06/01/2015 09h35
Os Sinos - A met?fora da impregna??o
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O modesto recomeço da temporada chuvosa trouxe para as redações do Sudeste, sobretudo as paulistas, novos chavões: “Aguaceiros não aumentam nível dos reservatórios”. Boletins de rádio, jornais e telejornais, durante dias entoaram a mesma cantilena sem que editores, pauteiros e repórteres investigativos atinassem com uma explicação convincente. Pouco antes do Natal, a reviravolta: “Reservatórios começam a encher”. Finalmente, a surpresa: “Não choveu e nível subiu”. Este sobe-desce deve continuar até o fim das águas de março.</p>
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A solução do enigma é quase óbvia: com a prolongada estiagem as represas ficaram com seus leitos secos e os entornos, áridos e empedrados. As primeiras águas não deslizaram para aumentar o volume morto, no caminho foram sendo absorvidas pelo solo ressecado, sedento, rachado.</p>
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De repente, quando as beiradas começaram a ficar embebidas, impregnadas ou encharcadas, a sobra líquida começa a escorrer para o centro da represa e a aumentar o seu volume.</p>
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A Metáfora da Impregnação não foi detectada pelos radares das redações. Mesmo por que já não há redações suficientemente autônomas para perceber coletivamente a veloz fabricação de fenômenos e não apenas no âmbito da estiagem e da escassez.</p>
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Mudam as circunstâncias, fatos e efeitos se sucedem, realidades são alteradas e os espelhos – o sistema jornalístico – não os reflete ou não entende os seus sinais.</p>
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<em>Por Alberto Dines </em></p>