Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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14/10/2014 09h41

Os Sinos Anunciam - A imprensa com fun?es de partido pol?tico

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<p> Sempre que o pa&iacute;s enfrenta uma conjuntura delicada no terreno econ&ocirc;mico, social ou pol&iacute;tico, ou ainda durante campanhas eleitorais acirradas, a imprensa se transforma na principal arena de confronto entre posi&ccedil;&otilde;es antag&ocirc;nicas, deixando em segundo plano os debates parlamentares.</p> <p> Este fen&ocirc;meno n&atilde;o &eacute; fruto de uma conjuntura espec&iacute;fica, mas um processo estrutural cujos efeitos tendem a se prolongar. A origem est&aacute; no fato de que a busca visibilidade p&uacute;blica por parte dos pol&iacute;ticos e governantes como parte da preocupa&ccedil;&atilde;o com apoios eleitorais tornou-se mais importante do que a busca por solu&ccedil;&otilde;es para os problemas nacionais.</p> <p> Como a imprensa &eacute; a institui&ccedil;&atilde;o mediadora entre a massa da popula&ccedil;&atilde;o e os seus dirigentes pol&iacute;ticos, ela, inevitavelmente, acabou se tornando mais importante do que a tribuna parlamentar para deputados e senadores. Com isso, os legisladores e governantes passaram a pautar suas a&ccedil;&otilde;es mais pela forma como elas s&atilde;o transmitidas pela m&iacute;dia jornal&iacute;stica do que pelo conte&uacute;do do problema em debate.</p> <p> Esta transfer&ecirc;ncia de fun&ccedil;&otilde;es partid&aacute;rias foi intensificada pela perda de identidade ideol&oacute;gica das diferentes siglas representadas no poder legislativo federal, estadual e municipal. A mir&iacute;ade de partidos brasileiros n&atilde;o representa hoje nada al&eacute;m do que estrat&eacute;gias de perman&ecirc;ncia ou conquista do poder, sem falar nos egos.</p> <p> Esta &ldquo;desidrata&ccedil;&atilde;o&rdquo; de partidos pol&iacute;ticos j&aacute; ficou evidente para o eleitorado a ponto de no primeiro turno das elei&ccedil;&otilde;es deste ano terem se registrado resultados como o do Maranh&atilde;o, onde o governador eleito &eacute; do Partido Comunista Brasileiro enquanto o seu companheiro de chapa &eacute; de um partido conservador. Quem ainda tem uma vaga ideia do que foi o marxismo deve ter levado um susto quando o novo governador maranhense anunciou que dar&aacute; &ldquo;um choque de capitalismo&rdquo; em sua gest&atilde;o.</p> <p> A descaracteriza&ccedil;&atilde;o da atividade partid&aacute;ria no pa&iacute;s deveria ter sido um processo tratado pela imprensa como tema de interesse p&uacute;blico, mas aconteceu justamente o contr&aacute;rio. Em vez de assumir um papel cr&iacute;tico em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; utiliza&ccedil;&atilde;o dos meios de comunica&ccedil;&atilde;o com substitutos das tribunas legislativas, os jornais, revistas, emissoras de r&aacute;dio, telejornais e p&aacute;ginas noticiosas na Web transformaram-se em pe&ccedil;as de estrat&eacute;gias de marketing pol&iacute;tico baseado na m&iacute;dia de massa.</p> <p> Esta altera&ccedil;&atilde;o de prioridades foi facilitada pela mudan&ccedil;a estrutural na a&ccedil;&atilde;o partid&aacute;ria, mas teve tamb&eacute;m os seus atrativos econ&ocirc;micos, nem sempre vis&iacute;veis. &Eacute; preciso levar em conta que toda a imprensa vive hoje um momento de profunda incerteza financeira porque seu modelo de neg&oacute;cios est&aacute; sendo implodido pelo uso da internet como plataforma de distribui&ccedil;&atilde;o massiva de not&iacute;cias de atualidade.</p> <p> As receitas com publicidade e vendagem minguaram e o futuro &eacute; cada vez mais sombrio para a imprensa. Uma das estrat&eacute;gias adotadas pelos donos de conglomerados jornal&iacute;sticos &eacute; procurar algum tipo de apoio financeiro estatal e este, obviamente, est&aacute; condicionado a favores pol&iacute;ticos. Neste ponto uniram-se a fome com a vontade de comer &ndash; e a imprensa assumiu plenamente uma fun&ccedil;&atilde;o partid&aacute;ria complementar &agrave;s estrat&eacute;gias de interesses oposicionistas e oficialistas. A imprensa assume assim o risco de envolver-se no mesmo mecanismo corruptor de troca de favores pol&iacute;ticos por benef&iacute;cios financeiros que est&aacute; na origem dos esc&acirc;ndalos do &ldquo;mensal&atilde;o&rdquo; e da Petrobras.</p> <p> &Eacute; bom lembrar que o &oacute;dio da revista Veja em rela&ccedil;&atilde;o ao lulopetismo tem origem no fim de um milion&aacute;rio contrato de impress&atilde;o de livros did&aacute;ticos pela Editora Abril, determinado durante o governo do ex-presidente Lula. Coincid&ecirc;ncia ou n&atilde;o, foi a partir do fim dessa decis&atilde;o governamental e privil&eacute;gio que come&ccedil;aram as agruras or&ccedil;ament&aacute;rias da editora, cuja revista semanal de informa&ccedil;&otilde;es assumiu, sem muitos disfarces, a fun&ccedil;&atilde;o de um partido pol&iacute;tico oposicionista.</p> <p> A mudan&ccedil;a do papel pol&iacute;tico de muitos &oacute;rg&atilde;os da imprensa ainda n&atilde;o foi percebida pela maioria dos leitores, ouvintes e telespectadores que continuam sob a influ&ecirc;ncia da heran&ccedil;a cultural criada pela ideia de independ&ecirc;ncia dos meios jornal&iacute;sticos de comunica&ccedil;&atilde;o. Mas o quadro est&aacute; mudando rapidamente &ndash; como fica expresso nas pesquisas de credibilidade na imprensa, que registram uma queda continuada, apesar dos &iacute;ndices de confian&ccedil;a ainda serem mais elevados do que noutros pa&iacute;ses, como os Estados Unidos.</p> <p> A fun&ccedil;&atilde;o partid&aacute;ria da imprensa &eacute; um tema complexo que precisa ser discutido com intensidade principalmente pelos cidad&atilde;os, j&aacute; que eles s&atilde;o os mais afetados pela mudan&ccedil;a no papel dos meios de comunica&ccedil;&atilde;o. Este texto nem de longe pretende ser definitivo porque n&atilde;o sou um especialista na quest&atilde;o. Ele precisa ser complementado com percep&ccedil;&otilde;es diversificadas e mais aprofundadas, porque envolve muitas outras &aacute;reas de estudo. O tema &eacute; um desafio para os jornalistas e para os cientistas pol&iacute;ticos. Por isso, ele deve ser visto como um convite para o in&iacute;cio de uma troca de ideias que ser&aacute; longa e complexa.</p> <p align="right"> <em>Por Carlos Castilho em 12/10/2014 &ndash; Observat&oacute;rio da Imprensa</em></p>

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