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro, &ldquo;os impactosambientais causados pelo mineroduto s&atilde;o facilmente percebidos e v&atilde;o desde o assoreamento de nascentes e de cursos de &aacute;gua, desmatamento em &aacute;rea de preserva&ccedil;&atilde;o permanente, perdas de conectividade em &aacute;reas de relev&acirc;ncia ambiental, grandes cortes no solo que funcionam como drenos e est&atilde;o causando eros&otilde;es e a supress&atilde;o das nascentes e cursos d&rsquo;agua pr&oacute;ximos aos locais abertos para a instala&ccedil;&atilde;o dos tubos. J&aacute; os impactos sociais s&atilde;o a fragmenta&ccedil;&atilde;o e divis&atilde;o de pequenas propriedades, reduzindo sua capacidade produtiva e, at&eacute;, inviabilizando completamente a produ&ccedil;&atilde;o&rdquo;.</p> <p> Gustavo Gazzinelli &eacute; representante do F&oacute;rum Nacional da Sociedade Civil nos Comit&ecirc;s de Bacias Hidrogr&aacute;ficas &ndash; Fonasc-CBH de Minas Gerais, Gabriel Ribeiro &eacute; graduado em Ci&ecirc;ncias Socioambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais &ndash; UFMG e membro do Grupo de Estudos em Tem&aacute;ticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais, e Patr&iacute;cia Generoso &eacute; integrante da Rede de Articula&ccedil;&atilde;o e Justi&ccedil;a dos Atingidos do Projeto Minas-Rio &ndash; REAJA.</p> <p> <strong>Confira a entrevista.</strong></p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Quais os principais problemas acerca do licenciamento de minerodutos em Minas Gerais? Como esse tipo de licenciamento tem sido feito e que aspectos s&atilde;o desconsiderados ao fazer os licenciamentos?</p> <p> <strong>Gustavo Gazzinelli</strong>- Penso que o mineroduto &eacute; por si uma imbecilidade, pois retira &aacute;gua boa e necess&aacute;ria para diferentes atividades de uma regi&atilde;o que precisa dela. Os &uacute;ltimos projetos de minerodutos que vi, no site do Ibama, transportam continuamente volumes capazes de abastecer cidades de 300 a 500 mil habitantes, considerando a m&eacute;dia de consumo de &aacute;gua brasileirade 155 litros/dia por habitante no Brasil.</p> <p> A Samarco estava instalando seu terceiro mineroduto e buscando &aacute;gua em outra sub-bacia hidrogr&aacute;fica a 40 km de dist&acirc;ncia da sua mina. Para obter a outorga para essa capta&ccedil;&atilde;o, a Samarco e ogoverno A&eacute;cio praticamente esgotaram o volume outorg&aacute;vel da principal fonte de abastecimento do munic&iacute;pio de Santa B&aacute;rbara. Ou seja, ao fazer essa concess&atilde;o, queimaram parte do futuro de Santa B&aacute;rbara para outras perspectivas de investimentos e neg&oacute;cios que possam demandar &aacute;gua. Monopolizando a &aacute;gua, aminera&ccedil;&atilde;o monopoliza as perspectivas de desenvolvimento. Blinda lugares de outros projetos e perspectivas econ&ocirc;micas.</p> <p> Na verdade, os minerodutos s&atilde;o licenciados pelo Ibama. &Eacute; sempre assim quando um empreendimento acontece em mais de um estado. No caso de um estado interiorano como Minas Gerais, de acordo com a lei atual, o Ibama ser&aacute; o &oacute;rg&atilde;o licenciador de qualquer estrutura (mineroduto ou ferrovia) destinada a escoar produtos para exporta&ccedil;&atilde;o a partir de um porto no litoral.</p> <p> Contudo, o governo estadual participa do arcabou&ccedil;o legal ou da engenharia jur&iacute;dica para a viabiliza&ccedil;&atilde;o do neg&oacute;cio. Tomando o exemplo do projeto Minas-Rio, o ex-governador A&eacute;cio Neves assinou um protocolo de inten&ccedil;&otilde;es comEike Batista. No mesmo dia da assinatura desse protocolo, 5 de mar&ccedil;o de 2008, A&eacute;cio editou um decreto declarando de utilidade p&uacute;blica os terrenos por onde passaria o mineroduto da MMX, cujo projeto foi depois adquirido pela Anglo American. Coube, como cabe tamb&eacute;m ao governo estadual, no caso das bacias ou sub-bacias hidrogr&aacute;ficas de dom&iacute;nio do Estado, a concess&atilde;o da outorga para uso da &aacute;gua.</p> <p> <strong>Minerodutos</strong></p> <p> Parte desses pap&eacute;is (outorgas, decretos, licen&ccedil;as), com valor formal, burocr&aacute;tico, ajudou a valorizar o neg&oacute;cio que alavancou o enriquecimento bilion&aacute;rio de Batista. Questionamos ent&atilde;o, em representa&ccedil;&atilde;o ao Minist&eacute;rio P&uacute;blico Federal, como o Ibama poderia licenciar um mineroduto antes que a mina (atividade que motivaria a instala&ccedil;&atilde;o do mineroduto) tivesse sua &ldquo;viabilidade ambiental&rdquo; analisada e a licen&ccedil;a pr&eacute;via concedida. Como um governador poderia assinar um decreto declarando utilidade p&uacute;blica de terrenos para mineroduto, cuja mina n&atilde;o estava licenciada? Nove meses ap&oacute;s a publica&ccedil;&atilde;o do decreto declarando a utilidade p&uacute;blica dos terrenos do mineroduto, o Estado, numa reuni&atilde;o repleta de policiais civis e militares, e com ass&eacute;dio expl&iacute;cito de autoridades p&uacute;blicas e representantes empresariais contra votos de servidores p&uacute;blicos [1], fez passar um dos projetos mais escandalosos de minera&ccedil;&atilde;o no pa&iacute;s.</p> <p> &ldquo;Como um governador poderia assinar um decreto declarando utilidade p&uacute;blica de terrenos para mineroduto, cuja mina n&atilde;o estava licenciada?&rdquo;</p> <p> Minerodutos t&ecirc;m um &uacute;nico objetivo: acelerar o processo de expropria&ccedil;&atilde;o e exporta&ccedil;&atilde;o do patrim&ocirc;nio mineral brasileiro. O capital inicial para a instala&ccedil;&atilde;o de um mineroduto &eacute; bem menor do que o necess&aacute;rio para a constru&ccedil;&atilde;o de uma ferrovia. Quando um mineroduto &eacute; licenciado, a regi&atilde;o que fornece a &aacute;gua n&atilde;o &eacute; informada que logo &agrave; frente ter&aacute; que assegurar mais &aacute;gua, para um segundo e at&eacute; um terceiro mineroduto. Tomemos o exemplo do projeto Minas-Rionovamente. A concess&atilde;o de lavra, de acordo com o Termo de Compromisso/Anexo da Portaria 499/2014, publicada noDi&aacute;rio Oficial da Uni&atilde;o, estabeleceu uma produ&ccedil;&atilde;o anual de 54,4 milh&otilde;es de toneladas entre o 15&ordm; e o 20&ordm; ano de opera&ccedil;&atilde;o da mina. Por sua vez, o mineroduto licenciado pelo Ibama tem capacidade para transportar cerca de 27 milh&otilde;es de toneladas/ano, metade dessa produ&ccedil;&atilde;o prevista na concess&atilde;o. Como a outra metade ser&aacute; transportada?</p> <p> Para agravar o quadro, a cerca de 20 km de Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro, outra empresa &ndash; Manabi (renomeada MLog) &ndash;, pretendia instalar outro mineroduto. Sabemos que o Ibama vetou o mineroduto, devido ao ponto de chegada (Linhares-ES) estar diretamente associado &agrave; regi&atilde;o tamb&eacute;m conhecida como banco de Abrolhos. O Ibama, por&eacute;m, n&atilde;o teve olhos para o ponto de partida, Morro do Pilar, bacia hidrogr&aacute;fica do rio Santo Ant&ocirc;nio, que, por ser a sub-bacia com mais esp&eacute;cies de peixes de toda a bacia do Doce (mais de 85%), ser&aacute; vital para seu repovoamento ap&oacute;s o desastre da Samarco.</p> <p> No semin&aacute;rio &Aacute;guas de Minas, promovido este ano pela Assembleia Legislativa, oito dos nove encontros regionais elegeram a proibi&ccedil;&atilde;o da instala&ccedil;&atilde;o de novos minerodutos no Estado como objetivo fundamental. A proposta foi ratificada na plen&aacute;ria final do semin&aacute;rio, ocorrida em 2 de outubro em BH.</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Por quais raz&otilde;es defendem que os minerodutos n&atilde;o s&atilde;o a melhor alternativa para o transporte de min&eacute;rio de ferro no pa&iacute;s? Quais s&atilde;o os argumentos de quem &eacute; favor&aacute;vel e de quem &eacute; contr&aacute;rio &agrave; instala&ccedil;&atilde;o dos minerodutos? O que seria uma alternativa aos minerodutos?</p> <p> <strong>Gustavo Gazzinelli</strong>- Especialmente, porque minerodutos retiram um grande volume de &aacute;gua das regi&otilde;es e cabeceiras de rios que precisam dessa &aacute;gua, quer do ponto de vista ecol&oacute;gico, quer para consumo humano, e para diversas atividades econ&ocirc;micas. A &aacute;gua &eacute; um insumo econ&ocirc;mico e um bem cultural e natural de que todos precisamos cada vez mais. N&atilde;o h&aacute; sentido em transferir seu uso para objetivos que s&oacute; servem a um interesse espec&iacute;fico e contr&aacute;rio a outros usos da &aacute;gua.</p> <p> <strong>Argumentos</strong></p> <p> O argumento dos que s&atilde;o favor&aacute;veis a minerodutos &eacute; que &eacute; mais barato e contribui menos para os gases de efeito estufa. Acho o segundo argumento muito raso. N&atilde;o sei se ele passa por uma conta que leve em considera&ccedil;&atilde;o as perdas implicadas na subtra&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua de uma regi&atilde;o que precisa dela para manter sua qualidade ambiental.</p> <p> A alternativa aos minerodutos precisa ser encarada de dois pontos de vista. Por um lado, &eacute; a ferrovia, que leva e traz. Por outro lado, deve ser pensada sob a &oacute;tica do ritmo ou velocidade e do destino da produ&ccedil;&atilde;o da minera&ccedil;&atilde;o que dever&iacute;amos defender. Hoje, o min&eacute;rio de ferro &eacute; o carro-chefe da minera&ccedil;&atilde;o brasileira e se destina a outros pa&iacute;ses. Se tiv&eacute;ssemos maior vis&atilde;o estrat&eacute;gica e preocupa&ccedil;&atilde;o com o futuro do pa&iacute;s, ter&iacute;amos, por um lado, que reduzir o ritmo da produ&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rios como o de ferro, para preservar jazidas para as futuras gera&ccedil;&otilde;es, e, por outro &acirc;ngulo, transformar a maior parte da produ&ccedil;&atilde;o, que adquira uma condi&ccedil;&atilde;o equilibrada, aqui no pa&iacute;s. Com isso, mudamos a l&oacute;gica da produ&ccedil;&atilde;o e freamos o volume de riscos, impactos e solu&ccedil;&otilde;es malucas como essa de transportar min&eacute;rio com &aacute;gua. Antes de analisar, portanto, qual a alternativa tecnol&oacute;gica, &eacute; preciso considerar a quais interesses servem a instala&ccedil;&atilde;o de minerodutos no pa&iacute;s. O modo de transportar e o ritmo e volume de produ&ccedil;&atilde;o a que este modal objetiva atender n&atilde;o s&atilde;o sustent&aacute;veis. Do ponto de vista estrat&eacute;gico, social e territorial &eacute; um contrassenso.</p> <p> <strong>IHU On-Line &ndash; Como esses minerodutos funcionam?</strong></p> <p> <strong>Gabriel Ribeiro</strong>- A tentativa de implanta&ccedil;&atilde;o de minerodutos vem para agilizar e baratear a implanta&ccedil;&atilde;o de novos complexos miner&aacute;rios, constitu&iacute;dos de lavras a c&eacute;u aberto, sistema de dutos para escoamento e terminal portu&aacute;rio para filtragem, estocagem e exporta&ccedil;&atilde;o. No contexto brasileiro, a exporta&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rios sem valor agregado fez-se a mola propulsora da obten&ccedil;&atilde;o de lucro f&aacute;cil pela intensifica&ccedil;&atilde;o da produ&ccedil;&atilde;o de nossa principal commodity mineral que &eacute; o min&eacute;rio de ferro. Nestes &uacute;ltimos dez anos, a r&aacute;pida eleva&ccedil;&atilde;o do valor do min&eacute;rio de ferro propiciou a guinadaneoextrativista em busca da explora&ccedil;&atilde;o de jazidas itabir&iacute;ticas, dotadas de teores mais baixos de ferro, frente &agrave; crescente escassez dos min&eacute;rios hemat&iacute;ticos, de melhor qualidade, na regi&atilde;o do Quadril&aacute;tero Ferr&iacute;fero. Desta forma, novos munic&iacute;pios foram inseridos numa l&oacute;gica extrativista de maior escala, mais amea&ccedil;as e impactos socioambientais &ndash; quanto menor o teor de ferro, maior o territ&oacute;rio impactado e a produ&ccedil;&atilde;o de rejeitos e est&eacute;reis.</p> <p> Os novos grupos mineradores tentam, na mesma l&oacute;gica, buscar a implanta&ccedil;&atilde;o de estruturas de escoamento mais baratas, mas tamb&eacute;m mais prejudiciais para as regi&otilde;es de onde a &aacute;gua &eacute; retirada. O modelo brasileiro de concess&atilde;o ferrovi&aacute;ria, por sua vez, &eacute; um entrave ao compartilhamento de linhas, atualmente sob o monop&oacute;lio de poucas empresas, especialmente a Vale e algumas de porte inferior, como CSN e Gerdau, do grupo controlador da MRVLog&iacute;stica.</p> <p> Minerodutos constituem-se em um sistema composto basicamente por tubos subterr&acirc;neos ou superficiais para transporte de p&oacute; (min&eacute;rio com granulometria superfina, os chamados pellet feed, com di&acirc;metro inferior a 0,15mm) transformado em polpa de min&eacute;rio, cuja locomo&ccedil;&atilde;o &eacute; impulsionada por esta&ccedil;&otilde;es de bombeamento (no caso de Minas Gerais, normalmente uma no ponto de partida e outra no meio do caminho), para que se garanta um jato de &aacute;gua cont&iacute;nuo e submetido a forte press&atilde;o. O que se observa nos projetos de engenharia &eacute; que as estruturas de escoamento compreendem dutos articulados em angula&ccedil;&otilde;es n&atilde;o superiores a 30&deg;. Portanto, a declividade dos relevos guia a diretriz do tra&ccedil;ado, e muitas vezes os empreendedores optam pela sele&ccedil;&atilde;o de trechos situados &agrave; beira-rio, em plan&iacute;cies ou baixadas.</p> <p> Os m&eacute;todos para a escolha dos pontos atendem prioritariamente a par&acirc;metros f&iacute;sicos em detrimento dos arranjos fundi&aacute;rios, produtivos e naturais coexistentes no territ&oacute;rio, vindo assim a atingir fragmentos florestais de mata atl&acirc;ntica e de transi&ccedil;&atilde;o, pastagens e terras f&eacute;rteis utilizadas por m&eacute;dios e pequenos agricultores. Em termos log&iacute;sticos, a op&ccedil;&atilde;o por mecanismos de transporte com capacidade de otimizar dist&acirc;ncias por baixos custos operacionais s&atilde;o argumentos usados para a defesa da &ldquo;viabilidade econ&ocirc;mica&rdquo; e para convencer acionistas sobre o potencial de lucratividade dos projetos, intentando &ldquo;colocar o produto, no lugar e no tempo certo&rdquo;, com o custo mais baixo para o investidor.</p> <p> &ldquo;Quando a explora&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rio de ferro colocar em risco o abastecimento humano, o empreendimento miner&aacute;rio n&atilde;o poderia entrar em opera&ccedil;&atilde;o&rdquo;</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Que destino &eacute; dado &agrave; &aacute;gua utilizada nos minerodutos?</p> <p> <strong>Gabriel Ribeiro -</strong>Nos casos dos minerodutos j&aacute; em opera&ccedil;&atilde;o, normalmente a &aacute;gua, ap&oacute;s a filtragem da polpa na regi&atilde;o portu&aacute;ria, &eacute; direcionada para um emiss&aacute;rio que a despejar&aacute; diretamente nooceano. Parte dela chega a ser utilizada para o resfriamento de m&aacute;quinas, mas o destino do volume maior &eacute; o mar.</p> <p> Gostaria de frisar dois pontos acerca da quest&atilde;o dos recursos h&iacute;dricos necess&aacute;rios para o funcionamento dessas estruturas. Primeiramente, grandes tubula&ccedil;&otilde;es encarregadas pelo transporte de min&eacute;rio dilu&iacute;do em &aacute;gua poderiam ser facilmente questionadas sob o argumento da inseguran&ccedil;a h&iacute;drica, situa&ccedil;&atilde;o desconsiderada com recorr&ecirc;ncia nos licenciamentos de novos projetos miner&aacute;rios em Minas Gerais, com aval de pareceres do Instituto Mineiro de Gest&atilde;o de &Aacute;guas &ndash; IGAM e aprova&ccedil;&atilde;o de outorgas de direito ao uso da &aacute;gua, sem quaisquer dificuldades ou pondera&ccedil;&otilde;es por parte dos comit&ecirc;s de bacias hidrogr&aacute;ficas onde o poder das mineradoras tem se mostrado consider&aacute;vel.</p> <p> Para a advogada Marcilene Ferreira, o princ&iacute;pio da precau&ccedil;&atilde;o raramente &eacute; utilizado no licenciamento destes projetos, pois, se aplicado, quando a explora&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rio de ferro colocar em risco o abastecimento humano, o empreendimento miner&aacute;rio n&atilde;o poderia entrar em opera&ccedil;&atilde;o. Neste ponto, &eacute; poss&iacute;vel concluir que as capta&ccedil;&otilde;es necess&aacute;rias &agrave;s diferentes estruturas de um mesmo projeto minerador, mesmo incidindo sobre afloramentos de &aacute;gua ou aqu&iacute;feros adjacentes, s&atilde;o tratadas como interven&ccedil;&otilde;es isoladas e distintas, prejudicando o exame dos impactosderivados da totalidade das capta&ccedil;&otilde;es e usos.</p> <p> Como consequ&ecirc;ncia direta, as outorgas expedidas pelo Estado t&ecirc;m funcionado como um &lsquo;cheque em branco&rsquo;, um seguro, uma garantia para as mineradoras, que usufruem desse privil&eacute;gio em regi&otilde;es com forte car&ecirc;ncia de &aacute;gua, tanto pela escassez natural dela como pela proximidade de regi&otilde;es densamente povoadas. Em tempos de crise h&iacute;drica e de desastres ambientais de alta magnitude, como o ocorrido em Mariana, n&atilde;o h&aacute; possibilidade de esse sistema ser sustent&aacute;vel.</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Quais os impactos ambientais evidenciados em Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro por conta do mineroduto?</p> <p> Patr&iacute;cia Generoso - Em Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro os impactos ambientais causados pelo mineroduto s&atilde;o facilmente percebidos e v&atilde;o desde o assoreamento de nascentes e de cursos de &aacute;gua, desmatamento em &aacute;rea de preserva&ccedil;&atilde;o permanente, perdas de conectividade em &aacute;reas de relev&acirc;ncia ambiental, grandes cortes no solo que funcionam como drenos e est&atilde;o causando eros&otilde;es e a supress&atilde;o das nascentes e cursos d&rsquo;agua pr&oacute;ximos aos locais abertos para a instala&ccedil;&atilde;o dos tubos. J&aacute; os impactos sociais s&atilde;o a fragmenta&ccedil;&atilde;o e divis&atilde;o de pequenas propriedades, reduzindo sua capacidade produtiva e, at&eacute;, inviabilizando completamente a produ&ccedil;&atilde;o.</p> <p> V&aacute;rios pequenos propriet&aacute;rios rurais que possu&iacute;am tanques de peixes tiveram seus tanques inviabilizados em raz&atilde;o daredu&ccedil;&atilde;o da &aacute;gua ou at&eacute; mesmo do completo ressecamento dos tanques. Al&eacute;m disso, o fluxo de ve&iacute;culos aumenta a poeira e inviabiliza a produ&ccedil;&atilde;o artesanal de polvilho, uma vez que parte do processo produtivo, tradicional na regi&atilde;o, sempre se realizou com o secamento da polpa da mandioca. A redu&ccedil;&atilde;o da &aacute;gua est&aacute; inviabilizando a cria&ccedil;&atilde;o de galinhas e porcos e tamb&eacute;m a manuten&ccedil;&atilde;o de quintais (pomares e hortas) utilizados para produ&ccedil;&atilde;o de diversos itens da alimenta&ccedil;&atilde;o das comunidades rurais e que, nas palavras da antrop&oacute;loga e professora Ana Fl&aacute;via Santos (UFMG), s&atilde;o verdadeiras dispensas das comunidades rurais.</p> <p> A agricultura familiar das propriedades do entorno do mineroduto Minas-Rio, pr&oacute;ximas a Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim, foi tamb&eacute;m inviabilizada em raz&atilde;o de degrada&ccedil;&atilde;o da &aacute;gua. A produ&ccedil;&atilde;o de queijo, cacha&ccedil;a, farinha, polvilho, hortali&ccedil;as foi muito impactada na regi&atilde;o.</p> <p> Pequenos produtores reclamam que prepostos da empresa, quando trataram da indeniza&ccedil;&atilde;o da servid&atilde;o de passagem do mineroduto, falaram que passaria um cano de 50/80 cent&iacute;metros e que tudo voltaria ao normal, sem restri&ccedil;&otilde;es de uso. Muitos pequenos propriet&aacute;rios imaginavam que a empresa n&atilde;o usaria mais do que pequenos utens&iacute;lios para instala&ccedil;&atilde;o dos canos. Foram, contudo, surpreendidos com m&aacute;quinas de grande porte nos seus quintais para instala&ccedil;&atilde;o de canos e a abertura de cortes no solo, muitas vezes de 30 a 50 metros, para instala&ccedil;&atilde;o e passagem dos dutos. Alguns propriet&aacute;rios adoeceram ao perceberem os estragos realizados em suas pequenas glebas de terras. Algumas foram reviradas de ponta-cabe&ccedil;a e houve grande revolta dos pequenos produtores que n&atilde;o tinham sido avisados dos efeitos perversos que a instala&ccedil;&atilde;o do tal &ldquo;cano&rdquo; causaria a sua propriedade.</p> <p> &ldquo;Os tremores (vibra&ccedil;&otilde;es) ocorrem sempre que o mineroduto encontra-se em funcionamento e continuam frequentes at&eacute; a presente data. Al&eacute;m da vibra&ccedil;&atilde;o, a comunidade da Cabeceira do Turco &eacute; impactada com um barulho tamb&eacute;m produzido pelo mineroduto&rdquo;</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Com que frequ&ecirc;ncia ocorrem tremores em Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro por causa dos minerodutos?</p> <p> Patr&iacute;cia Generoso - Os tremores (vibra&ccedil;&otilde;es) ocorrem sempre que o mineroduto encontra-se em funcionamento e continuam frequentes at&eacute; a presente data. Al&eacute;m da vibra&ccedil;&atilde;o, a comunidade da Cabeceira do Turco &eacute; impactada com um barulho tamb&eacute;m produzido pelo mineroduto.</p> <p> A empresa j&aacute; ofereceu aluguel social para quatro fam&iacute;lias em raz&atilde;o de estarem mais pr&oacute;ximas dos tubos do mineroduto e convivendo com as vibra&ccedil;&otilde;es mais intensas. Al&eacute;m disso, a nascente que abastecia estas fam&iacute;lias foi extinta, uma vez que a &aacute;gua foi drenada com as obras de constru&ccedil;&atilde;o do mineroduto. Apenas uma fam&iacute;lia aceitou o aluguel social, embora n&atilde;o tenha sido poss&iacute;vel transferir suas cria&ccedil;&otilde;es para o local proposto pela empresa.</p> <p> As demais fam&iacute;lias n&atilde;o aceitaram o aluguel social uma vez que a medida proposta pela empresa era em car&aacute;ter provis&oacute;rio e n&atilde;o previa a possibilidade de transfer&ecirc;ncia dos animais e tampouco permitia a continuidade da produtividade. V&aacute;rias fam&iacute;lias tiveram suas casas avariadas por rachaduras e trincas causadas pelas vibra&ccedil;&otilde;es do mineroduto. H&aacute; relato de vazamento do mineroduto que provocou mortandade de peixes em raz&atilde;o da utiliza&ccedil;&atilde;o de produtos adstringentes para o transporte de min&eacute;rio. No caso da mortandade dos peixes, a atua&ccedil;&atilde;o dos &oacute;rg&atilde;os ambientais foi vergonhosa, tal a morosidade em se fazer os registros e a coleta de amostras de &aacute;gua e sedimentos que poderiam detectar os respons&aacute;veis, por todos conhecidos na regi&atilde;o.</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Existem projetos de instala&ccedil;&atilde;o de outros minerodutos em Minas Gerais? &Eacute; poss&iacute;vel estimar quantos s&atilde;o e qual a atual situa&ccedil;&atilde;o dos projetos desses minerodutos?</p> <p> <strong>Gabriel Ribeiro</strong>- Estados como Minas Gerais, Esp&iacute;rito Santo, Rio de Janeiro e Bahia t&ecirc;m autorizado a implanta&ccedil;&atilde;o de labir&iacute;nticas infraestruturas de extra&ccedil;&atilde;o e exporta&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rio de ferro, constitu&iacute;das de lavras a c&eacute;u aberto, sistema de dutos ou ferrovias para escoamento e terminais portu&aacute;rios, multiplicando a quantidade de instala&ccedil;&otilde;es de alto impacto local e translocal. Enquanto cada cava projetada ou plano de lavra objetiva uma produ&ccedil;&atilde;o de cerca de 25 milh&otilde;es de toneladas/ano (Mtpa), valores muito acima da m&eacute;dia hist&oacute;rica por empreendimento, os minerodutos visam acelerar o processo de transfer&ecirc;ncia do patrim&ocirc;nio mineral do Sudeste e do Nordeste do Brasil para pa&iacute;ses mais industrializados. Se n&atilde;o bastasse a perda e transposi&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua das regi&otilde;es mineradas, a l&oacute;gica perversa deste modo de explora&ccedil;&atilde;o e com&eacute;rcio amea&ccedil;a transformar o litoral de estados como Esp&iacute;rito Santo, Rio de Janeiro e Bahia em grandes aparatos de armazenamento e urbaniza&ccedil;&atilde;o industrial &ndash; com graves consequ&ecirc;ncias nas &aacute;reas de seguran&ccedil;a p&uacute;blica, fluxos vi&aacute;rios, especula&ccedil;&atilde;o e disputas imobili&aacute;rias e impactos socioambientais, culturais e paisag&iacute;sticos.</p> <p> Se esta tend&ecirc;ncia for mantida, a zona portu&aacute;ria brasileira ser&aacute; drasticamente alargada. Assim, os impactosmodificar&atilde;o os meios f&iacute;sico, bi&oacute;tico e socioecon&ocirc;mico, com altera&ccedil;&atilde;o da paisagem, retirada de vegeta&ccedil;&atilde;o, supress&atilde;o de cursos d&rsquo;&aacute;gua, nascentes e propriedades rurais, caracterizando uma maior amplitude dos efeitos de sua instala&ccedil;&atilde;o e opera&ccedil;&atilde;o.</p> <p> <strong>Minerodutos em funcionamento</strong></p> <p> No momento presente, dois complexos miner&aacute;rios com uso de minerodutos est&atilde;o em funcionamento: o primeiro &eacute; o projeto consorciado das multinacionais Vale e BHP Billiton, por meio da Samarco, que explora duas jazidas (Germano e Alegria) nas cidades de Ouro Preto e Mariana, Quadril&aacute;tero Ferr&iacute;fero, ber&ccedil;o do primeiro grande rush da minera&ccedil;&atilde;o no mundo. Como se sabe, as atividades da Samarco est&atilde;o embargadas ap&oacute;s o recente desastre dabarragem Fund&atilde;o, no subdistrito de Bento Rodrigues. Os minerodutos da Samarco levam a produ&ccedil;&atilde;o at&eacute; Anchieta, no sul do Esp&iacute;rito Santo, onde est&aacute; instalado o Porto de Ubu e usinas pelotizadoras. Com 396 km de extens&atilde;o, os tr&ecirc;s minerodutos da Samarco cortam ao todo 25 munic&iacute;pios mineiros e capixabas. Eles s&atilde;o alimentados pelas baterias de po&ccedil;os subterr&acirc;neos da Samarco e Vale e por corpos de &aacute;gua superficiais. Nos &uacute;ltimos anos, a Samarco compensou a redu&ccedil;&atilde;o da vaz&atilde;o de c&oacute;rregos e ribeir&otilde;es da regi&atilde;o pelo aumento da capta&ccedil;&atilde;o de &aacute;guas subterr&acirc;neas e, para instalar o terceiro mineroduto, obteve outorga para captar &aacute;gua de qualidade em um munic&iacute;pio vizinho.</p> <p> &ldquo;Se esta tend&ecirc;ncia for mantida, a zona portu&aacute;ria brasileira ser&aacute; drasticamente alargada&rdquo;</p> <p> O segundo empreendimento em opera&ccedil;&atilde;o, o projeto Minas-Rio &ndash; da corpora&ccedil;&atilde;o Anglo American &ndash;, &eacute; propagandeado como respons&aacute;vel pela cria&ccedil;&atilde;o do &ldquo;maior mineroduto do mundo&rdquo;. H&aacute; um ano em atividade, o Minas-Rio pretende explorar uma cava de 12 km a c&eacute;u aberto ao longo da Serra da Ferrugem &ndash; nos munic&iacute;pios de Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro e Alvorada de Minas, no M&eacute;dio-Espinha&ccedil;o mineiro e no trecho alto da bacia do rio Santo Ant&ocirc;nio (a sub-bacia de n&uacute;mero 3 do rio Doce em Minas Gerais). Adquirido por uma opera&ccedil;&atilde;o financeira iniciada pela MMX, o projeto Minas-Rio &eacute; composto pelo mineroduto de 525 km, que percorre 32 munic&iacute;pios mineiros e fluminenses at&eacute; o Porto de A&ccedil;u, em S&atilde;o Jo&atilde;o da Barra, norte do Rio de Janeiro. O mineroduto &eacute; hoje administrado pela Prumo, controlada pela Anglo American e o fundo de investimentos EIG, que adquiriu a parte da LLX/EBX nesta linha.</p> <p> O neg&oacute;cio da MMX-Anglo American demandou forte esquema pol&iacute;tico para sua aprova&ccedil;&atilde;o, acompanhada de grande especula&ccedil;&atilde;o fundi&aacute;ria e conflitos sociais no per&iacute;odo da alta do min&eacute;rio de ferro, e expectativas de revenda do neg&oacute;cio para outros interessados no momento de baixa atual. Tornou-se um case de insustentabilidade social e ambiental, documentada em v&aacute;rios estudos e den&uacute;ncias trazidas a p&uacute;blico. Revelou a fragilidade do neoextrativismo e, juntamente com conflitos causados por outros projetos miner&aacute;rios em Minas Gerais, tem motivado articula&ccedil;&otilde;es de mineradoras, autoridades p&uacute;blicas e bancas de advogados interessados em desconstruir a legisla&ccedil;&atilde;o mineral e ambiental mineira e brasileira.</p> <p> Apoiados no precedente formado, projetos de complexos de minera&ccedil;&atilde;o das holdings Votorantim, Ferrous Resourcese Manabi S.A. j&aacute; pleitearam licen&ccedil;as para a implanta&ccedil;&atilde;o de novos minerodutos.</p> <p> O Projeto Vale do Rio Pardo &ndash; PVRP, da Sul Americana de Metais &ndash; SAM, grupo Votorantim, pretende ligar a regi&atilde;o montanhosa e semi&aacute;rida de Gr&atilde;o Mogol, cadeia do Espinha&ccedil;o no norte de Minas Gerais, at&eacute; a costa de Ilh&eacute;us, utilizando-se do estoque h&iacute;drico armazenado na represa da Usina Hidrel&eacute;trica &ndash; UHE de Irap&eacute;, controverso projeto implantado no Vale do Jequitinhonha. Caso seja licenciado, o mineroduto ter&aacute; 482 km seccionando o Norte de Minas e o Centro-Sul baiano em 21 municipalidades.</p> <p> Localizada na regi&atilde;o do Alto Rio Paraopeba, ao sul da Regi&atilde;o Metropolitana de Belo Horizonte, Congonhas tem na minera&ccedil;&atilde;o de ferro sua principal atividade. Mesmo o munic&iacute;pio contando com extensa malha ferrovi&aacute;ria controlada pelaMRS Log&iacute;stica, empresas como a Ferrous Resources do Brasil tentam escapar dos valores de fretes cobrados, mediante a constru&ccedil;&atilde;o de estruturas pr&oacute;prias para transportar sua carga. O projeto de mineroduto da Ferrous prev&ecirc; a constru&ccedil;&atilde;o de um duto de 400 km at&eacute; Presidente Kennedy-ES. Contudo, a administra&ccedil;&atilde;o de Paula C&acirc;ndido-MG eVi&ccedil;osa-MG v&ecirc;m incentivando outros 20 munic&iacute;pios atingidos a iniciarem um movimento de resist&ecirc;ncia ao empreendimento, buscando maiores ades&otilde;es &agrave; &ldquo;Campanha Pelas &Aacute;guas e Contra o Mineroduto da Ferrous&rdquo;, organizada por n&uacute;cleo de pesquisa da Universidade Federal de Vi&ccedil;osa &ndash; UFV. Por enquanto, a op&ccedil;&atilde;o pelo modal dutovi&aacute;rio est&aacute; em suspenso pela companhia.</p> <p> O terceiro complexo miner&aacute;rio seria operado pela Manabi ou MLog, em &aacute;rea pr&oacute;xima &agrave; j&aacute; afetada pelo projeto Minas-Rio, na mesma sub-bacia do Rio Santo Ant&ocirc;nio, palco de empreendimentos e projetos hidrel&eacute;tricos, e na contravertente das minas da Vale S.A. em Itabira. O mineroduto proposto pela Manabi atravessaria a bacia hidrogr&aacute;fica do rio Doce, inclusive &aacute;reas de reivindica&ccedil;&atilde;o da etnia ind&iacute;gena Krenak e comunidades pomeranas. Conflitos entre pequenos propriet&aacute;rios e a empresa se verificaram em parte dos 512 km projetados entre Morro do Pilar-MG aLinhares-ES, que compreende 23 munic&iacute;pios mineiros e capixabas. Ap&oacute;s a obten&ccedil;&atilde;o da licen&ccedil;a pr&eacute;via da mina, no final do governo do PSDB-PP em Minas Gerais, a Manabi praticamente desapareceu de Morro do Pilar. Segundo as informa&ccedil;&otilde;es que circularam em outubro de 2015, a reestrutura&ccedil;&atilde;o administrativa e acion&aacute;ria da empresa estaria focando no projeto da instala&ccedil;&atilde;o do complexo portu&aacute;rio em Linhares.</p> <p> <strong>Gustavo Gazzinelli</strong>- No auge da crise h&iacute;drica no in&iacute;cio de 2014, o Instituto Brasileiro de Minera&ccedil;&atilde;o &ndash; Ibram tentou rebater as manifesta&ccedil;&otilde;es da sociedade civil que criticavam o emprego de minerodutos em Minas Gerais. Segundo gr&aacute;fico publicado pela entidade, Minas Gerais seria respons&aacute;vel pela produ&ccedil;&atilde;o de 280 dos 400 milh&otilde;es de toneladas de min&eacute;rio de ferro produzidos no pa&iacute;s. Desse total, informou o Ibram, apenas 25 milh&otilde;es de toneladas eram transportadas por minerodutos, o que representaria 8% da produ&ccedil;&atilde;o do Estado. O Ibram tamb&eacute;m argumentou &ldquo;que os minerodutos em opera&ccedil;&atilde;o em Minas Gerais n&atilde;o utilizam os mesmos recursos h&iacute;dricos destinados ao abastecimento urbano da Regi&atilde;o Metropolitana da capital mineira. Simplesmente porque os minerodutos n&atilde;o est&atilde;o localizados nas bacias dos rios Velhas e Paraopeba, os principais sistemas de abastecimento daquela regi&atilde;o. As capta&ccedil;&otilde;es dos minerodutos ocorrem na bacia hidrogr&aacute;fica do rio Doce&rdquo;. Como &eacute; frequente, o Ibram confunde localiza&ccedil;&atilde;o em bacia hidrogr&aacute;fica com potencialidade de uso da &aacute;gua pela regi&atilde;o metropolitana que est&aacute; a cerca de 50 km dos pontos de capta&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua para os minerodutos da Samarco. Mas, agora, depois do rompimento da barragem sobre o rio Doce, &eacute; de se perguntar se sua recupera&ccedil;&atilde;o prescindir&aacute; da &aacute;gua retirada da bacia hidrogr&aacute;fica pelos minerodutos daVale/BHP, Anglo American ou Manabi/MLog.</p> <p> &ldquo;Depois do rompimento da barragem sobre o rio Doce, &eacute; de se perguntar se sua recupera&ccedil;&atilde;o prescindir&aacute; da &aacute;gua retirada da bacia hidrogr&aacute;fica pelos minerodutos da Vale/BHP, Anglo American ou Manabi/MLog&rdquo;</p> <p> <strong>Gabriel Ribeiro</strong>- As estat&iacute;sticas do Ibram seriam pe&ccedil;as de fic&ccedil;&atilde;o, caso realizadas as inten&ccedil;&otilde;es dos projetos neoextrativistas, que prop&otilde;em o modal mineroduto como meio de transportar sua produ&ccedil;&atilde;o. Caso os projetos mencionados consigam obter as licen&ccedil;as ambientais dos minerodutos, haveria uma mudan&ccedil;a significativa nestes percentuais e um volume absurdo de &aacute;gua transposta para outros estados. Logo come&ccedil;ariam a dizer que a &ldquo;voca&ccedil;&atilde;o&rdquo; &eacute; transportar por minerodutos.</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; O que &eacute; o Projeto Minas-Rio? Como se deu esse projeto?</p> <p> <strong>Patr&iacute;cia Genoroso</strong>- O Minas-Rio &eacute; um projeto de minera&ccedil;&atilde;o no formato do trip&eacute;: mina, mineroduto e porto. Foi concebido pelo Sr. Eike Batista atrav&eacute;s da ent&atilde;o MMX, vendida posteriormente para a Anglo American. As estruturas do empreendimento foram licenciadas por &oacute;rg&atilde;os ambientais distintos e tiveram os impactos ambientais e sociais analisados de forma fragmentada, o que impediu a avalia&ccedil;&atilde;o sin&eacute;rgica de todos os impactos.</p> <p> As principais estruturas s&atilde;o a mina de lavra a c&eacute;u aberto de min&eacute;rio de ferro em Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro eAlvorada de Minas, que dever&aacute; alcan&ccedil;ar 55 Mtpa (conforme licenciado pela Unidade Regional Jequitinhonha do Conselho de Pol&iacute;tica Ambiental de MG &ndash; URC Copam Jequitinhonha) &ndash; a Anglo American fala em chegar a 90 Mtpa; o mineroduto de 529 km que passa por 25 munic&iacute;pios mineiros e sete fluminenses, captando 2.500 m&sup3;/h (licenciado pelo Ibama); e o porto A&ccedil;u, projetado para tamb&eacute;m funcionar como distrito industrial (licenciado pelo Instituto Estadual do Ambiente/Inea-RJ).</p> <p> Desde o in&iacute;cio, o Estudo de Impacto Ambiental &ndash; EIA foi apresentado sem identificar os atingidos pelo projeto. Desde o licenciamento pr&eacute;vio e mesmo ap&oacute;s a concess&atilde;o da licen&ccedil;a de opera&ccedil;&atilde;o, no final de 2014, a lista de atingidos foi e continua a ser objeto de controv&eacute;rsias e de condicionantes que s&atilde;o precariamente cumpridas, em muitos casos. Para se ter uma ideia, o t&oacute;pico &ldquo;&Aacute;rea considerada a jusante da barragem de rejeitos&rdquo; do estudo de Ruptura Hipot&eacute;tica da Barragem, apresentado pela Anglo American (ent&atilde;o Anglo Ferrous Brazil) e pela empresa de consultoria Pimenta de &Aacute;vila, omitiu, nas proje&ccedil;&otilde;es que fez, a comunidade da &Aacute;gua Quente habitada por v&aacute;rias fam&iacute;lias e aquela mais pr&oacute;xima da barragem. Essa omiss&atilde;o pode ter trazido implica&ccedil;&otilde;es formais na avalia&ccedil;&atilde;o da periculosidade da barragem e quanto &agrave; necessidade de reassentamento das fam&iacute;lias primeira e mais gravemente atingidas por eventual ruptura.</p> <p> A desapropria&ccedil;&atilde;o de terras para constru&ccedil;&atilde;o do Porto e do Distrito Industrial do A&ccedil;u tamb&eacute;m foi realizada por meio de decreto do governador S&eacute;rgio Cabral, do Rio de Janeiro. Grande extens&atilde;o de &aacute;rea foi desapropriada em S&atilde;o Jo&atilde;o da Barra, distrito de A&ccedil;u, por meio de um processo violento que utilizou liminares concedidas pela justi&ccedil;a para expulsar os pequenos propriet&aacute;rios de suas terras. At&eacute; fevereiro de 2015, o porto funcionava com apenas 10% de sua &aacute;rea ocupada (Estad&atilde;o).</p> <p> O projeto contou com o financiamento do BNDES para obras do mineroduto e com decreto, de 5 de mar&ccedil;o de 2008, do ent&atilde;o governador A&eacute;cio Neves, declarando a utilidade p&uacute;blica das terras para passagem do mineroduto, antes mesmo da licen&ccedil;a pr&eacute;via da mina. Como se v&ecirc;, a din&acirc;mica do licenciamento fragmentado e atropelado revela ser o mineroduto parte da engrenagem para acelerar a obten&ccedil;&atilde;o de resultados financeiros ou especulativos, que na propor&ccedil;&atilde;o inversa da poupan&ccedil;a de investimentos e cuidados resultaram na apura&ccedil;&atilde;o de impactos e viola&ccedil;&otilde;es de direitos socioambientais e na inseguran&ccedil;a ou intranquilidade pessoal e jur&iacute;dica das comunidades atingidas. Em outras palavras, dif&iacute;cil separar de forma r&iacute;gida o processo do licenciamento do mineroduto, daqueles relativos &agrave; mina e ao porto.</p> <p> &ldquo;Com a constru&ccedil;&atilde;o do mineroduto Minas-Rio as comunidades rurais passaram a ser monitoradas pela mineradora Anglo American&rdquo;</p> <p> <strong>IHU On-Line</strong>&ndash; Deseja acrescentar algo?</p> <p> <strong>Patr&iacute;cia Genoroso -</strong>Com a constru&ccedil;&atilde;o do mineroduto Minas-Rioas comunidades rurais passaram a ser monitoradas pela mineradora Anglo American, que, al&eacute;m de fazer uso de olheiros, tamb&eacute;m instalou c&acirc;maras de monitoramento nas comunidades.</p> <p> Em julho de 2015, as comunidades do Turco, &Aacute;gua Quente, Cabeceira do Turco e Sapo fizeram manifesta&ccedil;&atilde;o na rodovia MG-10, uma vez que as promessas de solu&ccedil;&atilde;o das interrup&ccedil;&otilde;es de abastecimento de &aacute;gua e o problema das vibra&ccedil;&otilde;es e rachaduras nas casas n&atilde;o haviam sido solucionados. Na ocasi&atilde;o, a empresa utilizou de expediente que se tornou corriqueiro: marginalizou os que faziam a manifesta&ccedil;&atilde;o e prop&ocirc;s uma a&ccedil;&atilde;o de interdito proibit&oacute;rio, contra tr&ecirc;s membros da comunidade do Turco &ndash; Elias, Denis e Ricardo. A a&ccedil;&atilde;o de interdito proibit&oacute;rio, com pedido de urgente liminar, tinha ainda por objetivo incluir, no polo passivo, &ldquo;DEMAIS TURBADORES/INVASORES que porventura venham a ser encontrados e identificados na &aacute;rea [rodovia e &aacute;rea de acesso &agrave; mina] quando do cumprimento do mandado de cita&ccedil;&atilde;o e do interdito&rdquo; (parte extra&iacute;da da peti&ccedil;&atilde;o inicial).</p> <p> Portanto, a a&ccedil;&atilde;o, al&eacute;m de buscar a criminaliza&ccedil;&atilde;o de pessoas &ldquo;certas e determinadas (Elias, Denis e Ricardo)&rdquo;, objetivou o uso da for&ccedil;a contra qualquer outra que fosse identificada na companhia dos mesmos. O juiz indeferiu, por&eacute;m, a liminar, observando que a atua&ccedil;&atilde;o do Judici&aacute;rio se justificaria, somente, &ldquo;caso o movimento em quest&atilde;o tomasse propor&ccedil;&otilde;es consider&aacute;veis, escapando do controle do Poder P&uacute;blico&rdquo;. Na vis&atilde;o dele, n&atilde;o seria este o caso da &ldquo;realiza&ccedil;&atilde;o de movimento pac&iacute;fico com aproximadamente 20 manifestantes&rdquo;.</p> <p> A obra da Anglo American foi alvo de fiscaliza&ccedil;&atilde;o do DRT e em 2013 foram resgatados em Concei&ccedil;&atilde;o do Mato Dentro 172 trabalhadores em condi&ccedil;&otilde;es an&aacute;logas &agrave;s de escravo, v&iacute;timas do tr&aacute;fico de pessoas e submetidas a condi&ccedil;&otilde;es degradantes.</p>

Bom Dia Online- Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.

by Mediaplus