15/05/2015 06h53
Cen?rios - In?teis
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Enquanto isso, naquela praça no centro de uma favela, um sujeito dormia no banquinho.</p>
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- Ei...meu amigo. Você não pode dormir aí não...</p>
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- Mas quem é você?</p>
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- Eu sou segurança aqui da Vila. A praça é pública. Não pode dormir ai...</p>
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- Mas meu amigo. Como é que eu vou fazer? Eu perdi tudo, emprego, família... Não tenho ninguém.</p>
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- Tá certo. O senhor é apenas mais um. Vá para aquele galpão. Lá eles vão te ajudar.</p>
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- Mas que galpão é esse?</p>
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- É o local onde ficam os obsoletos. O que você faz?</p>
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- Eu sou jornalista. O jornal em que eu trabalhava fechou e eu só sei ser jornalista.</p>
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- Tá certo. Já é o oitavo que chega aqui essa semana. Vou acompanhá-lo até o galpão.</p>
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- Mas me diga uma coisa. Que comunidade é essa?</p>
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- O nome é Vila saudade. Mas vou encaminhá-lo para o galpão. Lá você terá alimentação, um colchão para dormir e encaminhamento.</p>
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- Muito obrigado.</p>
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ELE CHEGOU, PREENCHEU UM CADASTRO, REUNIU-SE COM UMA ASSISTENTE SOCIAL E FOI DIRECIONADO PARA UM QUARTO, ONDE ESTAVAM MAIS 6 PESSOAS</p>
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- Olá, meu amigo. Seja bem vindo na saudade.</p>
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- Bem vindo? Vou ficar aqui por pouco tempo.</p>
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- Todos falam isso.</p>
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- Mas como assim? Quero dar a volta por cima.</p>
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- Pra que? Aqui a gente tem tudo. Tem gente que já está aqui a muitos anos.</p>
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- Tá certo. Então me diga quem é você e como chegou aqui?</p>
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- Meu nome é Ângelo. Eu era tipógrafo.</p>
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- O que são tipógrafos?</p>
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- São aquelas pessoas que montam jornais peça por peça, letrinha por letrinha. Quando apareceram as gráficas modernas, acabou o nosso trabalho. Como não sabia fazer outra coisa, a comunidade me acolheu.</p>
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-E você?</p>
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- Meu nome é Sr Lúcio Caldas. Eu era comerciante de 10 000 telefones. Eu alugava e vendia. Fui um sujeito bem rico. De repente o mercado de telefones acabou, evaporou e eu perdi tudo que tinha.</p>
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- Sério? E você?</p>
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- Eu era vendedor de máquinas elétricas de escrever. Era um mercado excelente. Mas aí apareceram os computadores e fiquei com um estoque enorme, vindo a falir e a perder tudo nos anos sequentes.</p>
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- E você aí de Boina?</p>
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- Fui vendedor de enciclopédias BARSA. Não contava que um dia teríamos o google e outros recursos. Tenho dois containers cheios de BARSAs encalhadas. Ninguém quer nem como doação.</p>
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- E vocês?</p>
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- Eu sou ex calculista de obras. Mas depois que apareceu o Autocad, fiquei sem emprego.</p>
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- Sou ex bancário. Os caixas eletrônicos e a internet me substituíram.</p>
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- Eu tinha uma gráfica e só trabalhava com listas telefônicas. Quebrei há 5 anos e também estou aqui.</p>
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- Minha nossa senhora. Nós precisamos fazer alguma coisa...</p>
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- Mas fazer o que? Pra que ficarmos nos matando lá fora? Aqui nós temos comida, lugar pra tomar banho, roupa, televisão pra assistir e até internet?</p>
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- Mas isso não é viver...é vegetar...</p>
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- Que nada. Aqui é muito bom. Pra que ficar dando murro na ponta de faca?</p>
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- Mas a gente precisa ser útil.</p>
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- Mas quem falou que não somos úteis?</p>
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- Quem banca esse lugar?</p>
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- Uai. Tem uns empresários aí, uma ONG, tudo em troca de uma coisa muito simples.</p>
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- O que?</p>
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- Que votemos nos candidatos deles nas próximas eleições e participemos de algumas manifestações. Dizem que eles tem mais um monte de galpões como esse.</p>
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- Bem razoável. Nós não somos vagabundos. Somos descartados pelo sistema.</p>
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- E ainda ganhamos um cartão, o bolsa dignidade, que a gente vai renovando todo mês para comprarmos alguma coisa pra nós.</p>
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- Muito justo. Mas eu não pretendo continuar explorando ninguém. Quero ganhar o meu dinheiro, fazer meu próprio destino</p>
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- Tá certo então. Mas o que você faz mesmo?</p>
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- Sou professor...</p>
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- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk</p>
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(Tá rindo aí também? De repente tem um lugar aguardando pra você lá na vila.)</p>
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<em>MARCOS MARTINO</em></p>
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<em>Email: marcos.martino@gmail.com</em></p>
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