Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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16/12/2014 09h24

Os Sinos - Golpes nunca mais

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<p> O Brasil tamb&eacute;m parou para engolir l&aacute;grimas &ndash; a presidente Dilma Rousseff n&atilde;o foi a &uacute;nica a se emocionar com o relat&oacute;rio final da Comiss&atilde;o Nacional da Verdade. O reencontro com a dor, imperiosamente contido e sereno, foi compartilhado por muitos brasileiros e n&atilde;o apenas os diretamente atingidos pela grande trag&eacute;dia.</p> <p> N&atilde;o compareceram &agrave; solenidade no pal&aacute;cio do Planalto na quarta-feira (10/12), por&eacute;m as figuras mais representativas da pol&iacute;tica brasileira endossaram com a sua presen&ccedil;a o in&iacute;cio formal da grande empreitada de buscar a verdade, em 16 de maio de 2012.</p> <p> A cerim&ocirc;nia que marcou sua conclus&atilde;o, h&aacute; muito agendada para coincidir com o Dia Internacional dos Direitos Humanos, acabou refletindo as apreens&otilde;es, hesita&ccedil;&otilde;es e tremores que percorrem os bastidores da cena pol&iacute;tica. As desaven&ccedil;as e contrariedades oriundas do &uacute;ltimo pleito e da cascata de revela&ccedil;&otilde;es sobre nossa empresa-s&iacute;mbolo acabaram por converter um ato do Estado brasileiro em manifesta&ccedil;&atilde;o do governo.</p> <p> <strong>Vontade coletiva</strong></p> <p> Os civis e militares que repudiam o reencontro com o passado deveriam sentir que se insurgem contra o Estado Democr&aacute;tico de Direito. Da ativa ou da reserva, uniformizados ou n&atilde;o, deveriam perceber que n&atilde;o se tratou de um evento pol&iacute;tico-partid&aacute;rio, mas de uma manifesta&ccedil;&atilde;o da Rep&uacute;blica Federativa do Brasil e das for&ccedil;as democr&aacute;ticas comprometidas com a sua preserva&ccedil;&atilde;o.</p> <p> Se o Cerimonial da Presid&ecirc;ncia n&atilde;o conseguiu conferir ao ato a necess&aacute;ria entona&ccedil;&atilde;o institucional, falharam tamb&eacute;m os partidos &ndash; especialmente os da oposi&ccedil;&atilde;o &ndash; ao desligarem-se de uma tarefa suprapartid&aacute;ria, verdadeiramente nacional. A Comiss&atilde;o da Verdade transcende &agrave; cole&ccedil;&atilde;o de siglas partid&aacute;rias, raras vezes viu-se um selecionado t&atilde;o representativo da intelig&ecirc;ncia e da cultura brasileira. Suas pr&oacute;prias diverg&ecirc;ncias &ndash; m&iacute;nimas &ndash; desvendam uma dedica&ccedil;&atilde;o &agrave; causa p&uacute;blica e um discernimento sem precedentes do interesse nacional.</p> <p> Se as lideran&ccedil;as pol&iacute;ticas n&atilde;o foram convidadas ao ato, que se solidarizassem por vontade pr&oacute;pria com as l&aacute;grimas da presidente. Dilma Rousseff n&atilde;o chorou pelo que sofreu, chorou pelo que sofreram tantos outros brasileiros. Aquele foi um momento hist&oacute;rico, um marco, oportunidade &uacute;nica para repudiar a viol&ecirc;ncia pol&iacute;tica e consolidar a conviv&ecirc;ncia entre contr&aacute;rios.</p> <p> Omiss&atilde;o inadmiss&iacute;vel: um discurso em qualquer solenidade ou em plen&aacute;rio, uma declara&ccedil;&atilde;o &agrave; imprensa, um telegrama, e-mail ou tuite, n&atilde;o seriam gestos pol&iacute;ticos, mas humanit&aacute;rios. E de grande significado. Faltam &agrave; pol&iacute;tica brasileira impulsos a favor, gestos generosos, m&atilde;os estendidas, aproxima&ccedil;&otilde;es. &Eacute; preciso mostrar aos ressentidos, aos grandes e pequenos ditadores escondidos nos desv&atilde;os de uma democracia imatura, que a despeito das acirradas disputas partid&aacute;rias, h&aacute; um s&oacute;lido sentimento de repulsa &agrave; arbitrariedade e &agrave; tirania. Esta converg&ecirc;ncia ou consenso precisa aflorar, materializar-se como vontade coletiva.</p> <p> Se em 1964 algu&eacute;m se lembrasse do contragolpe incruento de 1955, do brutal golpe branco de 1937 e berrasse &ldquo;golpes nunca mais&rdquo;, nosso luto hoje talvez fosse menor. Ou nenhum.</p> <p style="text-align: right;"> <em>Observat&oacute;rio da Imprensa</em></p>

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