Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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02/09/2014 08h55

Lusco Fusco - Invis?veis

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<p> Tomo conhecimento, via televis&atilde;o, sobre o lan&ccedil;amento de uma obra necess&aacute;ria. Invisibles (Invis&iacute;veis), livro do jornalista americano David Zweig, traz &agrave; tona os profissionais que permanecem &agrave; sombra em um mundo cada vez mais exibicionista. Pessoas que s&atilde;o cruciais em suas respectivas &aacute;reas de atua&ccedil;&atilde;o, mas que quase nunca aparecem. O primeiro exemplo dissecado pelo autor &eacute; o anestesista, fundamental em qualquer cirurgia e habitante an&ocirc;nimo da medicina.</p> <p> A sacada do livro &eacute; sensacional. Contrapor a incessante busca por fama e exposi&ccedil;&atilde;o da maioria pela satisfa&ccedil;&atilde;o e completude daqueles que permanecem atr&aacute;s das cortinas do palco da vida. S&atilde;o v&aacute;rios os exemplos da obra. O afinador de instrumentos de uma mundialmente conhecida banda, o projetista do maior arranha-c&eacute;u da China, o int&eacute;rprete que atua nos intranspon&iacute;veis corredores da Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas (ONU). Todos vivem, aos olhos dos comuns, a maldi&ccedil;&atilde;o de mergulharem cada vez mais no anonimato quanto mais perfeitos forem em suas obriga&ccedil;&otilde;es.</p> <p> O trabalho de David Zweig faz pensar. Os personagens que o comp&otilde;em mostram-se satisfeitos. N&atilde;o necessitam de figurar em jornais nem precisam da aprova&ccedil;&atilde;o do grande p&uacute;blico para saber que desempenham de forma brilhante a atividade que escolheram.&nbsp; S&atilde;o contempor&acirc;neos nutridos por almas de eras passadas. Desdenham do show fuleiro que vivenciamos cotidianamente. N&atilde;o se angustiam s&oacute; porque ningu&eacute;m presta aten&ccedil;&atilde;o na compet&ecirc;ncia que desenvolveram.</p> <p> Outro que enveredou, de forma diferente, por esse plano foi Gay Talese, jornalista americano e lenda da profiss&atilde;o. Em &ldquo;Fama e Anonimato&rdquo;, ele apresenta saborosos perfis de celebridades efantasmas. &ldquo;Mas na rua 14 h&aacute; um bilheteiro chamado William DeVillis que se rebela abertamente contra o anonimato. Do lado de fora de sua cabine na Oitava Avenida, ele pregou o cartaz: &lsquo;Por favor, sorria. Este Trabalho j&aacute; &eacute; duro demais&rsquo;&rdquo;.</p> <p> Intriga o fato de o comum dos comuns n&atilde;o conseguir viver sem postar. O vazio &eacute; preenchido por um clique pueril. Curtir, o novo (ou j&aacute; velho?) tapa no ombro. Muitos versaram sobre o tema e n&atilde;o quero cair no terreno da chatice. Cada um que fa&ccedil;a o que bem entender. No entanto, &eacute; imposs&iacute;vel n&atilde;o tecer coment&aacute;rios sobre a insignific&acirc;ncia de quem solicita a algu&eacute;m que &ldquo;curta&rdquo; algo, seja uma ideia idiota, uma foto mal tirada, um programa sem gra&ccedil;a de final de semana. Por favor, olhem aqui, estou fazendo algo, n&atilde;o sou um fracassado que est&aacute; em casa enquanto a vida escorre por entre os dedos. Grande merda!</p> <p> Tenho uma exist&ecirc;ncia rala que ser&aacute; lembrada, quando muito, pelos parentes. E n&atilde;o h&aacute; problema nisso. N&atilde;o assinei documento algum com quem me colocou nesta bolha. N&atilde;o prometi ser nada al&eacute;m de um corpo que respira. N&atilde;o alimento inquietudes por saber que as p&aacute;ginas da hist&oacute;ria n&atilde;o est&atilde;o reservadas para meus feitos. Quais feitos?</p> <p> A paz nutrida pelo viver sem pesares insol&uacute;veis &ndash; quero ser famoso, quero mudar o mundo, quero fazer o que ningu&eacute;m fez &ndash; &eacute; reconfortante como o colo carinhoso.</p> <p> &Eacute; claro que alimentamos sonhos. Mas, os sonhos devem respeitar a pot&ecirc;ncia do sonhador. Essa balela de que basta querer para conseguir &eacute; mais uma das bem boladas senten&ccedil;as pega-trouxa. N&atilde;o h&aacute; como participar de uma corrida de Ferraris dirigindo um Fusca. Significa terminar apenas com um pr&ecirc;mio de consola&ccedil;&atilde;o, uma derrota em dobro. Voc&ecirc; nunca deveria estar ali.</p>

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