Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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21/10/2014 09h10

Os Sinos - Pesquisa: fa?a voc? mesmo

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<p> Os dois candidatos &agrave; Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica interrompem a temporada de agress&otilde;es e d&atilde;o uma folga &agrave; imprensa. O problema &eacute; que o jornalismo precisa de intensidade e, sem o bate-boca que marcou as duas &uacute;ltimas semanas, o notici&aacute;rio fica meio sem gra&ccedil;a.</p> <p> Viciada na depend&ecirc;ncia de factoides sob encomenda, a m&iacute;dia tradicional descobre que j&aacute; n&atilde;o tem a mesma criatividade de outros tempos. O resultado &eacute; esse t&eacute;dio mortal no notici&aacute;rio.</p> <p> Curiosamente, um recurso fartamente utilizado para alimentar os debates nas semanas anteriores parece esquecido pelos editores: o rastreamento (que os marqueteiros chamam de&nbsp;<em>tracking</em>) das pesquisas de inten&ccedil;&atilde;o de voto desapareceu da cobertura. A &uacute;ltima informa&ccedil;&atilde;o de que se tem not&iacute;cia dava conta de certo &ldquo;empate t&eacute;cnico&rdquo; entre as duas candidaturas, em pesquisas feitas por dois diferentes institutos em datas diversas e sob condi&ccedil;&otilde;es que induziriam a esperar alguma mudan&ccedil;a no quadro eleitoral.</p> <p> Na segunda-feira (20), um colunista do&nbsp;<em>Estado de S. Paulo</em>&nbsp;que n&atilde;o deixa d&uacute;vida quanto a seu alinhamento partid&aacute;rio costura um texto cauteloso para explicar os desvios das pesquisas: as causas seriam, talvez, erros no enunciado das perguntas, a ordem das quest&otilde;es, pesquisadores mal treinados, em per&iacute;odo de aumento da demanda e escassez de tempo e de profissionais qualificados. Tamb&eacute;m sobra culpa para os eleitores, porque t&ecirc;m o p&eacute;ssimo h&aacute;bito de mudar de opini&atilde;o. Mas o mais interessante &eacute; que o articulista admite a possibilidade de que parte significativa dos question&aacute;rios venha sendo preenchida pelos pr&oacute;prios pesquisadores.</p> <p> A ser confirmada &ndash; ou melhor &ndash; a menos que seja desmentida liminarmente pelos institutos, essa acusa&ccedil;&atilde;o pode colocar por terra a credibilidade de todos os gr&aacute;ficos que a imprensa costuma despejar sobre a sociedade nos per&iacute;odos eleitorais. Como se sabe, as pesquisas n&atilde;o apenas alimentam o notici&aacute;rio &ndash; elas s&atilde;o instrumento fundamental para as t&aacute;ticas de campanha e podem influenciar parcelas importantes do eleitorado.</p> <p> A suspeita de que os institutos n&atilde;o conferem nem 20% dos question&aacute;rios, se foram mesmo submetidos a eleitores ou preenchidos pelos pr&oacute;prios pesquisadores, representa a desmoraliza&ccedil;&atilde;o total.</p> <p> <strong>Saudades do imp&eacute;rio</strong></p> <p> Em meio &agrave; falta de not&iacute;cias, talvez o melhor da pol&iacute;tica esteja no outro lado da m&iacute;dia, o lado do entretenimento. No cap&iacute;tulo 78 da novela&nbsp;<em>Imp&eacute;rio</em>, da TV Globo, que foi ao ar no s&aacute;bado (18), a personagem Maria Marta Medeiros, vil&atilde; simp&aacute;tica vivida pela atriz L&iacute;lia Cabral, critica o marido por oferecer champanhe a um casal de classe m&eacute;dia: &ldquo;Mas que desperd&iacute;cio; essa gente gosta de cervejinha, de cachacinha, no m&aacute;ximo, no m&aacute;ximo gosta de caipirinha de vodca, e na laje&rdquo;, protesta a personagem. &ldquo;&Eacute; a classe oper&aacute;ria invadindo o para&iacute;so&rdquo;, diz seu interlocutor. &ldquo;S&atilde;o os novos tempos, Marta.&rdquo; &ldquo;Pois eu prefiro os velhos tempos; ali&aacute;s, os velh&iacute;ssimos tempos, os tempos da monarquia; o imp&eacute;rio&rdquo;, responde a empres&aacute;ria.</p> <p> A cena poderia ilustrar a reportagem de capa da revista&nbsp;<em>&Eacute;poca</em>. O contexto &eacute; o radicaliza&ccedil;&atilde;o que tomou conta da campanha eleitoral: &ldquo;A elei&ccedil;&atilde;o do vale-tudo&rdquo;, diz o t&iacute;tulo principal do seman&aacute;rio. No conjunto dos textos, destaque para relato sobre a explora&ccedil;&atilde;o, por parte dos candidatos, de uma divis&atilde;o que se consolida a cada elei&ccedil;&atilde;o, marcando a sociedade brasileira como um bloco rachado em dois &ndash; de um lado, as classes m&eacute;dias tradicionais; do outro, as classe ascendentes.</p> <p> A revista do Grupo Globo toma como ponto de partida um desentendimento em fam&iacute;lia provocado por diverg&ecirc;ncias pol&iacute;ticas, e tenta consolidar o argumento segundo o qual os debates pol&iacute;ticos se transformaram em briga de rua. Nesse cen&aacute;rio, o problema seria agravado pelo &ldquo;discurso empobrecido das redes sociais&rdquo; e estimulado pelos recentes entreveros que baixaram o n&iacute;vel dos confrontos entre os candidatos &agrave; Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica.</p> <p> A revista omite a responsabilidade da imprensa na constru&ccedil;&atilde;o desse clima beligerante, com a publica&ccedil;&atilde;o peri&oacute;dica de textos ofensivos ao governo federal e seus integrantes. Apenas cinco p&aacute;ginas antes da pretensa &ldquo;li&ccedil;&atilde;o de moral&rdquo; sobre a falta de decoro nos debates pol&iacute;ticos, a revista oferece aos leitores um exemplar do texto rastaquera de um de seus colunistas&nbsp;<em>pitbulls</em>.</p> <p> A imprensa dissimula, mas tamb&eacute;m prefere os velhos tempos. A imprensa sonha com a volta do imp&eacute;rio.</p> <p align="right"> <em>Por Luciano Martins Costa em 20/10/2014 </em></p>

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