16/10/2013 16h00
Lusco Fusco - Cinco Brahmas para Eike Batista
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De saída, pensei em escrever um texto malhando o empreendedor e recém-chegado à Classe C Eike Batista. Já tinha imaginado a história, eu o encontrando em um bar, travando um diálogo ameno, questionando a implosão do seu império, fazendo troça do declínio daquele que um dia ousou afirmar que seria o homem mais rico do mundo.</p>
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Iniciei a confecção do texto. Porém, voltando para casa e preso em um engarrafamento, daqueles gigantes, me dei conta da cagada que estava prestes a cometer. Veio-me a luz da razão: quem sou eu para criticar um homem como Eike Batista?</p>
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Sigamos por partes. Concordo que o dito empresário é um sujeito vaidoso, quem sabe arrogante, e que sempre fez questão de aparecer e gabar-se do espírito selvagem que marcava seus atos. Ousadia, megalomania, inconsequência, tudo batido e misturado formando um shake de novos negócios.</p>
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Em parte, reconheço também que Eike Batista era um vendedor de sonhos, como defendem analistas e palpiteiros nos quatro cantos da imprensa e das conversas fiadas. Os maiores empreendimentos do até então Midas brasileiro não renderam os frutos esperados. Porém, outros tantos caminhavam bem até que o império X fosse alvejado por uma rajada de tiros mortal apontada para sua credibilidade.</p>
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Outra crítica que faço ao nobre ex-bilionário é quanto à dependência de financiamentos governamentais para colocar de pé seus projetos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) despejou bilhões de reais em ideias promissoras, que ainda não tinham confirmado a viabilidade econômica. Lula e Dilma defendiam Eike como se ele fosse o empreendedor do qual o Brasil sempre precisou, com visão sistêmica de desenvolvimento e olhar aguçado para investimentos na infraestrutura brasileira.</p>
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Isso posto, continuo a pensar que não tenho o menor direito de fazer troça do homem. Ora bolas, eu, preso em um engarrafamento no Centro de BH depois de horas de trabalho miúdo, um ser que nunca passará para o outro lado do mundo, aquele dos bem-sucedidos, aclamados e admirados, zoando um dos que nunca tiveram medo de tentar ser o maior? Não tenho esse direito.</p>
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Não penso ser a construção de fortunas a baliza perfeita para analisar qualquer pessoa. No entanto, sempre enxerguei em Eike Batista a coragem. O cabra não media esforços para correr atrás daquilo que ansiava. Altas apostas, grandes riscos, negociações tensas, pressão de todos os cantos, ele passou por tudo. Além disso, foi casado com a Luma de Oliveira, o que, convenhamos, é uma grande tacada na vida de qualquer um.</p>
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Tenho severas críticas, isso sim, à imprensa que incensava o empresário e que hoje se delicia em noticiar, dia a dia, a derrocada de seus negócios. Ora, há um ano Eike Batista era capa de 10 entre 10 revistas semanais, de variedades e de negócios, que exaltavam "o maior empresário do Brasil no novo milênio". Algo está errado.</p>
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A mídia tem culpa no cartório. Um empreendedor depende de credibilidade, e esse bem tão valioso foi conferido a Eike inúmeras vezes por matérias mais que positivas, beirando a babação incondicional de ovo. Chegou-se ao ponto de o empresário ganhar o status de celebridade, em que sua vida pessoal se confundia com os negócios que geria. Eike queria isso, mas entre querer e obter há um oceano de distância.</p>
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Assim, hoje, no mínimo, todos aqueles que arriaram as calças frente ao poder do empresário enquanto ele surfava a crista da onda do sucesso devem se redimir e admitir que não fizeram a leitura correta do cenário. Os nobres editores e repórteres devem assumir que contribuíram para alimentar um falso personagem, devem reconhecer que são uns bundões que se deslumbram ante qualquer brilhareco que lhes ofusque as vistas.</p>
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Tratamos aqui da velha história do chute final no cachorro morto. Você mesmo leitor, quantas vezes já não levantou a bola do nobre Eike Batista? E aquela entrevista ao Jô Soares, no qual o dito soltou a frase até hoje lembrada, "serei o homem mais rico do mundo"? Vai me dizer que você não achou "doidemais"?</p>
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Que fique claro, não faço aqui uma defesa gratuita do amaldiçoado Eike. Apenas não concordo com execrações públicas feitas justamente por quem ajudou a construir o mito. Creio ser algo injusto, covarde.</p>
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Aos que sempre o criticaram, portas abertas para o cacete. Aos que, como eu, achavam interessante a história de um homem que construiu um conglomerado como poucos, mesmo que a estrutura desse castelo viesse a se mostrar de papel, creio estar proibida qualquer malhada.</p>
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De qualquer forma, entendo perfeitamente o movimento. É extremamente comum esse comportamento. Nós achamos o máximo ver alguém se afundar, nós, tão pequenos e medíocres, que nunca faremos nada de importante e marcante nessa vida. Como somos assim, apreciamos a queda do outro, daquele que se arriscou.</p>
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Deixo aqui um recado para Eike Batista: estou disposto a pagar cinco Brahmas em uma mesa de bar para que você conte-me como tudo aconteceu. Deve ser mais interessante do que escutar as piadas sem graça e causos repetidos de desgraçados como eu.</p>
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<em>Contato: thobiasalmeida@gmail.com</em></p>