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<p> Enquanto isso, naquela pra&ccedil;a no centro de uma favela, um sujeito dormia no banquinho.</p> <p> - Ei...meu amigo. Voc&ecirc; n&atilde;o pode dormir a&iacute; n&atilde;o...</p> <p> - Mas quem &eacute; voc&ecirc;?</p> <p> - Eu sou seguran&ccedil;a aqui da Vila. A pra&ccedil;a &eacute; p&uacute;blica. N&atilde;o pode dormir ai...</p> <p> - Mas meu amigo. Como &eacute; que eu vou fazer? Eu perdi tudo, emprego, fam&iacute;lia... N&atilde;o tenho ningu&eacute;m.</p> <p> - T&aacute; certo. O senhor &eacute; apenas mais um. V&aacute; para aquele galp&atilde;o. L&aacute; eles v&atilde;o te ajudar.</p> <p> - Mas que galp&atilde;o &eacute; esse?</p> <p> - &Eacute; o local onde ficam os obsoletos. O que voc&ecirc; faz?</p> <p> - Eu sou jornalista. O jornal em que eu trabalhava fechou e eu s&oacute; sei ser jornalista.</p> <p> - T&aacute; certo. J&aacute; &eacute; o oitavo que chega aqui essa semana. Vou acompanh&aacute;-lo at&eacute; o galp&atilde;o.</p> <p> - Mas me diga uma coisa. Que comunidade &eacute; essa?</p> <p> - O nome &eacute; Vila saudade. Mas vou encaminh&aacute;-lo para o galp&atilde;o. L&aacute; voc&ecirc; ter&aacute; alimenta&ccedil;&atilde;o, um colch&atilde;o para dormir e encaminhamento.</p> <p> - Muito obrigado.</p> <p> ELE CHEGOU, PREENCHEU UM CADASTRO, REUNIU-SE COM UMA ASSISTENTE SOCIAL E FOI DIRECIONADO PARA UM QUARTO, ONDE ESTAVAM MAIS 6 PESSOAS</p> <p> - Ol&aacute;, meu amigo. Seja bem vindo na saudade.</p> <p> - Bem vindo? Vou ficar aqui por pouco tempo.</p> <p> - Todos falam isso.</p> <p> - Mas como assim? Quero dar a volta por cima.</p> <p> - Pra que? Aqui a gente tem tudo. Tem gente que j&aacute; est&aacute; aqui a muitos anos.</p> <p> - T&aacute; certo. Ent&atilde;o me diga quem &eacute; voc&ecirc; e como chegou aqui?</p> <p> - Meu nome &eacute; &Acirc;ngelo.&nbsp; Eu era tip&oacute;grafo.</p> <p> - O que s&atilde;o tip&oacute;grafos?</p> <p> - S&atilde;o aquelas pessoas que montam jornais pe&ccedil;a por pe&ccedil;a, letrinha por letrinha. Quando apareceram as gr&aacute;ficas modernas, acabou o nosso trabalho. Como n&atilde;o sabia fazer outra coisa, a comunidade me acolheu.</p> <p> -E voc&ecirc;?</p> <p> - Meu nome &eacute; Sr L&uacute;cio Caldas. Eu era comerciante de 10 000 telefones. Eu alugava e vendia. Fui um sujeito bem rico. De repente o mercado de telefones acabou, evaporou e eu perdi tudo que tinha.</p> <p> - S&eacute;rio? E voc&ecirc;?</p> <p> - Eu era vendedor de m&aacute;quinas el&eacute;tricas de escrever. Era um mercado excelente. Mas a&iacute; apareceram os computadores e fiquei com um estoque enorme, vindo a falir e a perder tudo nos anos sequentes.</p> <p> - E voc&ecirc; a&iacute; de Boina?</p> <p> - Fui vendedor de enciclop&eacute;dias BARSA. N&atilde;o contava que um dia ter&iacute;amos o google e outros recursos. Tenho dois containers cheios de BARSAs encalhadas. Ningu&eacute;m quer nem como doa&ccedil;&atilde;o.</p> <p> - E voc&ecirc;s?</p> <p> - Eu sou ex calculista de obras. Mas depois que apareceu o Autocad, fiquei sem emprego.</p> <p> - Sou ex banc&aacute;rio. Os caixas eletr&ocirc;nicos e a internet me substitu&iacute;ram.</p> <p> - Eu tinha uma gr&aacute;fica e s&oacute; trabalhava com listas telef&ocirc;nicas. Quebrei h&aacute;&nbsp; 5 anos e tamb&eacute;m estou aqui.</p> <p> - Minha nossa senhora. N&oacute;s precisamos fazer alguma coisa...</p> <p> - Mas fazer o que? Pra que ficarmos nos matando l&aacute; fora? Aqui n&oacute;s temos comida, lugar pra tomar banho, roupa, televis&atilde;o pra assistir e at&eacute; internet?</p> <p> - Mas isso n&atilde;o &eacute; viver...&eacute; vegetar...</p> <p> - Que nada. Aqui &eacute; muito bom. Pra que ficar dando murro na ponta de faca?</p> <p> - Mas a gente precisa ser &uacute;til.</p> <p> - Mas quem falou que n&atilde;o somos &uacute;teis?</p> <p> - Quem banca esse lugar?</p> <p> - Uai. Tem uns empres&aacute;rios a&iacute;, uma ONG, tudo em troca de uma coisa muito simples.</p> <p> - O que?</p> <p> - Que votemos nos candidatos deles nas pr&oacute;ximas elei&ccedil;&otilde;es e participemos de algumas manifesta&ccedil;&otilde;es. Dizem que eles tem mais um monte de galp&otilde;es como esse.</p> <p> - Bem razo&aacute;vel. N&oacute;s n&atilde;o somos vagabundos. Somos descartados pelo sistema.</p> <p> - E ainda ganhamos um cart&atilde;o, o bolsa dignidade, que a gente vai renovando todo m&ecirc;s para comprarmos alguma coisa pra n&oacute;s.</p> <p> - Muito justo. Mas eu n&atilde;o pretendo continuar explorando ningu&eacute;m. Quero ganhar o meu dinheiro, fazer meu pr&oacute;prio destino</p> <p> - T&aacute; certo ent&atilde;o. Mas o que voc&ecirc; faz mesmo?</p> <p> - Sou professor...</p> <p> - kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk</p> <p> (T&aacute; rindo a&iacute; tamb&eacute;m? De repente tem um lugar aguardando pra voc&ecirc; l&aacute; na vila.)</p> <p style="text-align: right;"> <em>MARCOS MARTINO</em></p> <p style="text-align: right;"> <em>Email: marcos.martino@gmail.com</em></p> <p style="text-align: right;"> <em>Skype: martinonews</em></p> <p style="text-align: right;"> <em>Facebook: https://www.facebook.com/martinonews?ref=tn_tnmn</em></p> <p style="text-align: right;"> <em>Site vitrine: http://marcosmartino.wix.com/marcosmartino</em></p> <p style="text-align: right;"> <em>(031) - 88151041</em></p>